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Politica Brasil
Quarta - 23 de Agosto de 2006 às 06:54
Por: Kleber Lima

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O marketing eleitoral sempre chama a atenção durante as eleições. Entre os vários temas que podem ser abordados sobre o assunto nas eleições deste ano, destaco dois deles, por sua semelhança: o sumiço do “Campos” na assinatura de Jaime Campos; e o de “Alckmin”, na de Geraldo Alckmin.

Percebe-se pelas duas medidas o dedo dos respectivos marketeiros de ambos os candidatos. O candidato a presidente, ao que parece, tenta parecer mais simples, humilde, palatável aos olhos da massa de eleitores, ao utilizar apenas o Geraldo como sua marca oficial.

A medida é inócua, no entanto, porque Geraldo Alckmin continua falando difícil, utilizando um vocabulário inacessível. Não adianta esconder sobrenome, se sua comunicação continua elitizada. Além do mais, desde três eleições, com a adoção da urna eletrônica, o eleitor vota em números, não em nomes. Logo, preocupação exagerada com nome difícil passa a ser puro exibicionismo de marketeiro, sem qualquer eficácia prática na percepção do candidato pelos eleitores.

Já no caso do candidato a senador, a solução buscada parece pretender resolver uma questão mais complexa, uma vez que Campos é um nome absolutamente simples e compreensível, inclusive para os pouco letrados.

No fundo, a impressão que se tem é que a orientação do marketing foi desassociar o Jaime de um sobrenome que carrega muito simbolismo, nem sempre positivo. Afinal, os Campos estão na política mato-grossense há quase um século, e isso acaba se tornando um vínculo com o passado. Como a leitura apressada das pesquisas qualitativas aponta que o eleitor quer renovação, o marketeiro concluiu que retirar o Campos eliminaria o vínculo de Jaime com o passado.

O problema é que não é tão simples assim reposicionar uma imagem pública. As mudanças precisam corresponder a elementos factíveis, senão viram apenas embromação, artificialismo, factóides, cujos efeitos podem ser exatamente os que se tentou evitar.

Lembro-se de algo muito parecido na eleição de prefeito em Várzea Grande em 2004. Campos Neto, herdeiro dos Campos até no nome que adotou, tentou de todas as maneiras dissociar-se da herança simbólica da família. Deu com os burros n’água, porque não conseguiu deixar de ser Campos, e ainda criou problemas com a família ao renegar seu nome.

O efeito pode se repetir novamente, como farsa ou como tragédia. Ora, Jaime é o Campos mais proeminente desde que Júlio Campos “deixou” a política para ingressar no Tribunal de Contas. Não é possível, nem com mágica, dissociar Jaime desse universo simbólico, porque o eleitor perde a ligação semântica ao pronunciar apenas Jaime. Além do mais, há os que vêem os Campos positivamente, e estes também ficam desorientados quando ouvem apenas o Jaime.

A situação me faz lembrar de uma piada, sobre o cuiabano numa praia do Rio de Janeiro. Depois de pegar uma fila enorme para tomar “caldo de cana”, ele descobre, quando chega sua vez, que tratava-se de algo que ele já conhecia e nem apreciava tanto. Frustrado, sentenciou: “Êá, é garapa dgente!”.

Fica aos marketeiros essa lição básica: garapa vai ser sempre garapa, ainda que queiramos vendê-la como caldo de cana.

(*) KLEBER LIMA é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação da KGM SOLUÇÕES INSTITUCIONAIS. kleberlima@terra.com.br e www.kgmcomunicacao.com.br.





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