Skank lança ‘Carrossel’

O Carrossel’ gira. O Skank continua no mesmo lugar. O nono disco do quarteto mineiro, que chega às lojas nesta quarta-feira, é um mergulho ainda mais fundo nas referências do rock sessentista e setentista que os acompanham há seis anos.

"Somos o que somos", simplifica o tecladista Henrique Portugal, no estúdio do grupo, em Belo Horizonte. E eles assumem, sem vergonha alguma, as intenções pop de sempre. "Gravar um bom disco, tocar no rádio, fazer bons shows em bons lugares", enumera o baterista Haroldo Ferretti.

Ou seja: é o bom e velho ‘ir aonde o povo está’ que seus conterrâneos do Clube da Esquina já pregavam há três décadas. E não é o que todo artista quer? "É essa culpa cristã que rege o Brasil", reclama Lelo Zaneti, o baixista. "As pessoas não assumem seus verdadeiros interesses", diz. "O sucesso não é pecado. Isso é muito tranqüilo para a gente", completa Haroldo.

O sucesso, que os acompanha na forma de hits desde 1993, dessa vez se chama ‘Uma Canção É Pra Isso’, segundo lugar entre as mais tocadas nas rádios de todo o País esta semana.

"Uma canção é pra acender o sol/ No coração da pessoa", diz a letra. Para fazer sucesso, porém, entram outros fatores.

"A gente não cai nesse conto do vigário de que o sucesso se fabrica", diz o cantor e guitarrista Samuel Rosa. Se fosse assim, eles estariam até agora emulando o sucesso de ‘Garota Nacional’, música que puxou os dois milhões de CDs vendidos de ‘O Samba Poconé’, lançado há exatos 10 anos.

Aos poucos, o dancehall mineiro abriu espaço para a psicodelia tranqüila que a banda abraçou em 2000, com ‘Maquinarama’. "Foi natural ter mais guitarras, teclados, violões, e menos programações. ‘Carrossel’ somos nós fazendo algo que tínhamos vontade desde ‘Maquinarama’, mas não sabíamos exatamente como ", diz Haroldo.

Os quatro lembram, em diversos momentos, que nada é assim tão premeditado em sua carreira. "Temos uma aura de ser uma banda organizada, que pensa cada passo", diz Samuel. Isso os incomoda. "Seria excesso de organização se soubéssemos, em 2000, o que estaríamos fazendo em 2006. Não vestimos personagens", completa Henrique.

Em 1992, quando investiram dinheiro do próprio bolso num CD independente, antes do vinil entrar em vias de extinção (no mesmo estúdio em que gravaram ‘Carrossel’, então apenas um quarto nos fundos da casa dos pais de Haroldo), eles tinham uma boa intuição, mas nenhuma certeza. "A gente joga o tempo inteiro com dúvidas", diz Samuel. "Há 10 anos, eu não imaginava que continuaríamos populares hoje. Então, já estamos no lucro."

MÁQUINA

‘Carrossel’ foi gravado de novembro de 2005 a junho deste ano no estúdio Máquina (ex-Ferretti), em BH. Das 15 músicas do disco, produzidas pelo Skank, 11 tiveram co-produção de Chico Neves, e outras quatro de Carlos Eduardo Miranda, o mesmo que os levou a inaugurar o selo Chaos, da Sony, em 1993.

SONS VIAJANTES

A influência de grupos antigos, como Beatles, Beach Boys e The Who, espalham-se pelo disco, em referências explícitas ou nos arranjos. A elas, o grupo acrescentou vibrações de grupos contemporâneos como Flaming Lips, Supergrass ou Super Furry Animals. Todos grupos de som viajante, como o Skank de ‘Carrossel’.

CANDIDATOS A HITS

As guitarras de Samuel nunca estiveram tão saturadas como em ‘O Som da Sua Voz’, e a Jovem Guarda volta em versão surf em ‘Mil Acasos’, dois hits em potencial.

COMPANHEIROS

O velho parceiro Nando Reis colaborou com ‘Eu e a Felicidade’, que abre o disco. O mineiro César Maurício (Radar Tantã, ex-Virna Lisi) contribui com a delicada ‘Seus Passos’, e Arnaldo Antunes com a praieira ‘Trancoso’. Chico Amaral, letrista de fé do Skank, letrou oito das 15 músicas, entre elas a estranha e impactante ‘Garrafas’, do baixista Lelo.

BANJO MINEIRO

Às guitarras, amplificadores e pedais que recheiam o disco, o grupo acrescentou o banjo de Rogério Delayon em algumas faixas, e arranjos de cordas e sopros de Artur Andrès, do grupo instrumental mineiro Uakti.