Na PF, petista acusa indicado de Bezerra de remanejar recursos da Funasa para favorecer prefeituras do PMDB

O ex-coordenador da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em Mato Grosso, Juca Lemos (PT), acusou o atual gestor, Evandro Vitório – indicado pelo ex-senador Carlos Bezerra (PMDB) – de beneficiar prefeituras comandadas por peemedebistas no Estado com mais de R$ 20 milhões direcionados a obras de saneamento básico. Lemos prestou depoimento na última sexta-feira (18) à Polícia Federal.

Segundo Lemos, o PMDB abocanhou pelo menos 44% dos recursos – liberados no início do ano – que teriam sido anteriormente destinados a 24 administrações de todos os partidos, inclusive da oposição e não somente da base de apoio do governo Lula. Ele respondeu pela Funasa entre 2 de maio e 2 de agosto do ano passado, sendo antecedido pelo funcionário de carreira Joci Soares.

Ouvido por carta precatória em Rondonópolis durante três horas, o depoente afirmou ainda que o dinheiro repassado mensalmente pela Secretaria de Assistência à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde, para complementação à saúde indígena teria sido centralizado em Santo Antonio do Leverger, onde estariam as famílias de Evandro Vitório e Valdebran Padilha – dono das construtora Saneng Saneamento e Construção Ltda, filiado ao PT e arrecadador financeiro da campanha do candidato Alexandre César (PT) em 2002.

Lemos disse que se reuniu com Evandro Vitório quando este era funcionário da construtora Saneng para tratar de irregularidades em obras realizadas em aldeias indígenas na região do Xingu. A empreiteira não teria cumprido convênios firmados em 2003 com a Associação de Terras Indígenas do Xingu no valor de R$ 700 mil para poços artesianos. “A construtora recebeu o dinheiro, mas não concluiu o trabalho. Cerca de 70% das obras foi executada”, resumiu, acrescentando que técnicos da própria Funasa detectaram os procedimentos irregulares.

Outra acusação feita à PF é a irregularidade em contratos emergenciais para prestação de serviços da empresa Intertours Viagens e Turismo, que também seria ligada à Padilha. Segundo o petista, a empresa venceu há dois meses uma licitação (pregão eletrônico 24/ 2006) para fornecimento de 15 veículos sem cumprir requisitos do certame. A empresa derrotada – Sul América – apontou irregularidades (frota antiga e pertencente a outro proprietário), mas não teria obtido resposta.

O ex-senador Carlos Bezerra rechaçou as colocações de Juca Lemos. “Evandro Vitório foi indicado pelo PMDB porque é um técnico, além disso, a direção nacional da Funasa decide pela distribuição dos recursos. Essas acusações não têm fundamento e são de gente raivosa e magoada”, sintetizou o cacique peemedebista, negando qualquer ligação com Valdebran Padilha. A reportagem não conseguiu falar com o coordenador da Funasa, que está em Chapada dos Guimarães.

Instaurado em 08 de junho deste ano, o inquérito (423/ 2006) foi remetido à Justiça em 19 de julho para prorrogação do prazo. O atual coordenador da Funasa em Mato Grosso será o próximo a ser ouvido, conforme informou o delegado federal Eduardo Rogério.