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Politica Brasil
Quinta - 17 de Agosto de 2006 às 09:08

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Pela primeira vez em 40 anos, a família Sarney disputa uma eleição no Maranhão tendo contra ela a máquina do governo estadual, a maioria dos prefeitos e da Assembléia. A campanha começou com troca de acusações de corrupção e de desvio de verbas públicas entre o grupo da senadora Roseana Sarney (PFL) e os candidatos apoiados pelo governador José Reinaldo Tavares (PSB).

Cria política do ex-presidente José Sarney, Tavares rompeu com ele em 2004 e apóia três candidaturas adversárias de Roseana: a do ex-presidente do STJ Edson Vidigal (PSB), a de Jackson Lago (PDT) e a de Aderson Lago, do PSDB. A senadora desdenha da aliança: "Quem tem três candidatos não tem nenhum". Com 63% das intenções de voto na pesquisa do Ibope em agosto, venceria a eleição já no primeiro turno.

Mesmo fora do governo, o sobrenome Sarney simboliza o poder no Estado. Deputado federal, quatro vezes senador, governador (1966-71) e presidente, José Sarney foi decisivo na eleição de todos os governadores que o sucederam. Roseana foi governadora de 1995 a 2002.

Ao se aliar a José Reinaldo Tavares, que foi homem de confiança de Sarney por 38 anos, a oposição perdeu a coerência do discurso. Tavares é acusado de usar verbas públicas para favorecer prefeitos aliados e discriminar os adversários. A mesma acusação existe contra a família Sarney em relação aos programas federais.

O candidato do PSDB ao governo, Aderson Lago, diz que continua de oposição, embora seu partido tenha uma secretaria no governo. "Sou oposição ao poder, e o poder no Maranhão tem CPF, endereço e se chama José Sarney", afirma.

Ouvidos pela Folha, o governador e os três principais adversários de Roseana disseram que os Sarney dominam o Tribunal de Contas do Estado, o Tribunal de Justiça, os cargos federais e sobretudo a mídia.

A família Sarney é proprietária da principal rede de TV (TV Mirante, afiliada da Globo), do principal jornal ("O Estado do Maranhão") e da principal rede de rádios, a Mirante. A segunda maior emissora (Difusora, afiliada do SBT) é da família do senador Edison Lobão (PFL), coordenador da campanha de Roseana. A Band local é de outro aliado, o ex-presidente da Assembléia Manoel Ribeiro. Há ainda o jornal "Veja Agora", em São Luís, do cunhado de Roseana, Ricardo Murad.

Segundo o pedetista Jackson Lago, 53 dos 56 cargos federais no Estado foram indicados pelos Sarney. A última indicação foi em junho, com a posse de Gerardo Freitas Fernandes, primo de Manoel Ribeiro, na superintendência regional do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes.

Roseana é acusada de usar o programa Luz Para Todos, do governo federal, para favorecer prefeituras. O programa é administrado pelo Ministério de Minas e Energia, cujo titular, Silas Rondeau, foi indicado por José Sarney. O diretor nacional do Luz para Todos, José Ribamar Santana, é maranhense e indicado por Sarney. O governador registrou denúncia no Ministério Público Federal e se queixou com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Roseana nega interferência no programa, mas diz que ajuda os prefeitos enviando ofícios. "Nesse campo, o governador faz pior", diz ela, referindo-se ao uso de verbas públicas para favorecer aliados. O diretor do Luz Para Todos, José Ribamar, contesta a acusação.

Convênios de Tavares A balança de acusações de uso indevido de recursos públicos é pesada tanto do lado da candidata Roseana, quando do lado do governador. Tavares assinou 1.323 convênios com prefeituras e com associações de diversos municípios para repasses de verbas nos últimos dez dias de junho. Nas cidades em que o prefeito é aliado de Roseana, ele entregou o dinheiro a associações ligadas a políticos de sua base aliada.

Em Mata Roma, a Associação Comunitária Lidia Almeida, ligada ao deputado estadual Paulo Almeida Neto, do partido do governador, recebeu R$ 101,7 mil para construção de abastecimento de água. A Folha conversou com a mãe do deputado, Rosa Almeida, que diz ter deixado a presidência da entidade no início do ano. Indagada sobre detalhes dos convênios, disse: "Num sei, cumade". O governador diz que não houve irregularidade nos convênios.





Fonte: Folha de S. Paulo

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