Arte eletrônica é tema de festival em São Paulo
Pois essa é uma das características mais instigantes de alguns dos trabalhos reunidos no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o File, que ocupa o Centro Cultural Fiesp a partir de hoje (para convidados e amanhã para o público). Como nas anteriores, a sétima edição do evento traz uma profusão de produções, com mais de 200 artistas mostrando criações em diversas áreas da arte digital, entre elas, net art, animações, games, filmes interativos e robótica, além de performances realizadas no File Hipersônica.
Disso tudo, destacam-se as instalações, com 20 trabalhos de artistas como o catalão Marcel.lí Antúnez Roca, um dos fundadores do grupo espanhol La Fura dels Baus. Roca, que vem pela primeira vez ao país, utiliza recursos da robótica e da mecatrônica para criar obras como "Tantal Mechanism of Ephemeral Identities", que está exposta no File, e performances, como a que ele realiza nesta quarta, no teatro do Sesi.
Em "Tantal", Roca desenvolveu um dispositivo que capta uma seqüência do rosto do público e o transporta para uma animação, transformando-o em ator de um filme virtual.
A artista russa Alexandra Dementieva também insere o espectador num filme, que pode manipular os personagens pisando em tapetes interativos.
"Neste ano, as instalações estão mais sofisticadas e complexas, com pesquisas mais elaboradas no que diz respeito à estética e à programação", diz Paula Perissinoto, organizadora do evento ao lado do artista e pesquisador Ricardo Barreto.
Perissinoto destaca a "relação entre o virtual e o real" realizada pelo grupo francês Eletronic Shadow, que também está no Brasil. Eles participam do evento com a instalação "H2O", um ambiente imersivo e interativo que se passa dentro de uma piscina onde circulam as silhuetas de um homem e uma mulher. Como no trabalho de Dementieva, o público altera o ciclo dos dois personagens andando sobre um tapete.
"Nessa área, há momentos em que os artistas se perdem na pirotecnia tecnológica. Às vezes, dá certo juntar a pesquisa estética e a tecnológica, neste ano, isso está mais amarrado", diz Perissinoto.
Mágica
Uma das pirotecnias que deve encantar o público, principalmente as crianças, será a do americano Zachary Lieberman na instalação "Drawn", trabalho que foi premiado neste ano pelo museu austríaco Ars Electronica, um dos principais centros de novas mídias no mundo.
Seu trabalho é também uma performance, e só existe com a participação das pessoas, que dão vida à tinta colocada em um papel. "Você pode pintar algo e isso sai da página e responde ao movimento de suas mãos", explica Lieberman, 29. "É como uma mágica: você está pintando e a pintura cria vida."
Essa brincadeira, que é possível graças a um software desenvolvido pelo próprio artista, é resultado de uma pesquisa sobre como representar trabalhos artísticos do passado com os recursos tecnológicos de hoje. "Drawn", por exemplo, é inspirado nas primeiras animações realizadas no início do século 20, sobre como fazer os desenhos ganharem vida", diz Lieberman. "Meu interesse era observar os primórdios do cinema e como as obras podem se relacionar com isso."
Lieberman, que está na cidade, fará a performance hoje, na abertura. Por coincidência, outra instalação perfomática de sua autoria está em cartaz em SP, o trabalho "Messa di Voce", em parceria com o também americano Golan Levin, está em exposição no Itaú Cultural.
Mudanças Nesta edição foi alterada a programação das performances multimídia do File Hipersônica, que acontecem somente no teatro do Sesi --em 2005, ocorreu na Casa das Caldeiras.
"Tentamos romper com o espírito de festa", afirma Perissinoto. "Queremos trazer as pessoas para se concentrar nas apresentações." Outra novidade é a mostra audiovisual File-CD [Cinema Documenta].
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