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Politica Brasil
Segunda - 31 de Julho de 2006 às 10:25

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Embalados pela operação tapa-buracos nas estradas e pela polêmica compra de um Airbus presidencial, investimentos na manutenção de rodovias federais e no reaparelhamento da Força Aérea consumiram mais dinheiro arrecadado com tributos no governo Lula do que investimentos em saneamento ou na rede de saúde.

A Folha analisou o pagamento de obras e compras de equipamentos no período de pouco mais de três anos e meio, entre a posse de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto e a última quinta-feira, 27 de julho.

A manutenção de rodovias foi o programa que consumiu o maior volume de dinheiro arrecadado pela União e destinado a investimentos. De acordo com o Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais), foram pagos R$ 3,4 bilhões nesse programa.

No mesmo período de pouco mais de três anos e meio, a União investiu R$ 1,6 bilhão na compra e reforma de aviões. Desse pacote, fazem parte o Airbus em que Luiz Inácio Lula da Silva viaja e 90 caças SuperTucano encomendados à Embraer para vigiar as fronteiras e eventualmente abater aeronaves que não se identificam. O AeroLula custou US$ 56,7 milhões --R$ 125 milhões pelo câmbio de hoje ou quase R$ 170 milhões, pela cotação do dólar à época.

O Ministério dos Transportes contabiliza os resultados dos investimentos nas rodovias: 9.100 quilômetros de estradas recuperadas, outros 37 mil conservados e mais 15 mil quilômetros sinalizados.

"Temos convicção de que a situação melhorou, mas não posso dizer com precisão o atual estado das estradas", disse o ministro Paulo Sérgio Passos. O ministério vai contratar empresa para avaliar as estradas até o final do ano.

O ministro Waldir Pires (Defesa) defendeu os investimentos feitos na Força Aérea, segundo ele "terrivelmente sucateada": "Se pudéssemos, os investimentos seriam maiores".

Disputa

Ministérios e seus programas disputam a cada ano a fatia de despesas do Orçamento mais pressionada pelos cortes de gastos. Nos três primeiros anos de governo, só 47% das despesas autorizadas por lei com obras e compra de equipamentos saíram do papel.

Análise feita com o apoio da ONG Contas Abertas mostra que a pasta dos Transportes ganhou a disputa pelo dinheiro escasso dos investimentos, seguido pela Defesa. Transportes investiu mais do que as pastas da Saúde e da Educação juntas.

A Folha somou os investimentos feitos por três programas da Saúde, que tratam da construção e ampliação de postos de saúde e hospitais, além da compra de equipamentos e de ambulâncias. O resultado foi inferior aos investimentos feitos em aeronaves (R$ 1,2 bilhão contra R$ 1,6 bilhão).

Na área de saneamento básico, foram somados os investimentos em saneamentos urbano e rural. O resultado (R$ 1,1 bilhão) ficou aquém do valor investido pela Aeronáutica.

Verba insuficiente

Apesar de liderarem o ranking dos projetos que mais receberam dinheiro público, os investimentos na manutenção de rodovias e no reaparelhamento da Força Aérea também ficaram aquém da verba que foi autorizada por lei e das necessidades apontadas pelas pastas.

No caso das estradas, o corte superou a metade das despesas autorizadas. O ministério deu prioridade às principais vias de escoamento de produtos agrícolas e de maior concentração de tráfego. Uma única empreiteira, a Delta Construções, do Rio, levou quase 20% dos pagamentos. A recuperação emergencial do asfalto --uma das modalidades do programa-- beirava os 21 mil quilômetros de rodovias no início do mês.

Por um orçamento próximo ao preço pago pelo AeroLula, a Aeronáutica comprou há um ano do governo francês 12 caças usados Mirage 2000-C para substituir os caducos Mirage III, numa alternativa ao projeto F-X, que previa a compra de supersônicos novos por meio de concorrência internacional.

No programa de reaparelhamento da Força Aérea, o maior gasto foi na compra de 99 caças A-29, os SuperTucano, para vigiar o espaço aéreo e interceptar aeronaves. No contrato com a Embraer, já foram gastos R$ 625 milhões, de acordo com o Comando da Aeronáutica.

Consideradas despesas com pessoal, manutenção da máquina pública e pagamento de benefícios, o maior gasto é do Ministério da Previdência, seguido pelos ministérios da Saúde, Defesa e Educação.

Uma medida de comparação: o programa Bolsa-Família, de transferência de renda a famílias pobres, desembolsou entre 2003 e 2005 o equivalente a mais de 60% dos recursos destinados nesse período às despesas classificadas legalmente como investimentos.





Fonte: Folha Online

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