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Politica Brasil
Terça - 25 de Julho de 2006 às 09:08
Por: Onofre Ribeiro

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Ontem pela manhã recebi o seguinte e-mail do amigo Francisco Faiad, presidente da OAB-Mato Grosso: “Nasci no dia 07 de fevereiro de 1964, portanto, não vivi o golpe de 01.04.64. Mas, pelo que li a respeito, vejo que a situação do País na época não era muito diferente do que estamos vivendo hoje, salvo engano. Instituições desgastadas e desmoralizadas. Homens públicos sem a mínima confiança da população. Nem o Judiciário escapa, sendo pior que o Executivo, segundo pesquisa da OAB Nacional. O País em convulsão social... sei lá... um clima pesado política e economicamente. Ninguém sabe como será o dia de amanhã... Você viveu 64 ? O que você acha ?”.

De fato, vivi 1964 em Brasília, cursando o segundo ano do segundo grau. Depois, já em 1965, estava na Universidade de Brasília cursando Jornalismo, onde o regime militar pôs a sua mão de ferro. Responder a Faiad, teria que definir a revolução de 1964. Tomei emprestado do escritor Elio Gaspari, em “A Ditadura Envergonhada”: O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma idéia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra a corrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimi-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, não a construir algo novo, e isso não é revolução".

No Brasil, o golpe de 1964, e a conseqüente tomada do poder pelos militares, contou com o apoio de grande parte da classe média brasileira, que temerosa das medidas reformistas de Jango, acreditava que haveria um golpe comunista. O golpe não foi algo repentino, ele foi amadurecendo aos poucos. Embora o motivo alegado era o comunismo. O contexto porém era bem mais complexo; a estatização promovida por Jango, as visões conflitantes entre a política e a economia, de ambas correntes de pensamento, direita e esquerda vinham se contrapondo desde o início do século XX.

O presidente João Goulart assumira após a renúncia de Jânio Quadros, sob contestação militar por conta de sua origem populista, herdeiro de Getúlio Vargas e pregador das chamadas reformas de base, como a agrária, a urbana, da educação, do voto do analfabeto e dos praças e sargentos militares, restrições às empresas brasileiras, restrições às remessas dos lucros para o exterior. As reformas mexiam com interesses de grupos poderosos que acabaram se organizando, cooptando a classe média e por fim, as forças armadas que tinham uma forte tradição conspiratória histórica. Ele esperava que o Estado fosse o intermediário de um acordo nacional entre os militares, os intelectuais nacionalistas, a burguesia industrial nacionalista e os sindicatos.

Porém, a pergunta de Faiad é sobre as semelhanças entre as duas épocas. É, de fato, grande. Mas o ponto comum entre 1964 e hoje, é justamente o Estado corrupto, mandão, autoritário, sem controle social, com todos os mecanismos que distorcem a realidade e sociedade a seu favor.

Mas os ingredientes de 1964 e os de hoje são muito diferentes. Não comportaria um golpe de Estado. Não haveria quem o conduzisse. Hoje está mais claro que o único elemento capaz de pôr ordem na casa seria a sociedade. Mas isso,é coisa pra muita confusão ainda.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br





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