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Esportes
Terça - 25 de Julho de 2006 às 08:42
Por: Isaac Bigio

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Desde que foi disputado em 1930 o primeiro dos 18 mundiais de futebol, todos foram realizados em países governados por homens.

A alemã Angela Merkel é a primeira mulher que governa uma nação sede de um mundial. A crescente participação da mulher na sociedade tem gerado competições mundiais de futebol feminino.

Todos os mundiais foram disputados em países que sempre foram capitalistas. O mundial de 2006 foi o primeiro disputado em um país cuja parte oriental recentemente abandonou o socialismo.

A primeira vez que os soviéticos disputaram um mundial foi em 1954, o ano da morte de Stalin. Os tchecos e os húngaros já foram vice-campeões (uma vez como países ‘capitalistas’ e outra como ‘socialistas’), em geral, nenhuma nação que alguma vez passou pelo regime ‘socialista’ sediou um mundial. Acrescente-se que, um terço da humanidade tem vivido sob os domínios de partidos comunistas. No mundial de 2002, a Coréia do Sul foi co-anfitriã, porém não o dividiu com sua metade do norte (a Coréia do Norte sequer disputou tal competição, contudo, legou a maior estrela do futebol asiático), mas sim com seu ex-inimigo, o Japão. Leipzig é a única cidade ex-socialista onde foi disputado um mundial, contudo, ali houveram cinco encontros e nenhum de grande importância.

O futebol vem se convertendo no esporte da globalização. Esta é uma disciplina que deve mexer com todos os países que desejam manter seu perfil associado a um evento tão político como é a Copa do Mundo. Por isso, os EUA, Austrália, Coréia do Sul e Japão, países onde os principais jogos utilizam bolas ovaladas, investiram muito em suas equipes de ‘soccer’. Os países ligados ao fundamentalismo islâmico (Arábia Saudita dos sunitas e o Irã dos xiítas) também buscam demonstrar sua influência ao participar dos mundiais.

Para os países africanos uma boa ‘performance’ nos mundiais ajuda a melhorar a imagem internacional (atraindo capital e turistas), além de permitir que exportem seus jogadores, que reenviarão divisas às suas respectivas nações.

Outro aspecto da globalização é a influência que uma serie de multinacionais busca implantar-se em cada rincão do planeta. Em todas as partidas podia-se ver estampadas as logomarcas do McDonald’s, Yahoo e outras grandes empresas. Os jogadores não somente vestiam suas camisetas nacionais, como levavam nelas os símbolos de alguma empresa esportiva. A Coca Cola foi a mais auspiciosa no ranking mundial da Fifa e a Adidas colocou seu nome no troféu de ouro do “melhor jogador do mundo”. A Copa Libertadores da América também tem patrocínio da Toyota. Alguns consórcios desejam incluir seus nomes nos mundiais futuros ou junto às seleções nacionais que participam destes. O futebol está a se mercantilizar e a refletir uma sociedade cada vez mais dominada pelo mercado global.

Sediar um mundial de futebol é algo que adquire grande importância geopolítica. O Japão (sede da Copa 2002), Alemanha (sede em 2006), África do Sul (sede em 2010) e o Brasil (possível sede do mundial de 2014) são quatro dos cinco países que aspiram a ter uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Quando a Argentina venceu em casa o mundial de 1978 e a Itália venceu em 1934 e 1938, tais vitórias ajudaram a consolidar as ditaduras que governavam ambas repúblicas.

Beijing será em dois anos a sede dos Jogos Olímpicos. Esta será a segunda vez que um país ‘socialista’ poderá vislumbrar uma olimpíada (Enquanto os EUA já foi sede por oito vezes). A república ‘socialista’ que sediou as olimpíadas anteriormente foi Moscou, em 1980 - quando muitos países a boicotaram.

Quando um país de economia planificada torna-se a capital de um dos maiores eventos desportivos do planeta, isso pode ser algo nem sempre bem visto por uma serie de países anticomunistas e, especialmente, por intervencionistas. Assim, a China de hoje é distinta àquela de Mao, pois dá mostra de como um partido comunista pode impulsionar uma nova economia de mercado e ir se convertendo na segunda economia planetária.

Este mundial de 2006 foi o primeiro em que os cinco continentes estiveram nas oitavas de final. Também foi o único em que os quatro semifinalistas pertencem a um mesmo bloco (a União Européia) e usam a mesma moeda (o euro).

* Isaac Bigio é o analista político latino-americano mais citado na Internet. Seu site é www.bigio.org.





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