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Internacional
Sexta - 21 de Julho de 2006 às 09:15

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Como firme sustento do Hisbolá, a Síria é um dos protagonistas do conflito entre a milícia xiita libanesa e Israel, mas até agora Damasco tem se mantido até certo ponto "invisível" na crise. A diplomacia internacional tem feito intensos esforços para obter um cessar-fogo, ou pelo menos aliviar a situação dos civis, mas a capital síria tem estado fora de suas rotas.

O Alto Representante da União Européia para a Política Externa, Javier Solana, viajou em uma semana a Beirute, Israel, territórios palestinos e inclusive Egito, mas não foi a Damasco, apesar de, segundo disse em entrevista coletiva no Cairo, estar conversando por telefone com as autoridades sírias.

Também não foi à Síria a delegação de três diplomatas das Nações Unidas nomeada pelo secretário-geral Kofi Annan e que viajou ao Líbano e a Israel.

A França enviou seu ministro de Exteriores, Philippe Douste-Blazy, a Líbano, Chipre, Jordânia, Israel e Egito, também sem passar por Damasco.

Apenas um emissário russo, o vice-ministro de Exteriores Aleksander Sultanov, rompeu o bloqueio informal e conversou em Damasco com o presidente Bashar al-Assad, para renovar seu pedido de uma trégua nos combates.

Porém, o mais chamativo é que nenhum líder ou emissário árabe passou por Damasco durante toda uma semana.

"Temos influência regional, temos influência em muitos assuntos, mas o problema é que ninguém nos procura (...). O maior problema é que os Estados Unidos estão impedindo os outros entrar em contato conosco", disse recentemente o vice-ministro de Exteriores, Faisal Miqdad.

A influência mundial dos EUA parece realmente ter marginalizado a Síria na política internacional dos últimos tempos, junto a seu aliado Irã.

Assim, o país começa a ganhar as "credenciais" de membro do "eixo do mal". A expressão foi cunhada em 2002 pelo presidente americano, George W. Bush, para designar o Iraque de Saddam Hussein, o Irã e a Coréia do Norte. Atualmente, o "eixo do mal" do mundo islâmico seria formado por, além do regime dos aiatolás, Síria, o movimento radical palestino Hamas e o grupo xiita libanês Hisbolá.

É difícil saber até onde chega a aliança entre a Síria e o Hisbolá, e até que ponto esta é sólida ou conjuntural. Por enquanto, a primeira reação do Governo sírio perante a ofensiva israelense foi declarar seu "apoio total" à resistência libanesa, também sem dizer até onde pode chegar o respaldo.

A Síria negou oficialmente que esteja armando o Hisbolá, nem diretamente nem servindo como intermediário para o Irã. O líder da milícia xiita, Hassan Nasrallah, também rechaça essa idéia, e garante que seus homens conseguiram desenvolver seu próprio arsenal de armas, assim como os palestinos.

A questão não é tanto se Bashar al-Assad tem capacidade para obrigar o Hisbolá a atacar Israel ou deixar de fazê-lo, mas se a aliança - seja ela como for - entre Síria e Hisbolá é ou não resultado da política dos últimos anos na região, como aponta a opinião generalizada dos observadores políticos da situação no Oriente Médio.

A Síria nunca ocultou sua intenção de ter influência no Líbano e controlar o pequeno país vizinho.

Entretanto, após a saída das tropas sírias, no ano passado, em meio a grande pressão da comunidade internacional e de boa parte da opinião pública libanesa, Damasco precisa de um aliado no Líbano que lhe permita continuar dando as cartas da política em Beirute.

Esse papel é perfeitamente assumido pelo Hisbolá, apesar de seu caráter confessional e de a Síria ser o último bastião do laicismo árabe.

Isso porque o grupo radical xiita continua mantendo uma retórica antiisraelense em nome da nação árabe que vai totalmente ao encontro da linha de Damasco.

Além disso, o Hisbolá é, de certa forma, a última opção que resta a Damasco em um entorno marcado pela crescente hostilidade: no oeste, Israel; no leste, um Governo iraquiano considerado em grande medida marionete dos Estados Unidos, e ao sudoeste, um Líbano cada vez mais distante.

Isso sem contar Egito e Jordânia, que têm relações diplomáticas com Israel e se afastam cada vez mais de Damasco.

Resta, é claro, a aliança estratégica com a República Islâmica do Irã - outro paradoxo para a laica Síria. Teerã, entretanto, está no olho do furacão e cada vez mais sob pressão ocidental devido a suas ambições nucleares, o que torna outros respaldos ainda mais necessários para a Síria.

Segundo diversos analistas, se o Hisbolá conseguir que Israel termine sua ofensiva sem desarmar seus milicianos, ou sem recuperar os dois soldados seqüestrados, ou ainda se obrigar o Estado judeu a negociar a troca de presos, a milícia xiita poderá se apresentar como vitoriosa, por mais que a "vitória" tenha arruinado um país inteiro.

Se isso acontecer, apontam os analistas, a reputação do Hisbolá no Oriente Médio crescerá como "o campeão dos árabes frente a Israel", em um momento em que o mundo árabe vem sofrendo uma derrota atrás da outra.

A Síria poderia então dizer que esteve ao lado dos "campeões".





Fonte: EFE

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