Longa "Cidade dos Homens" encerra vida de Acerola e Laranjinha
O longa está sendo rodado no Rio, com direção de Paulo Morelli, que assina o roteiro com Elena Soarez ("Eu, Tu, Eles").
"O primeiro dia do filme é o aniversário de 18 anos do Acerola [Silva]; e o último, o aniversário de 18 anos do Laranjinha [Cunha]", conta Morelli.
Entre uma data e outra, desenvolvem-se os três temas da trama, "a maturidade, a amizade e a paternidade", segundo o diretor. Mais precisamente: "Acerola tem um filho, e Laranjinha vai encontrar o próprio pai. Em suma, é um filme sobre o nascimento de um pai".
Enquanto o diretor conversa com a Folha, no intervalo de almoço das gravações, no morro do Chapéu Mangueira, Silva se aproxima para um diálogo sem palavras com o diretor. Ele indica com a cabeça dois rapazes que traz ao seu lado. Morelli pede que tirem as camisas. "Você também, Douglas." O diretor aponta o garoto cujo torso é quase idêntico ao de Silva: "É ele". Os três se afastam.
O escolhido será dublê de Silva numa cena do filme de que ele prefere não participar. As razões do ator ficam entre ele e o diretor. Morelli trabalha com Silva e Cunha desde 2003, quando o sucesso do filme "Cidade de Deus" (de Fernando Meirelles, sócio de Morelli na produtora O2) levou à TV a série "Cidade dos Homens".
Produzido pela O2, o programa era estrelado por Laranjinha e Acerola, que haviam debutado no curta-metragem "Palace 2" (2002), experimento para "Cidade de Deus".
"Estão cada vez mais profissionais", diz Morelli, que aposta numa promissora carreira para os atores, mesmo longe dos personagens que os notabilizaram. "Eles ficam um pouco inseguros quanto a isso, mas são muito bons, talentosíssimos. Vão continuar sendo convidados para cinema e TV."
Profissionalismo à parte, Morelli revela que os atores "passaram por momentos muito emocionais" nos ensaios do filme. "Nenhum dos dois conhece o pai. A paternidade é um problema seriíssimo aqui."
Indissociável da vida nos morros, "a guerra do tráfico é o terceiro personagem" de "Cidade dos Homens". Nas filmagens que a Folha acompanhou, na semana passada, a casa da avó de Acerola é incendiada por um bando ligado ao tráfico, episódio que concretiza a expulsão dos garotos do morro.
Autor de "Viva Voz" e "O Preço da Paz", Morelli diz haver "herdado a conclusão dessa história que Fernando [Meirelles] começou com "Cidade de Deus'". Mas afirma que, "apesar da expectativa que existe, "Cidade dos Homens" não quer nem vai repetir "Cidade de Deus'" na abordagem das drogas e da violência urbana.
A participação do tráfico no novo filme, afirma o diretor, é lateral, mas não poderia deixar de existir, por fidelidade ao ambiente em que vivem os personagens. "Na comunidade fala-se também de futebol e de mulher, mas é inegável que a violência é o grande tema."
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