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Joca Reiners Terron vai lançar livro na Literamérica 2006
O escritor cuiabano Joca Reiners Terron está radicado em São Paulo há muitos anos, mas sempre cultiva as lembranças de sua terra natal. Vai voltar por aqui na segunda edição da Literamérica e de quebra ainda vai lançar livro novo. Apontado como uma das gratas revelações da literatura brasileira recente, Terron tem atuação diversa na cadeia produtiva do livro. É um escritor muito atuante, daqueles que não se contenta em materializar apenas a sua própria criação, mas, costuma compartilhar seu espaço e sua visibilidade com outros colegas escritores. Em seu blog http://hellhotel.blogger.com.br/ os interessados podem conhecer um pouco do potencial de Terron, que estará lançando nova obra por aqui em setembro.
Na entrevista abaixo você vai ficar sabendo o que esse cuiabano desgarrado pretende aprontar aqui em seu torrão natal a partir de setembro quando estará participando da Literamérica. Ele fala também sobre muitos outros assuntos, alguns comuns em entrevistas com escritores, outros nem tanto. Confira!!!
Joca Reiners Terron, um cuiabano distante, estará na Literamérica 2006. Quais são os planos desse ‘filho pródigo’ para a Feira Sul-Americana do Livro que vai acontecer no coração deste nosso continente? Bem, certamente haverá o inevitável, rever parentes, pedir a bênção ao meu avô e aos meus tios, esse tipo de coisa. Mas também desejo me inteirar mais da produção cultural cuiabana e, se possível, conhecer pessoalmente Ricardo Guilherme Dicke. Ah, e claro, comer muito peixe à cuiabana e conversar com as pessoas. Mas que ninguém se preocupe, pois sou educado e não costumo falar com a boca cheia.
Drumond, mineiro de Itabira, versejou que sua cidade natal seria apenas um ‘quadro pendurado na parede’. Isso tem um sentido muito mais poético do que literal, provavelmente. O que seria Cuiabá para mister Terron, segundo a imaginação fantasiosa que os escritores costumam ter? Apesar de não frequentar mais a cidade com a regularidade do passado (até o final da adolescência eu costumava ir a Cuiabá ao menos uma vez por ano), em minha memória ela tem uma presença mítica, com os deuses e os diabos e todas as parábolas decorrentes destas fantasias pessoais. E a lembrança se estende para várias outras cidades do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul onde morei. Por outro lado, não posso esquecer que minha mãe também é cuiabana (de Santo Antônio de Leverger, na verdade, mas foi criada em Cuiabá). De certa forma minha mãe é a Cuiabá particular que me acompanhou por toda a vida e ainda acompanha.
Você já viu entrevista com escritores sem clichês? Lá vai... Quais as motivações te levaram e o mantêm na atividade literária? Como a maior parte das pessoas que escrevem, eu permaneço na literatura porque não tenho saída. Sou um leitor contumaz e os livros têm presença em minha vida desde que me conheço por gente, então nunca tive escapatória a não ser ler e me expressar através da escrita. Com o tempo, observar as coisas do mundo e transformá-las através da literatura se torna um ato reflexo, parecido com uma cotovelada.
Prosa e poesia surgem na sua criação literária. Parece que na hora H o seu lado prosador se materializa mais, já que pelo menos é mais publicado. É isso mesmo? Fale-nos sobre como é acometido pela inspiração nessas duas praias distintas, ou será que elas não são tão distintas assim como chega a sugerir o Nelson de Oliveira? No que se refere ao meu trabalho, a diferença é apenas o tempo levado para empreender a composição de cada um dos gêneros. Um poema pode falar de sentimentos complexos de maneira muito urgente, assim como uma novela pode contar uma história simples se utilizando de recursos bastante complicados, e isto leva tempo para realizar. E é natural que o prosador apareça mais, afinal é a parte de minha atividade que tem algum aspecto mínimo de ganha-pão, com as colaborações para jornais e revistas, e isto lhe garante maior visibilidade. No entanto, ao menos em meu caso, a prosa e a poesia são irmãs siamesas.
Seu nome é muito associado, rotulado mesmo, ao do escritor que surgiu com a internet a tiracolo. Isso está certo, errado, ou nenhuma das alternativas? Errado totalmente não está, o que posso fazer? Sou um escritor de meu tempo (blogueiro, minimalista, fragmentário e com o mau cheiro das grandes cidades, embora ainda tenha os pés sujos de lama). Espero que um dia me perdoem por isto, assim como perdoaram os escritores contemporâneos de Gutenberg, por exemplo.
Música, desenho, programação visual e traduções (em quantas línguas?) constam no seu histórico, de acordo com uma arapongagem que fiz na web. Imagino que essa bagagem cultural esteja presente no seu verbo, de uma forma ou de outra. Suponho que sim. Projetos gráficos ainda são a parte principal de minha atuação e é como me enxergo profissionalmente, como designer gráfico. Já a tradução (do inglês e do espanhol) sempre foi atividade diletantesca, sem outro compromisso a não ser com minhas pesquisas pessoais de leitor. Só recentemente fui convidado a traduzir um romance, e é uma das coisas que estou fazendo por ora.
Fale um pouquinho sobre a Ciência do Acidente, sua editora, e o Hotel Hell, seu blog. Está na hora do seu comercial. Ah, acho que meus dias como editor da Ciência do Acidente já eram. A editora entrou num infindável descanso por minha falta de grana e de saco. Vários problemas contribuíram para isto, mas principalmente me desiludi muito com alguns livros e com o caráter de um ou outro autor. Por outro lado acho que meu pequeno papel nessa historinha de renovação recente dos autores brasileiros já foi cumprido. As editoras grandes é que tratem de publicar os novos. Aliás, é exatamente isto o que elas estão fazendo, já que não são bobas nem nada.
Você esteve num evento literário em Buenos Aires recentemente. O que a gente sempre ouve dizer é que os argentinos são muito mais interessados em literatura do que os brasileiros. Você poderia destacar alguma coisa mais interessante que viu por lá e que possa ser associada como diferencial entre a arte literária nossa e a deles? E são mesmo. É que eles foram alfabetizados e nós não, né? Parabéns para nós, pelas décadas de absoluto descaso por parte do Estado para com a educação básica dos cidadãos. E não me venham falar que é culpa da ditadura e não sei que, pois lá se vão 22 anos de governo democrático e a coisa ainda não alçou do plano dos palanques para as salas de aula. Eu só quero ver o que vai acontecer quando a horda dos sem-educação bater na porta de quem de direito. Será que vai ser fácil o diálogo com as pessoas sem voz?
Quanto à Argentina eles só exercem o que a literatura propõe, que é a busca da felicidade plena do leitor e do escritor obtida através da leitura. Não há felicidade plena se não houver livros no meio. A vida sem livros, filmes e música pode ser boa, mas certamente deve ser muito sem graça. E acho que foi justamente um grande escritor argentino quem disse algo muito parecido.
Está no forno um próximo livro seu que tem Cuiabá como tema central. O que é que você pode nos adiantar a respeito dessa obra quem vem por aí? Ah, não posso dizer muito a não ser que será uma história repleta de bugres, nazistas, clones e morcegos que atravessam paredes. O livro deve ser publicado no começo de 2007 pela editora Jaboticaba. Esperem e lerão.
Última pergunta e essa é de amargar. Vamos supor que você está num programa televisivo tipo Raul Gil e tivesse que ‘tirar o chapéu’ para estes ou aqueles escritores que poderiam estar na sua mesa de cabeceira... Como é que seria isso? Haja braço! Desta vez saudarei escritores que são personagens de meu livro “Sonho Interrompido por Guilhotina” (Casa da Palavra, RJ), que será lançado agora em setembro de 2006. E viva Valêncio Xavier, Raduan Nassar e Glauco Mattoso!
Na entrevista abaixo você vai ficar sabendo o que esse cuiabano desgarrado pretende aprontar aqui em seu torrão natal a partir de setembro quando estará participando da Literamérica. Ele fala também sobre muitos outros assuntos, alguns comuns em entrevistas com escritores, outros nem tanto. Confira!!!
Joca Reiners Terron, um cuiabano distante, estará na Literamérica 2006. Quais são os planos desse ‘filho pródigo’ para a Feira Sul-Americana do Livro que vai acontecer no coração deste nosso continente? Bem, certamente haverá o inevitável, rever parentes, pedir a bênção ao meu avô e aos meus tios, esse tipo de coisa. Mas também desejo me inteirar mais da produção cultural cuiabana e, se possível, conhecer pessoalmente Ricardo Guilherme Dicke. Ah, e claro, comer muito peixe à cuiabana e conversar com as pessoas. Mas que ninguém se preocupe, pois sou educado e não costumo falar com a boca cheia.
Drumond, mineiro de Itabira, versejou que sua cidade natal seria apenas um ‘quadro pendurado na parede’. Isso tem um sentido muito mais poético do que literal, provavelmente. O que seria Cuiabá para mister Terron, segundo a imaginação fantasiosa que os escritores costumam ter? Apesar de não frequentar mais a cidade com a regularidade do passado (até o final da adolescência eu costumava ir a Cuiabá ao menos uma vez por ano), em minha memória ela tem uma presença mítica, com os deuses e os diabos e todas as parábolas decorrentes destas fantasias pessoais. E a lembrança se estende para várias outras cidades do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul onde morei. Por outro lado, não posso esquecer que minha mãe também é cuiabana (de Santo Antônio de Leverger, na verdade, mas foi criada em Cuiabá). De certa forma minha mãe é a Cuiabá particular que me acompanhou por toda a vida e ainda acompanha.
Você já viu entrevista com escritores sem clichês? Lá vai... Quais as motivações te levaram e o mantêm na atividade literária? Como a maior parte das pessoas que escrevem, eu permaneço na literatura porque não tenho saída. Sou um leitor contumaz e os livros têm presença em minha vida desde que me conheço por gente, então nunca tive escapatória a não ser ler e me expressar através da escrita. Com o tempo, observar as coisas do mundo e transformá-las através da literatura se torna um ato reflexo, parecido com uma cotovelada.
Prosa e poesia surgem na sua criação literária. Parece que na hora H o seu lado prosador se materializa mais, já que pelo menos é mais publicado. É isso mesmo? Fale-nos sobre como é acometido pela inspiração nessas duas praias distintas, ou será que elas não são tão distintas assim como chega a sugerir o Nelson de Oliveira? No que se refere ao meu trabalho, a diferença é apenas o tempo levado para empreender a composição de cada um dos gêneros. Um poema pode falar de sentimentos complexos de maneira muito urgente, assim como uma novela pode contar uma história simples se utilizando de recursos bastante complicados, e isto leva tempo para realizar. E é natural que o prosador apareça mais, afinal é a parte de minha atividade que tem algum aspecto mínimo de ganha-pão, com as colaborações para jornais e revistas, e isto lhe garante maior visibilidade. No entanto, ao menos em meu caso, a prosa e a poesia são irmãs siamesas.
Seu nome é muito associado, rotulado mesmo, ao do escritor que surgiu com a internet a tiracolo. Isso está certo, errado, ou nenhuma das alternativas? Errado totalmente não está, o que posso fazer? Sou um escritor de meu tempo (blogueiro, minimalista, fragmentário e com o mau cheiro das grandes cidades, embora ainda tenha os pés sujos de lama). Espero que um dia me perdoem por isto, assim como perdoaram os escritores contemporâneos de Gutenberg, por exemplo.
Música, desenho, programação visual e traduções (em quantas línguas?) constam no seu histórico, de acordo com uma arapongagem que fiz na web. Imagino que essa bagagem cultural esteja presente no seu verbo, de uma forma ou de outra. Suponho que sim. Projetos gráficos ainda são a parte principal de minha atuação e é como me enxergo profissionalmente, como designer gráfico. Já a tradução (do inglês e do espanhol) sempre foi atividade diletantesca, sem outro compromisso a não ser com minhas pesquisas pessoais de leitor. Só recentemente fui convidado a traduzir um romance, e é uma das coisas que estou fazendo por ora.
Fale um pouquinho sobre a Ciência do Acidente, sua editora, e o Hotel Hell, seu blog. Está na hora do seu comercial. Ah, acho que meus dias como editor da Ciência do Acidente já eram. A editora entrou num infindável descanso por minha falta de grana e de saco. Vários problemas contribuíram para isto, mas principalmente me desiludi muito com alguns livros e com o caráter de um ou outro autor. Por outro lado acho que meu pequeno papel nessa historinha de renovação recente dos autores brasileiros já foi cumprido. As editoras grandes é que tratem de publicar os novos. Aliás, é exatamente isto o que elas estão fazendo, já que não são bobas nem nada.
Você esteve num evento literário em Buenos Aires recentemente. O que a gente sempre ouve dizer é que os argentinos são muito mais interessados em literatura do que os brasileiros. Você poderia destacar alguma coisa mais interessante que viu por lá e que possa ser associada como diferencial entre a arte literária nossa e a deles? E são mesmo. É que eles foram alfabetizados e nós não, né? Parabéns para nós, pelas décadas de absoluto descaso por parte do Estado para com a educação básica dos cidadãos. E não me venham falar que é culpa da ditadura e não sei que, pois lá se vão 22 anos de governo democrático e a coisa ainda não alçou do plano dos palanques para as salas de aula. Eu só quero ver o que vai acontecer quando a horda dos sem-educação bater na porta de quem de direito. Será que vai ser fácil o diálogo com as pessoas sem voz?
Quanto à Argentina eles só exercem o que a literatura propõe, que é a busca da felicidade plena do leitor e do escritor obtida através da leitura. Não há felicidade plena se não houver livros no meio. A vida sem livros, filmes e música pode ser boa, mas certamente deve ser muito sem graça. E acho que foi justamente um grande escritor argentino quem disse algo muito parecido.
Está no forno um próximo livro seu que tem Cuiabá como tema central. O que é que você pode nos adiantar a respeito dessa obra quem vem por aí? Ah, não posso dizer muito a não ser que será uma história repleta de bugres, nazistas, clones e morcegos que atravessam paredes. O livro deve ser publicado no começo de 2007 pela editora Jaboticaba. Esperem e lerão.
Última pergunta e essa é de amargar. Vamos supor que você está num programa televisivo tipo Raul Gil e tivesse que ‘tirar o chapéu’ para estes ou aqueles escritores que poderiam estar na sua mesa de cabeceira... Como é que seria isso? Haja braço! Desta vez saudarei escritores que são personagens de meu livro “Sonho Interrompido por Guilhotina” (Casa da Palavra, RJ), que será lançado agora em setembro de 2006. E viva Valêncio Xavier, Raduan Nassar e Glauco Mattoso!
Fonte:
Da Assessoria
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/289319/visualizar/
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