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Politica Brasil
Quinta - 06 de Julho de 2006 às 14:11
Por: Lucio Vaz

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Gravações feitas pela Polícia Federal destacam, pela primeira vez, conversas entre o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) e Luiz Antônio Vedoin, um dos donos da Planam, empresa que transformava veículos em ambulâncias em Cuiabá. Num diálogo gravado no dia 7 de janeiro, o deputado faz comentários sobre a reportagem do Correio que revelou as fraudes na aquisição de ambulâncias por prefeituras, publicada em 18 de dezembro de 2005, e comenta sobre a sua atuação no esquema: “Pra pegar eu (sic) num negócio desse, tem que pegar os caras primeiro. Primeiro eles, depois eu. Quer dizer: até chegar em mim, já caiu o mundo!” Exclama o deputado, numa revelação de que o esquema montado envolve gente muito poderosa.

A partir de informações prestadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, integrantes da CPI dos Sanguessugas avaliam que pelo menos 300 prefeitos e aproximadamente 60 parlamentares teriam envolvimento com a máfia das ambulâncias, sem contar funcionários do Ministério da Saúde. O procurador federal Mário Lúcio Avelar e o delegado da PF Tardelli Boaventura foram responsáveis pelas investigações que resultaram na prisão de 44 pessoas, entre empresários, assessores parlamentares e servidores do ministério. A Procuradoria da República no Mato Grosso denunciou 81 pessoas por envolvimento com a quadrilha.

Na primeira conversa em que trata da reportagem do Correio, no dia 23 de dezembro, Luiz Antônio fala com um assessor de Capixaba, identificado como Chico. Nesse diálogo, o empresário pergunta sobre o jornalista do Correio que estaria em Rondônia e faz uma proposta: “Podia arrumar um jeito de mandar matar o cara lá. O que cê acha?” Chico responde: “Eu também acho que é uma boa”. Luiz Antônio completa: “Vou falar pra um amigo meu aí, vou ver se ele tá por lá. Vou ver se esse cara agüenta ficar 10 minutos debaixo d’agua. Hã? Que que cê acha? Será que ele agüenta?”.

“Agora foi pior” Na primeira reportagem, dia 18 de dezembro, o Correio revelou como funcionava o esquema coordenado por Capixaba em Rondônia. O deputado entregou 120 ambulâncias a 52 municípios — um investimento de R$ 10 milhões em sete anos. A reportagem teve acesso a documentos em poder de prefeituras e do Ministério Público de Rondônia que registram fraudes na compra de ambulâncias com recursos do Orçamento da União. Financiadas por emendas individuais, essas aquisições resultam de licitações irregulares, com entrega de produtos alterados, de baixa qualidade e com documentos falsos. A reportagem citou o nome da Planam e das empresas de fachada Santa Maria e Klass.

Licitações No domingo seguinte, dia de Natal, uma segunda reportagem mostrou que o esquema de Rondônia tinha abrangência nacional. A Santa Maria e a Klass haviam sido citadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União (CGU) como responsáveis por irregularidades em licitações para compra de ambulâncias em mais quatro estados: Mato Grosso, Acre, Espírito Santo e Bahia. Superfaturamento de preços, conluio na apresentação de propostas, simulação de concorrência e uso de documentos falsos estavam entre as fraudes já apuradas.

Um dia após a publicação da segunda reportagem, com o título “Fraudes generalizadas”, Luiz Antônio e Capixaba travam novo diálogo. O serviço de escuta da Polícia Federal faz o seguinte resumo: “Capixaba diz que tem gente por trás dessas matérias e que agora foi muito pior, pois estão detalhando as coisas. Diz que estão querendo chamar a atenção do MP (Ministério Público). Acrescenta que quem está passando as informações é gente de dentro do Congresso”. O empresário pergunta se não tem jeito de conversar com alguém sobre isso. Capixaba diz que está trabalhando nisso e acrescenta que “os caras estão indo longe demais”.

Em 16 de dezembro, dois dias antes da publicação da primeira reportagem, Capixapa telefonou para o repórter e fez uma acusação: “Essa matéria foi encomendada pelos meus adversários. Tenho informações de que você foi contratado para fazer a reportagem”. Ele disse ter sido informado por “uma fonte do Ministério da Saúde”, uma semana antes, que um jornalista iria a Rondônia para investigar a entrega de ambulâncias a prefeituras do estado. E assegurou que não tinha responsabilidade sobre as irregularidades cometidas pelas prefeituras. “Isso você tem que perguntar para os prefeitos. Quem compra, quem licita é o prefeito”, afirmou.

Após deflagrada a Operação Sanguessuga, foi divulgado que Capixaba aparece no livro-caixa da Planam. Ele teria recebido mais de R$ 400 mil da empresa. A CPI dos Sanguessugas decidiu anteontem pedir ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o afastamento de Capixaba do cargo de segundo-secretário da Mesa Diretora da Casa.





Fonte: 24horas news

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