Meu passeio pela politica
Estava bem na minha casa e em meus projetos de vida quando fui, no ano passado, convidada por alguns partidos para me filiar. Após meses de recusas e conversas, acabei me rendendo, embalada nas avalanches de denúncias que demonstravam a face fascistóide e extremamente corrupta do governo Lula. A indignação daquele momento me fez crer que deveria tomar partido para tentar modificar aquilo tudo. Como acredito na social-democracia como a doutrina mais eficaz para melhorar as condições de vida de um povo dentro de uma ordem democrática e capitalista, o caminho mais próximo possível de uma sociedade cidadã, mesmo sabendo dos diversos defeitos do partido, acabei me filiando no PSDB, por ser este o que mais se “aproxima” com meus ideais.
Bem, este foi o motivo de me filiar ao PSDB. Foi uma filiação com o firme propósito de nunca me candidatar a nada. Esse nunca foi meu objetivo de vida, até porque não tenho e nunca tive militância partidária, e a minha atuação política sempre foi mais de informar, incomodar a gregos e troianos, a tal ponto que até me dificultariam capitanear apoios no jogo político.
Pois bem, tudo caminhava neste sentido. Com a vida estabilizada familiarmente, sempre acreditei que contribuía através da minha escrita para a construção de uma sociedade que julgo ideal. O fato de não ter intenção política e de não militar no partido, mesmo depois de filiada, sempre me deixou livre para concordar ou discordar de posturas ou proposituras. Nunca escondi o meu antagonismo ao governo federal, por percebê-lo fascista, e nunca tentei camuflar isso. A filiação foi como uma espécie de formalização de algo que já existia. A escolha do partido não foi baseada em proximidades a alguém, troca por cargo, apoio, dinheiro ou espaço político, mas se deu por haver entre mim e a ideologia social-democrata um entrosamento de ideais.
No mês passado fui chamada para um conversa com o presidente regional do partido. Imaginei que seria um convite para que eu me candidatasse a deputada. Fui então com a resposta na ponta da língua: NÃO. Cheguei e de supetão a conversa era para uma candidatura a um cargo majoritário. Tomada pela surpresa, e depois que algumas dúvidas foram tiradas e algumas precondições de decência, dignidade e incorrupção terem sido aceitas, eu disse sim. Ora, venho a anos estimulando jovens alunos, mulheres, homens e todos com quem convivo a tomarem partido nos processos decisórios, a construírem um projeto de um país melhor, do lado que bem entenderem, mas que participem. Vi que se eu recusasse me sentiria uma farsa, e o que escrevo não é uma farsa. Pode não agradar a muitos, mas é realmente o que penso. Dentre os muitos defeitos que tenho, o mau-caratismo não é um deles. Portanto, mesmo surpreendida pela proposta, acabei aceitando o convite e coloquei meu nome à disposição do partido, não como uma idéia minha, mas uma idéia de alguns líderes do partido que precisavam uma pessoa nova no cenário, “uma carta na manga”, como vazaram para a imprensa, ou “uma belíssima surpresa”, que me deixou até lisonjeada.
Isso se arrastou por três semanas. Compreendo o jogo político, e alguns dias eu dormi vice e acordei suplente. Noutros eu acordei candidata ao governo e dormi candidata ao senado. Tudo bem, estava no mesmo lugar, e mesmo tendo dado algumas entrevistas, em nenhuma delas declarei algo sobre esse assunto, embora o presidente do partido tenha ido à minha casa para reafirmar o convite. Fiquei apenas da minha janela lendo as notícias. Numa delas li que eu estava mais para a turma da botina que para a turma do tênis. Achei muito engraçado até por nunca ter sido do grupo de Dante (tênis), muito menos de Blairo (botina).
Já nas vésperas da convenção, em uma reunião (ao todo participei de duas), as lideranças chegaram com opiniões completamente diferentes, pelo menos das informações que me passavam. Entrei na reunião muda e sai calada. Fiquei olhando aqueles homens todos ali... Contive-me na vontade de ir embora, não pelo fato da escolha em si, até porque não fui eu quem procurou aquela situação, mas por ficar enojada e perceber que não tenho estômago para agüentar o desrespeito e a deslealdade de ter sido usada. Argumentações geográficas!, soa até engraçado.
Como me disse um amigo, a cada decepção a casca engrossa.
Bem, e hoje? Hoje continuo achando que Antero foi e seria o melhor senador para Mato Grosso, mas demonstrou o quanto ainda não ocupou seu espaço como líder dentro do partido ao se submeter aos propósitos de outros. Já o partido demonstrou conservadorismo ao preferir não assumir riscos, embora o risco de perda total seja a forma escolhida. Sabemos que Antero é um grande orador, talvez o melhor do estado, mas para se tornar um líder dentro do partido terá que mudar sua conduta política interna. Sobre Blairo, continuo achando que ele administrou o estado como se fosse um braço da AMAGGI e se prostituiu colocando em seu palanque o que há de pior na política deste estado. Juntou-se a políticos que têm conduta moral que antes tanto abominava em seus discursos, desprezou os políticos da baixada cuiabana que o colocaram no cargo que hoje ocupa, e ainda escolheu um vice que foi o grande defensor da divisão do estado. Talvez tenha suposto que as reformas nos prédios históricos de Cuiabá lhe dariam aval para isso. Quanto a Serys, continuo achando-a irrelevante como senadora e espero mais conteúdo em seus discursos.
Passeei e voltei. Continuarei neste espaço com minhas análises políticas e com o firme propósito de fiscalizar e denunciar os desvios, quer de conduta ou de recursos. Mas hoje eu sei que nessa forma de fazer política não existe lugar pra mim. Após esse meu passeio, deixo um recado a todas as pessoas que nutrem o espírito público e que sejam estimuladas a entrar na política, principalmente aos juizes, promotores e procuradores: existem outras formas de lutar para construir um país melhor. Vamos usar as armas que possuímos.
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