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Cultura
Quarta - 28 de Junho de 2006 às 15:09

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Estimativas lingüísticas apontam que uma língua morre em algum lugar no mundo a cada duas semanas. De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), estima-se que em torno de 1,3 mil diferentes línguas indígenas eram faladas no Brasil há 500 anos. Hoje há registros de apenas 180 delas. Existem também aquelas faladas pelos índios isolados, que não estão em contato com a sociedade brasileira e, por isso, ainda não são conhecidas.

A velocidade alarmante com que se perde uma língua e a sua importância para a sobrevivência da cultura de um povo fez com que a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc), pensasse um projeto de resgate da língua e da cultura do povo Chiquitano que vive em solo brasileiro.

Pertencentes ao município de Porto Espiridião (a 326 km a Oeste de Cuiabá), as comunidades de Acorizal e Fazendinha, onde o projeto está sendo desenvolvido, estão localizadas a 155 km da sede do município, na faixa de fronteira entre o Brasil e a Bolívia, próximas ao destacamento de Fortuna.

Cerca de 250 índios Chiquitano, que têm nacionalidade brasileira, vivem nestas comunidades. Há também os Chiquitano que vivem na Bolívia. A separação se deu na época da briga entre as Coroas Espanhola e Portuguesa, quando cerca de um quinto dos índios pertencentes a esta etnia ficou em solo brasileiro e o restante em terras bolivianas.

De lá para cá, os Chiquitano brasileiros silenciaram aquilo que os diferenciava dos não-índios, em virtude dos inúmeros problemas pelos quais passaram no decorrer da história. Eles sofreram com a imposição da ideologia Cristã pelos jesuítas; com a usurpação do seu espaço tanto pelos colonizadores, quanto pelos militares e pelos fazendeiros; com o fato de serem índios em uma terra em que estes sofrem todo tipo de preconceito; por falar uma língua diferente da dominante; e por ser considerado estrangeiro em sua própria pátria, uma vez que muitos os consideram estrangeiros.

Diante deste cenário de risco para a cultura Chiquitano, a Seduc, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), tenta, por meio de ações desenvolvidas junto às comunidades, resgatar a cultura e a língua deste povo. No final do projeto está prevista a publicação de todo o trabalho.

Na primeira visita para a implantação do projeto, que é o resultado de uma pesquisa de mestrado, os representantes da Seduc fizeram uma reunião com as comunidades para apresentação dos trabalhos e para ouvir os Chiquitano.

“Na ocasião foi feita a escolha da escrita ortográfica da língua portuguesa, que é a descrição dos sons através de símbolos“, explicou a lingüista e servidora da Seduc, Ema Marta Dunck Cintra. Para realizar esse trabalho, explica ela, é fundamental a participação dos chamados lembradores, que são as pessoas que conhecem profundamente a língua Chiquitano. “E hoje só existem quatro lembradores”, ressaltou a lingüista.

De acordo com a superintendente de Formação dos Profissionais de Educação básica da Seduc, Mônica Agripina Botelho de Oliveira, o Governo do Estado mantém uma escola estadual para atender essas comunidades. “O único pedido que eles fizeram foi uma lousa para os alunos da 8ª Série”, contou.

O projeto também visa formar professores indígenas Chiquitano e implementação da ortografia da língua nas escolas das comunidades, bem como com publicação de glossários e livros de cantos.

Ainda conforme Mônica Agripina, a Seduc está tentando uma parceria para o financiamento do projeto com o Ministério da Educação (MEC), por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). “Foi a melhor justificativa de todos os projetos do FNDE”, comemorou Mônica.

Segundo a superintendente, a expectativa é de que o MEC aprove o projeto em breve. “Mas se não conseguirmos a parceria, vamos desenvolvê-lo da mesma forma, pois é um projeto muito bonito e muito importante para o resgate daquela cultura”, enfatizou ao observar que o desaparecimento de uma língua representa uma enorme perda para a humanidade, pois, além da cultura, ela expressa inúmeros conhecimentos e uma forma única de se encarar a vida e o mundo.

Além de Mônica Agripina e da lingüista Ema Dunck, a lingüista Áurea Cavalcante Santana, da Funai, e um professor do Centro de Formação e Atualização dos Professores (Cefapro) participaram desta primeira fase do projeto. Eles permaneceram nas comunidades durante os dias 15 a 19 de maio.





Fonte: Diário de Cuiabá

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