Projeto pretende resgatar cultura e língua do povo Chiquitano
A velocidade alarmante com que se perde uma língua e a sua importância para a sobrevivência da cultura de um povo fez com que a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc), pensasse um projeto de resgate da língua e da cultura do povo Chiquitano que vive em solo brasileiro.
Pertencentes ao município de Porto Espiridião (a 326 km a Oeste de Cuiabá), as comunidades de Acorizal e Fazendinha, onde o projeto está sendo desenvolvido, estão localizadas a 155 km da sede do município, na faixa de fronteira entre o Brasil e a Bolívia, próximas ao destacamento de Fortuna.
Cerca de 250 índios Chiquitano, que têm nacionalidade brasileira, vivem nestas comunidades. Há também os Chiquitano que vivem na Bolívia. A separação se deu na época da briga entre as Coroas Espanhola e Portuguesa, quando cerca de um quinto dos índios pertencentes a esta etnia ficou em solo brasileiro e o restante em terras bolivianas.
De lá para cá, os Chiquitano brasileiros silenciaram aquilo que os diferenciava dos não-índios, em virtude dos inúmeros problemas pelos quais passaram no decorrer da história. Eles sofreram com a imposição da ideologia Cristã pelos jesuítas; com a usurpação do seu espaço tanto pelos colonizadores, quanto pelos militares e pelos fazendeiros; com o fato de serem índios em uma terra em que estes sofrem todo tipo de preconceito; por falar uma língua diferente da dominante; e por ser considerado estrangeiro em sua própria pátria, uma vez que muitos os consideram estrangeiros.
Diante deste cenário de risco para a cultura Chiquitano, a Seduc, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), tenta, por meio de ações desenvolvidas junto às comunidades, resgatar a cultura e a língua deste povo. No final do projeto está prevista a publicação de todo o trabalho.
Na primeira visita para a implantação do projeto, que é o resultado de uma pesquisa de mestrado, os representantes da Seduc fizeram uma reunião com as comunidades para apresentação dos trabalhos e para ouvir os Chiquitano.
“Na ocasião foi feita a escolha da escrita ortográfica da língua portuguesa, que é a descrição dos sons através de símbolos“, explicou a lingüista e servidora da Seduc, Ema Marta Dunck Cintra. Para realizar esse trabalho, explica ela, é fundamental a participação dos chamados lembradores, que são as pessoas que conhecem profundamente a língua Chiquitano. “E hoje só existem quatro lembradores”, ressaltou a lingüista.
De acordo com a superintendente de Formação dos Profissionais de Educação básica da Seduc, Mônica Agripina Botelho de Oliveira, o Governo do Estado mantém uma escola estadual para atender essas comunidades. “O único pedido que eles fizeram foi uma lousa para os alunos da 8ª Série”, contou.
O projeto também visa formar professores indígenas Chiquitano e implementação da ortografia da língua nas escolas das comunidades, bem como com publicação de glossários e livros de cantos.
Ainda conforme Mônica Agripina, a Seduc está tentando uma parceria para o financiamento do projeto com o Ministério da Educação (MEC), por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). “Foi a melhor justificativa de todos os projetos do FNDE”, comemorou Mônica.
Segundo a superintendente, a expectativa é de que o MEC aprove o projeto em breve. “Mas se não conseguirmos a parceria, vamos desenvolvê-lo da mesma forma, pois é um projeto muito bonito e muito importante para o resgate daquela cultura”, enfatizou ao observar que o desaparecimento de uma língua representa uma enorme perda para a humanidade, pois, além da cultura, ela expressa inúmeros conhecimentos e uma forma única de se encarar a vida e o mundo.
Além de Mônica Agripina e da lingüista Ema Dunck, a lingüista Áurea Cavalcante Santana, da Funai, e um professor do Centro de Formação e Atualização dos Professores (Cefapro) participaram desta primeira fase do projeto. Eles permaneceram nas comunidades durante os dias 15 a 19 de maio.
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