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Cultura
Segunda - 26 de Junho de 2006 às 06:10
Por: Luiz Carlos Merten

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Sucesso de crítica no Ocidente, o cinema iraniano atinge, no exterior, um público formado por uma elite cultural com alto nível de educação, interessada em expandir sua cultura cinematográfica e habituada com a linguagem de cineastas como o indiano Satyajit Ray e o japonês Yasujiro Ozu. Alessandra Meleiro afirma isso no livro O Novo Cinema Iraniano - Arte e Intervenção Social, da Escrituras Editora, que será lançado no dia 17 de julho no HSBC Belas Artes, em São Paulo. Parece uma informação en passant, mas é fundamental para a compreensão do livro e do próprio cinema iraniano.

O Irã era desconhecido nos anos 1970 e 80 e, mesmo depois da repercussão internacional alcançada por seus filmes e diretores - é de novo Alessandra quem diz -, continua não sendo até hoje uma destinação turística. Pergunte às pessoas ao seu redor e verá que pouquíssimos ocidentais viajam para o país e que a maioria dos vistos concedidos para o Irã é para profissionais a negócios.

Vai nisso o que não deixa de ser um paradoxo, pois se o país é pouco conhecido, seu cinema é referência para cinéfilos de todas as latitudes. O público da Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, acostumou-se aos nomes e filmes de Abbas Kiarostami, Jafar Panahi, Mohsen Makhmalbaf e Samira Makhmalbaf. Agora mesmo, estréia o novo de Samira, Às Cinco da Tarde.

Cahiers du Cinéma cultua Kiarostami (já lhe dedicou uma edição especial), Cannes, Veneza e Berlim - a santíssima trindade dos festivais internacionais - já premiaram os iranianos. É sobre o paradoxo que Alessandra trabalha. Você vai ver que ela tem interesse especial em investigar o cinema iraniano à luz da cultura islâmica.

Há um poder que se instalou no país com a queda do xá Reza Pahlevi e a ascensão do aiatolá Khomeini e seus mulás. Estabeleceu formas, de censura inclusive, que norteiam o cinema como atividade econômica e artística.

Alessandra discute como as mulheres se situam nessa cultura e como o cinema as reflete - no caso de Samira Makhmalbaf, como uma mulher jovem consegue tornar-se uma cineasta importante. Mas não fica nisso. Kiarostami e Mohsen Makhmalbaf são analisados em profundidade, em filmes como Ten e Gabbeh e a autora tenta desmistificar os conceitos de inocência e pureza quase sempre associados ao cinema iraniano no Ocidente. Esse olhar está muito mais em quem vê, de fora, do que na complexa produção cultural iraniana.




Fonte: AE

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