Igreja de São Benedito é reaberta com festa cívica e religiosa
O ato solene começou por volta das 19 horas, mas desde às 17 a praça da igreja já estava tomada por fiéis e visitantes, embalados pela Banda da Polícia Militar do Estado. Entre todos um clima de muita fraternidade. “Está sendo um reencontro com os antigos amigos”, disse emocionado o senhor Ideraldo Dias, morador do Parque Cuiabá, que durante muitos anos freqüentou a igreja.
A abertura da cerimônia começou com a entrada das Bandeiras Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, depois a exibição de um vídeo sobre o restauro, a composição do dispositivo das autoridades, a entrega ao governador de um livro sobre a história da igreja e os discursos. Em seguida foi descerrada a fita inaugural, feita a bênção do local e convidadas as autoridades para entrar no templo.
“O Governo do Estado está realmente preocupado com o nosso patrimônio”, discurso o senhor Lucilo Líbano de Souza, 63 anos, membro da Comissão de Restauro, que ajudou organizar as ações de arrecadação de recursos e obras de recuperação e revitalização da igreja. Batizado, crismado e casado na igreja, “seo” Lucilo falou com muita emoção. “Toda a minha vida foi marcada pela influência da igreja. Naquela época nem todo mundo tinha relógio e por isso se orientava pelo sino da igreja, as horas, a morte de alguém, tudo a gente ficava sabendo quando o sino tocava”, relata ele, que foi um dos sineiros da igreja.
Lucilo Líbano conta que a idéia de restauro da Igreja do Rosário e São Benedito surgiu da própria comunidade, que arrecadou nada menos que R$ 200 mil dos mais de R$ 1 milhão investidos na obra. “Agradecemos ao Governo do Estado e às empresas por terem embarcado neste nosso sonho”, concluiu, emocionado a todos os presentes.
O diretor Institucional da Monsanto do Brasil, empresa que contribuiu com as obras, também fez um discurso que causou emoção. “Não é Mato Grosso que tem que nos agradecer, mas a Monsanto é que agradece por lhe permitir ajudar a recuperar esse patrimônio muito importante para a história e a cultura de Mato Grosso”, afirmou. “A Monsanto agradece por poder participar desta festa”, acrescentou Rodrigo Almeida.
O governador Blairo Maggi, muito cumprimentado pelos fiéis e convidados presentes, lembrou que seu governo vem colocando em prática o Programa Estadual de Recuperação e Revitalização do Patrimônio Histórico de Mato Grosso, trabalho que tem investimento do governo, mas conta com apoio de parceiros, como empresas e o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN). Neste programa, uma das obras mais importantes e esperadas é a recuperação do centro histórico de Cuiabá, projeto para o qual, anunciou o governador, foi aprovado pela Lei Rouanet, a lei federal de incentivo à cultura. O governador aproveitou para convidar as empresas para serem parceiras neste projeto.
Além da Monsanto, Petrobrás também foi outra empresa que ajudou na obra de recuperação da Igreja do Rosário e São Benedito. Adriana Maria Ferreira Martins, gerente de Patrocínio da estatal, também esteve presente e destacou a mobilização da comunidade como fator importante para a concretização do projeto. O secretário de Estado de Cultura, João Carlos Vicente Ferreira, observou que a gestão de recuperação e revitalização da igreja foi um exemplo público, devido a sua organização, pela qual todo o dinheiro recebido foi repassado com o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e que todas as decisões aconteceu em reunião com a Comissão de Restauro, auxiliadas pela Mato Grosso Memória, sempre com a fiscalização do IPHAN.
O presidente nacional do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, também elogiou a participação da comunidade e a iniciativa do governo de Mato Grosso. Ele relatou que na maioria das ações de preservação do patrimônio histórico, poucas vezes viu uma participação tão forte. “Na maioria das vezes é o governo federal que vai à frente e coloca recursos. Aqui em Mato Grosso estou vendo que a comunidade também se mobiliza. Isto demonstra uma importante consciência de preservação e de cidadania”, elogiou.
A obra
A obra que recuperou vários aspectos originais do prédio como duas janelas laterais cobertas em reformas passadas, o coreto que volta a ser de madeira, o paisagismo exterior, também trouxe novidades. Um sistema de iluminação que não prejudica os altares e obras raras, todos folheadas a ouro. As luzes são direcionadas para cima, assim elas refletem no forro antes de incidir sobre cada peça histórica. “Temos que entrar na modernidade. O ar condicionado ficou ótimo, era muito quente aqui. E mesmo assim, não descaracterizou nada”, comentou Rui Araújo Graffunder. Ele já foi festeiro de São Benedito e ficou impressionado como foram instalados os aparelhos para a climatização do ambiente. Todos os encanamentos necessários estão colocados no interior do forro, não ficando nada exposto ao visitante.
Há três anos em processo de recuperação, o prédio tombado como patrimônio histórico e cultural está pronto para receber a população devota aos santos. A história da igreja se mistura com a história de Cuiabá, mas o seu ponto forte é aguçar a memória de senhores e senhoras que viram sua vida se cruzar com o destino da igreja.
Na hora em que todos entraram na igreja e puderam ver sua beleza, uma apresentação da orquestra de flautas do Jardim Vitória embalou a onda de nostalgia. Vários fiéis de joelhos agradeciam entre lágrimas o tão aguardado reencontro com o espaço que marcou suas vidas.
O que todos esperam agora é a festa de São Benedito. De 29 de junho a 2 de julho, um dos encontros religiosos mais tradicionais do estado irá conhecer a igreja restaurada. “A comunhão, a devoção a Nossa Senhora e ao santo negro, em muito são o espírito religioso. Esta festa é uma prova desse amor”, comentou com muita alegria Edmundo Tenuta, por toda sua vida devoto de São Bendito.
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