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Meio Ambiente
Terça - 20 de Junho de 2006 às 08:26

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Na ensolarada ilha de São Kitts, pesquisadores da Universidade de Yale estão injetando milhões de células cerebrais humanas nas cabeças de macacos que sofrem com o Mal de Parkinson. Em uma fazenda da China, as mesmas células também estão nos órgãos de 29 cabras, resultando na transformação de células do sangue humano em embriões de cabra.

A mistura entre humanos e animais, em nome da medicina, vem ocorrendo há décadas. Várias pessoas vivem com válvulas de porco em seus corações, e cientistas têm rotineiramente injetado células humanas em ratos de laboratório com o intuito de simular doenças humanas nos animais.

As pesquisas, porém, estão se sofisticando crescentemente por conta do trabalho de cientistas que lidam com os cérebros de ratos, macacos e outros mamíferos e começam a adentrar a polêmica questão da clonagem. Pesquisadores da Universidade de Harvard estão tentando clonar células embrionárias humanas em óvulos de coelhos.

Tais iniciativas são responsáveis por inflamados protestos em variados setores da sociedade, dos conservadores a outros grupos que temem interferências nas espécies e, para tanto, evocam a imagem da Quimera - ser monstruoso da mitologia grega, misto de leão, cabra e serpente.

Durante um discurso em janeiro deste ano, o presidente George W. Bush conclamou o banimento da clonagem humana em todas as suas formas, bem como dos "seres híbridos". Na ocasião, Bush rotulou a clonagem como "um dos maiores abusos da pesquisa médica".

Os cientistas desta área, no entanto, acreditam que o presidente confundira o vocábulo "híbridos" com a criação de animais dotados de traços humanos, uma prática que estes profissionais alegam não endossar. Por outro lado, há críticos solicitando uma regulamentação mais rígida da pesquisa.

"A tecnologia está avançando com maior rapidez do que os regulamentos", acredita Osagie Obasogie, do Centro para Genética e Sociedade, baseado em Oakland. Obasogie se opõe às misturas entre células humanas e animais.

Em contrapartida, há cientistas que defendem as pesquisas focadas na ética, capaz de ajudá-los a implementar o entendimento acerca de várias moléstias. Os profissionais em questão argumentam que seu trabalho nunca irá resultar no nascimento de nenhum ser humano, mas sim permitir experimentos com doenças sem a necessidade de utilizar seres humanos.

"O presidente tocou em um ponto nevrálgico", disse Doug Melton, pesquisador de Harvard que tenta eliminar a necessidade das mulheres de doar seus óvulos para pesquisas de clonagem ao criar células embrionárias humanas nos óvulos de coelhos. "A probabilidade de ter animais similares às 'quimeras' é assustadora. Não se trata, porém, deste tipo de pesquisa. Tais experimentos não criam animais e sim células", explica Melton.

Caso seja bem sucedido, o trabalho de Melton poderia reduzir a necessidade por doadores do sexo feminino, que precisam tomar drogas para fertilidade a fim de aumentar sua produção ovular e submeter-se a procedimentos invasivos para extraí-los. Entretanto, Melton ainda não conseguiu extrair células humanas de óvulos clonados de coelhos.

Europa e Ásia conduzem projetos semelhantes Enquanto isso, pesquisadores do Reino Unido liderados por Ian Wilmut, o criador da ovelha Dolly, planejam experimentos semelhantes aos dos americanos. A equipe almeja copiar o sucesso de um grupo de pesquisadores chineses com cabras, devidamente explicado no jornal Cell Research, em 2003.

"Os interesses por quimeras e pela mescla de espécies podem ser justificados em algumas circunstâncias", defende o pesquisador da Universidade de Yale, Gene Redmond. "Mas há fortes razões científicas para a utilização da clonagem em muitos casos, que podem proporcionar grandes benefícios à humanidade", frisa.

O trabalho de Redmond é financiado pelo governo americano, mas ele trabalha em São Kitts porque a ilha vizinha de Nevis tem uma grande população de macacos africanos. O objetivo da pesquisa é reverter os sintomas do Mal de Parkinson mediante o fornecimento de dopamina, substância química do cérebro cuja ausência pode causar a doença. "Parece que há pouca ou nenhuma chance de 'humanização' dos macacos, por conta da alta especialização das células humanas que estão sendo implantadas nos animais", analisa Redmond.

O especialista em ética biológica da Universidade de Stanford, Christopher Scott, ressalta que o tema que levanta uma das maiores preocupações acerca da ética em experimentos científicos é o implante de células humanas nos cérebros de animais. Scott e outros especialistas não conhecem pesquisadores que tenham chegado perto de colocar células humanas suficientes nos cérebros de animais, capazes de conferir-lhes qualquer sinal de humanidade, a exemplo da emoção.

Em dezembro, por exemplo, pesquisadores do Mal de Parkinson do Salk Institute, em São Diego, relataram que haviam criado ratos com 0,1% de células humanas ao injetar cerca de 100 mil células embrionárias humanas em cada animal - quantidade que, sequer remotamente, possibilitou a 'humanização' dos roedores.

Muitos cientistas também argumentam que a "arquitetura" da cabeça dos animais não poderia suportar um cérebro com maioria de células humanas. O interesse sobre a mescla entre homem e animais é tão expressivo, que até mesmo a influente Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos tratou do tema no ano passado ao publicar as normas para a pesquisa celular.

O relatório admite a pesquisa que mescla tecidos humanos e animais com o propósito de assegurar drogas experimentais e tecidos substitutos que sejam seguros aos seres humanos. O relatório recomenda que cada instituição envolvida neste tipo de pesquisa crie um comitê formal para supervisionar o trabalho.





Fonte: AP

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