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Politica Brasil
Segunda - 19 de Junho de 2006 às 07:34

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No auge da crise do agronegócio, quando os números negativos pipocavam e os cenários eram super-pessimistas, recebi dois e-mails a respeito de artigos que escrevi relatando esses panoramas. Um do interior de Minas, e outro do interior de São Paulo. As pessoas questionavam: “ta bom. Já sabemos da crise. Mas, e daí, quais as propostas para sair dela?”.

Nesta semana, recebi o seguinte e-mail, do amigo Fausto Faria, ex-prefeito de Rondonópolis e ex-secretário de estado no Governo de Mato Grosso: “Onofre, tal como você, tenho botado fogo de encontro à pretensões eleitorais de amigos. Certamente, isso é muito ruim para a democracia, no entanto, os desvios são tantos que o descrédito acaba vencendo”.

Dei razão aos três e-mails. O agronegócio não acabou e nem acabará por causa da crise atual. Sofrerá mudanças muito grandes, isso é certo. Mas acabar não. Então, daqueles e-mails em diante, ative-me a considerar a crise de olho no futuro, e não mais no passado.

Quanto a Fausto Faria, também dei-lhe toda a razão. Mas como se trata de política, faço algumas restrições. De fato, não posso dizer que tenho sido generoso com os políticos. Muito pelo contrário. Tenho fustigado suas condutas e o seu papel no futuro.

Mas, diante da circunstância levantada por Fausto, gostaria de dizer que a conduta tem sido muito discutível por parte dos nossos políticos, quase indistintamente. Num próximo mandato, qualquer um que deseje disputar um mandato eletivo, obviamente, tem todo o direito do mundo. Mas precisa compreender a nova situação do imaginário coletivo brasileiro.

O próximo mandato vai cobrar dos parlamentares mais ação coletiva, e menos ações individuais. Vai cobrar mais comprometimento público, e menos interesses privados. Vai cobrar uma ética transparente, e não mais discursos superficiais. Vai cobrar uma relação de respeito com a sociedade, e não mais o distanciamento que depois se tenta corrigir em tempos de eleições.

Não adianta nas eleições de 2006, nós rifarmos todos que têm mandato, para substituí-los, se não temos um projeto de política na sociedade. Os eleitos refletem os eleitores. Porém, se a sociedade não está amplamente politizada, de outro lado, os eleitos precisam ler a voz coletiva e tentar representá-la. Não é fácil. Claro. Mas se não forem capazes, então não se candidatem. Do lado de cá será muito mais confortável.

Nós estamos a um passo das eleições e as discussões estão paupérrimas. Nos programas dos partidos na mídia, repetem-se velhos chavões e velhas promessas de “lutar pela sociedade”. A sociedade não quer que ninguém lute por ela. Quer apenas que exerçam o papel de representá-la frente aos poderes públicos. Lutar, deixem que a sociedade lute por seus interesses, quem ela conhece, mais do que ninguém.

Então, meu caro amigo Fausto: imagino que nenhum de nós queira muito mais do estar bem representados. Neste mandato que se encerra, o governo federal fez o que quis no estado, não fez o que devia e não quis, e nenhuma voz parlamentar levantou-se contra. O futuro cobrará mais responsabilidade dos nossos caros parlamentares. Senão, o fogo contra será inevitável. E, pelo que vejo, ninguém tem aceiro para evitar que o incêndio entre no seu quintal.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da Revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br





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