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Politica Brasil
Sexta - 16 de Junho de 2006 às 08:41
Por: Onofre Ribeiro

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Estou trabalhando há algum tempo no tema voluntariados que existam em Cuiabá, para uma matéria abrangente na Revista RDM. Venho ajuntando depoimentos e levantando necessidades sociais em lugares e situações onde caberia mais do que a ação do Estado.

Tenho encontrado exemplos de voluntários absolutamente fantásticos. Gente ligada a igrejas evangélicas, católica, espírita e espiritualistas, a pessoas autônomas, a empresas, sindicatos e até mesmo políticos.

A conclusão é que esse trabalho voluntário é muito educativo, porque ele não tem contrapartida. Quem o faz, faz por desprendimento e não pede nada em troca. Desapercebidas, existem em Cuiabá, pelo menos cinco casas de trânsito conhecidas, mantidas por deputados estaduais que recebem doentes de suas bases no interior do estado e os hospedam, junto com familiares.

Quem freqüentar o pronto socorro de Cuiabá, ou a Santa Casa de Misericórdia, vai se surpreender com a quantidade de pacientes vindos do interior do estado, acompanhados por um parente. Ficam internados semanas ou meses. E o parente dorme e vive numa cadeira dura ao lado do leito do doente. Come o que o hospital lhe dá, ou, quando as coisas andam feias para o hospital, essas pessoas nem comem.

Mas, lá estão sempre voluntários passando para consolar, levando alguma coisa para comer, o apoio possível e a assistência espiritual religiosa ou leiga.

Nos bairros, mulheres muito pobres, conseguem arranjar coragem e energia para assumir crianças de famílias igualmente pobres e lhes dão assistência. Ajuda, só mesmo a dos vizinhos, ou de alguma alma caridosa ou empresa que, casualmente, toma conhecimento da situação.

Nos presídios a situação é extremamente penosa. Há presos de péssima qualidade, como os assaltantes de bancos, de empresas, seqüestradores e criminosos profissionais. Essas pessoas optaram por esse caminho. Mas ao lado deles existem outras que estão ali pelas casualidades da vida, em situação de extrema infelicidade. Quem lhes dá alguma assistência são membros de igrejas evangélicas. No mais, algum profissional liberal, mas muito poucos. Falta muita, muita, fraternidade nos presídios.

Tudo isso foi dito para fazer um único comentário: existem espaços na sociedade para a ação voluntária de pessoas que reclamam da falta de segurança, de saúde, de educação, de creches, de assistência aos mendigos e desabrigados que vivem nas ruas.

Essas pessoas desassistidas precisariam de um apoio financeiro menor do que o gasto de uma única despesa de bar ou de restaurante. Mais do que isso: o afeto humano. Curiosamente, quem recebe agradece e se sente confortado. Mas quem dá, sente-se muito mais confortado, porque é da natureza humana a solidariedade. Não fosse ela, o ser humano não teria sobrevivido ao longo da sua trajetória na Terra. Sempre foi assediado por perigos que os grupos sociais defenderam coletivamente. Os tempos mudaram, os perigos são outros, mas o sentido coletivo de proteção continua existindo.

Imagino que muito pode ser feito por quem se disponha a olhar ao redor de si. Há muito para ver e muito por contribuir.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br





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