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Politica Brasil
Quinta - 08 de Junho de 2006 às 08:53
Por: Isaac Bigio

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O ex-presidente social-democrata Alan García saiu vitorioso do segundo turno das eleições peruanas no domingo último (04/06), com 48% dos votos emitidos, derrotando o nacionalista Ollanta Humala – que recebeu 43,5%. Houve 8.5% de votos nulos. Apesar de o país estar dividido (Humala venceu em 15 dos 25 distritos eleitorais), o fato é que o pleito peruano é único na América Latina do século 21 em três aspectos: 1) deu-se entre duas forças centro-esquerdistas; 2) o ganhador do primeiro turno enfrenta uma rejeição unânime de toda a mídia e é derrotado na segunda volta; 3) a direita vota pela socialdemocracia.

No primeiro turno, em 9 de abril, García obteve 20% dos votos – a pior percentagem das quatro eleições das quais se candidatou. Hoje conseguiu que seu Partido Aprista (Apra), fundado há 82 anos, possa pela primeira vez ter superado o 50% dos votos válidos e tambám ter ganhado votos dos conservadores.

Votos nulos

No passado, o Apra apoiou Bustamante e Rivero (1945-48), Prado (1956) e Odría (1963), mas nunca antes a direita lhe tinha apoiado.

O voto nulo-alvo teve sua maior porcentagem num segundo turno latino-americano recente, ainda que tenha sido metade do que se registrou no primeiro turno. Isto evidencia que o eleitor da direita votou em García e o da esquerda em Humala.

Frente antichavista

García foi apoiado por Vargas Llosa e o fujimorismo, que antes lhe consideraram o pior governante da história do Peru ou o definiam como réu contumaz. Ele ganhou propondo uma grande frente antichavista.

O presidente venezuelano alentou essa polarização, pois conseguiu fazer com que García se aliasse à direita e, desta forma, deixasse o voto anti-sistema e antiEUA a seu oponente Humala. Este conseguiu algo que ninguém antes conseguiu no continente. Seis meses antes do primeiro turno não tinha nem partido nem lugar de destaque nas enquetes.

Oposição forte

Considerando a total rejeição da classe política e empresarial, Humala conseguiu superar sem alianças, 40% dos votos e ganhar no interior do país.

García fará algumas reformas sociais modificando o monetarismo vigente. O estará submetido à pressão de uma direita que cobrará pelo fato de ele ter ganhado com seus votos, e também de uma esquerda humalista que está em ascensão e fará forte oposição.

García e Humala festejam triunfos. O primeiro por voltar à presidência depois de 16 anos. O segundo por ter se convertido desde quase nada na primeira força peruana e por sentir que pode ganhar a maioria das regiões nas eleições locais – que acontecem em quatro meses.

(*) O analista internacional e ex-professor da London School of Economics Isaac Bigio é peruano e especializado em América Latina. Assinando uma coluna diária no jornal peruano Correo e às terças e sextas, na BR Press.





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