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Politica Brasil
Terça - 06 de Junho de 2006 às 08:42
Por: Onofre Ribeiro

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O custo do petróleo no Brasil é o mais alto do mundo. Com isso, em país um continental, os fretes estão se inviabilizando na relação custo-mercado. Alguns negócios estão particularmente complicados. É o caso do agronegócio. Até 2004 o litro de diesel custava US$ 0,30 e em 2005 subiu para US$ 1,00.

Para se ter idéia do volume de diesel gasto na agricultura, numa área de 1 mil hectares plantada com soja, tem-se os seguintes custos com o combustível: no plantio, 45 mil litros (23%), frete, 138 mil litros (68%), no frete de fertilizantes, 18 mil litros (9%). Total gasto: 198 mil litros em 1 mil hectares de soja. Ou, para plantar 1 hectare gastava-se em 2001, US$ 17,50, e em 2006 subiu para US$ 45,00.

Quando o diesel custava US$ 0,35, gastava-se US$ 69.300,00, ou 7 sacas por hectare. Com o preço de US$ 1,00, o custo com o diesel sobe para US$ 198 mil, equivalentes a 20 sacas por hectare. O produtor está gastando 13 sacas a mais só para o diesel.

O resultado de tudo isso que nas fazendas a necessidade tem sido a mãe das invenções. Os produtores inventaram o biodiesel caipira, composto basicamente por óleo de soja. Embora cause danos ao motor e à bomba injetora, é mais barato consertar do que abastecer com o diesel. As variações do biodiesel caipira são muitas. Alguns acrescentam álcool, parte de diesel ou vai puro mesmo. Outros, como o dono de um frigorífico em Rondodópolis inventou um biodiesel com sebo de boi, ao qual adiciona pequenas partes de diesel e de álcool metanol.

Porém, o pior é que esses esforços para fugir do petróleo caro, certamente não irão longe. Os produtores estão batalhando para ocupar a antiga esmagadora de soja da Bunge Alimentos, que se transferiu para a Argentina, fugindo do câmbio assassino do Brasil, onde se pretende produzir 300 mil litros/dia de biodiesel de soja, de girassol ou de mamona.

O receio é que a Petrobrás, que é um dragão louco por lucros na sua mistura conveniente de empresa estatal e pública, devore a inovação e induza o governo a taxar o produto com os mesmos impostos que hoje matam o diesel.

Para se ter uma idéia dos componentes na composição do preço da gasolina, aqui vão os cálculos: Formação do preço da gasolina "A" 800ml (pura, vendida pela Petrobras) = R$ 0,80. Álcool anidro 200 ml (20% misturado à gasolina) = R$ 0,24. Total = 1,04. Cide - pis/cofins (impostos federais) = R$ 0,44. ICMS (imposto estadual) = R$ 0,64. Total de impostos (104% do preço bruto) = R$ 1,08. Total (custo + impostos) = R$ 2,12. Lucro da distribuidora (em média por litro) = R$ 0,08. Frete (em média por litro) = R$ 0,02. Lucro do posto (em média por litro) = RR$ 1,39.

Quem consome 200 litros de gasolina por mês, o bolo fica assim dividido:o dono do carro gasta: R$ 494,00, o dono do posto ganha R$ 50,00, o dono do caminhão ganha R$ 4,00, a Petrobrás ganha R$ 16,00, e o governo embolsa R$ 216,00.

O receio é que a larga boca do dragão chamado Tesouro Nacional abocanhe o biodiesel e faça dela mais um fonte de receita para aplacar a sede de gastos, e na ponta, a economia continue pagando só impostos. Ingloriamente.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM





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