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Politica Brasil
Sábado - 03 de Junho de 2006 às 13:29
Por: Jaime Neto

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Há menos de 2 meses do início oficial da campanha eleitoral, o publicitário Mauro Cid, faz uma análise do quadro político local e nacional e revela as novas ferramentas do marketing que serão usadas nestas eleições para conquistar o voto.

Com a experiência de várias campanhas vitoriosas no Estado, como a reeleição de Dante de Oliveira (PSDB) e a de Serys Slhessarenko (PT) para o Senado, Cid afirma que o termo 'marqueteiro' ganhou um sentido pejorativo após os escândalos envolvendo Duda Mendonça e o uso de 'caixa 2' nas campanhas. Leia os principais trechos da entrevista concedida na sede do MidiaNews:

MidiaNews – Que impacto terá na campanha essa minirreforma na legislação eleitoral. Com o fim dos showmícios e brindes, quem acaba sendo beneficiado com as mudanças?

Mauro Cid – Eu acredito que essa reforma eleitoral foi benéfica, pois antes o visual --outdoor, showmícios, camisetas, bonés e outros tipos de brindes, faziam que algumas candidaturas se sobressaíssem perante as outras. Isso, mais pelo visual que pelo conteúdo. Nesse aspecto a reforma vai dar uma condição de igualdade entre as diversas candidaturas.

MidiaNews – Mas essa reforma não vai prejudicar aqueles candidatos que ainda são desconhecidos e que precisam massificar a imagem?

Mauro Cid – Isso não se pode negar, pois na verdade essa reforma foi feita por aqueles que já têm mandato, há uma influência direta deles. Sem dúvida, a não exposição direta de novas candidaturas é mais benéfica para quem já tem mandato.

MidiaNews – Para o senhor que já participou de tantas campanhas, é possível realizar uma campanha eleitoral sem o famoso Caixa 2?

Mauro Cid – Sem recursos e dinheiro não se faz campanha. Da mesma maneira como não adianta o candidato ruim querer investir só no marketing ou colocar só dinheiro se ele não tiver conteúdo. Então, Caixa 2, Caixa 3, em determinados casos, não faz diferença. Porém, enquanto não tivermos regulamentação do chamado dinheiro de campanha ou financiamento público, sempre vai continuar tendo um jeitinho de se fazer campanha sem passar por qualquer crivo da Justiça Eleitoral. Infelizmente essa é a grande realidade.

MidiaNews – Já que estamos falando em Caixa 2, como é ser considerado marqueteiro, no momento em que o Duda Mendonça – apontado o melhor do Brasil – se envolveu em escândalos nessa questão do Caixa 2. Ficou pejorativo usar a expressão marqueteiro?

Mauro Cid – Infelizmente a realidade é que o marqueteiro nesse momento é sinônimo de profissional caro, que leva dinheiro de desvio, de origem escusa. Existem aqueles que dizem que ideologicamente o marqueteiro quer ser mais do que o candidato, que quer mandar na campanha. O que não é verdade, pois a técnica do marketing aplicada à campanha continua válida. Portanto, os profissionais que têm os conhecimentos do marketing, seja em um produto ou nas eleições, influenciam decisivamente. Mas, o marqueteiro, o qual trabalha com campanha política, esse adquiriu, sim, um sentido pejorativo.

MidiaNews – Sempre foi dito que o candidato que tivesse o Duda Mendonça trabalhando para ele dificilmente perderia. Ele perdeu algumas eleições, mas esse era o conceito que se tinha dele. O marqueteiro realmente ganha eleição?

Mauro Cid – O marketing político, por meio do profissional, é fundamental e decisivo. Se o candidato – embasado em informações decorrentes de pesquisas, somadas aos conhecimentos da pessoa encarregada do seu marketing –, seguir as orientações, com certeza terá mais chances do que aqueles que não dispõem de qualquer orientação. Já participei de campanhas, somadas a qualidade do candidato, as quais o marqueteiro foi fundamental. Muitas vezes algumas virtudes de um determinado candidato estão adormecidas e o marqueteiro ajuda a despertá-las.

MidiaNews – Essa embalagem que o marqueteiro faz com o candidato, camuflando suas deficiências e exaltando as qualidades, não acaba criando uma imagem de uma pessoa que não existe. E que pode, depois de eleito, se tornar uma decepção para o eleitor?

Mauro Cid – É a grande briga entre forma e conteúdo. Dizem que as pessoas de marketing valorizam mais a forma do que o conteúdo dos candidatos, o que não é verdade. Historicamente nas eleições do Brasil, seja em Mato Grosso ou no plano nacional, a chamada elite ou eleitorado mais esclarecido é o que mais vota nesses candidatos que apresentam mais forma do que conteúdo. Diferentemente do eleitor rotulado de não esclarecido. Esse, aliás, sempre dá lições a cada eleição que passa. Então não se pode culpar o marqueteiro de que ele fica envelopando o candidato para poder fazer com que o eleitor se engane e vote pela forma e não pelo conteúdo.

MidiaNews – Existem novas ferramentas que o marketing irá colocar em prática nessa eleição?

Mauro Cid – Eu diria que há duas novas ferramentas. Uma delas é exatamente a possibilidade do uso da internet de uma maneira mais intensa, mais profissional. Nós já temos hoje sabidamente uma população, consequentemente um eleitorado, que acessa cotidianamente a internet e se informa por meio dela. Em termos percentuais, de pesquisa que realizamos em Mato Grosso, hoje há mais de 1000 mil pessoas que acessam diariamente a internet.

MidiaNews – E qual é a importância desse acesso em massa da internet?

Mauro Cid – As pessoas que acessam a internet podem multiplicar as informações que elas adquirem. Se lá elas vêem informações que lhes interessam, sejam nas áreas de política, econômica, entre outras, elas normalmente reenviam as mensagens para mais dez pessoas das quais têm na sua relação de E-mails. Então dá para fazer essa multiplicação em termos de eleitorado de mato Grosso. O maketing da eleição 2006 vai transformar a internet naquilo que nas eleições anteriores se fazia com as chamadas assessorias de imprensa.

Isso quer dizer que hoje o homem de imprensa, o jornalista, ou seja, a pessoa que vai estar envolvida na divulgação do candidato vai ter sim que saber utilizar a internet, com seus sites e portais de notícias para poder situar as ações de cada candidatura no seu dia-dia perante o eleitorado. Além de alimentar redações de jornais impressos ou às pessoas de uma maneira direta nos seus E-mails, é preciso que o jornalista hoje tenha essa visão da possibilidade de estar falando com um potencial eleitor por meio da internet, que será umas das grandes ferramentas nas campanhas nas eleições 2006.

MidiaNews – E a outra ferramenta, qual seria?

Mauro Cid – A segunda grande utilização, acredito eu, vai ser feita pelo telemarketing, o uso do telefone para se comunicar e mandar mensagem para o eleitor, que nada mais é do que a conciliação do uso da internet associada à possibilidade do telefone.

MidiaNews – A sociedade hoje está cada dia mais dinâmica, você até citou a agilidade da internet. As campanhas também vão se tornar mais dinâmicas? Aquele candidato mais moroso corre o risco de ficar para trás? Qual a avaliação que você faz deste conceito de sociedade moderna no campo eleitoral?

Mauro Cid – Essa campanha, em termos de utilização e da exposição do candidato perante seu eleitorado vai ter 45 dias. Neste período os candidatos vão ter que resumir o que pretendem fazer, pedir o voto do eleitor, dizer o que o eleitor quer ouvir e porque esse eleitor deve votar neles. Não vai ter mais aquela estrutura pesada do showmício, por exemplo, e os possíveis palanques eleitorais vão ter pouca influência no voto. Ainda que nós saibamos que os eleitores vão chegar na reta final das eleições, pelo menos 40% deles, indecisos. Mas não vai ser via palanque que o eleitor vai se decidir, será via internet e mensagem do telemarketing na casa dele. Via uma mala direta específica, já com o endereço sabendo qual é o seu perfil. É para essas pessoas que a eleição, mais do que nunca, vai ser direcionada.

MidiaNews – E quanto as classes C e D da população que não têm computador em casa?

Mauro Cid – A maioria dessas pessoas hoje possuem telefone em casa e começam ser alcançadas via internet. Em cada casa dessas classes há pelo menos uma pessoa na idade de 17 ou 18 anos que freqüenta um curso universitário ou está terminando o terceiro ano e, essa pessoa está antenada na internet. Com certeza essa eleitor vai influenciar dentro de casa os seus pais e parentes em relação ao voto.

MidiaNews – Quanto custa hoje uma campanha para governo em Mato Grosso?

Mauro Cid – Aí voltamos na história do Caixa 2. Quanto custa uma campanha oficial e quanto custa pra valer. Mas vamos dar pré-orçamentos de instrumentos que eu considero fundamentais para o andamento de uma campanha. Você não pode dispensar uma produção de televisão, pois ela continua tendo seu efeito multiplicador. Também não se pode dispensar a produção de rádio, acrescido hoje ter um bom trabalho via portais, via internet e de um bom telemarketing. Eu diria que com todos esses itens, numa campanha de governo, não se gastaria menos do que R$ 5 milhões de reais.

Nesses R$ 5 milhões entra outra questão, o candidato da proporcional é o que mais se preocupa com a chamada boca-de-urna. Não adianta a legislação dizer que é proibida, nada proíbe o candidato de ter um exército, vamos dizer assim, de três ou quatro mil pessoas trabalhando para ele de porta em porta. Essa é a verdadeira boca-de-urna. Não aquela de ir para o dia da eleição ficar nas portas das seções distribuindo santinhos. Numa candidatura proporcional isso é trabalhado e dá resultado que reflete na candidatura majoritária. Com isso o candidato a governo vai gastar um pouco mais do seu orçamento com apoio aos proporcionais. Resumindo, com R$ 8 milhões se faz uma boa campanha para governo; na de Senado seria mais ou menos o mesmo percentual de governo, os proporcionais para federal de R$ 4 milhões e estaduais R$ 3 milhões, por aí o candidato começa a dizer que pode chegar no seu eleitorado.

MidiaNews – Tocando na questão da classe política, que nunca esteve tão desgastada, você deve ter pesquisa qualitativas que indicam isso, como chegar no eleitor e dizer: “olha eu sou político e quero pedir o seu voto”. Como ganhar a simpatia do eleitorado que não aguenta mais ouvir tantos escândalos envolvendo a classe política?

Mauro Cid – Estamos vivendo um momento um tanto quanto inusitado na história do país de falta de credibilidade da classe política, que eu me arriscaria a dizer que se a eleição fosse daqui a 20 dias teríamos um percentual de aproximadamente 40% de pessoas se abstendo de votar. Hoje há um desesperança com as pessoas com quem tem mandato, não com a política, pois cada vez mais a sociedade toma consciência de que ela não pode ser omissa. Se há mensalão e sanguessuga, são frutos, muitas vezes da omissão da sociedade e do Estado que não fiscaliza. Então acredito que o político que fez um bom mandato não tem porque se preocupar. Agora aquele que usou o dinheiro do povo para benefício próprio, deve estar mais do que nunca temeroso e vai ter dificuldades de encarar seu eleitor.

MidiaNews – Como o senhor está vendo o quadro sucessório hoje, acredita que a eleição do governador Blairo Maggi está praticamente definida ou não?

Mauro Cid – Não diria definida, mas que ele tem uma vantagem amparada em dois pontos. Uma pelo fato dele ser governador, e já tenho essa experiência de reeleição de quem está no poder já leva uma vantagem sobre seus adversários. No caso dele, além de estar no poder, tem uma avaliação positiva junto ao eleitorado. Mas não é uma eleição ganha, pois sempre há resíduos contrários. O Blairo se elegeu governador em que ele era novidade contra o conhecido, hoje isso mudou, pois ele já é conhecido. Ele veio com a promessa de quebrar paradigmas e de criar um gerenciamento no Estado. Se o eleitor pegar o programa de governo apresentado na campanha e for analisar o que foi feito vai perceber que muita coisa ficou no caminho, então o adversário está atento a isso. Veja a questão do protesto dos setores do agronégocio muitas pessoas o criticavam por não tomar posição. Portanto ele não é imbatível.

MidiaNews – A eleição vai ficar polarizada entre PT Serys e Blairo, ou vai surgir uma terceira candidatura?

Mauro Cid – Eu acredito que vai se polarizar. Se surgir uma candidatura hoje está muito mais para o PSDB, pois está isolado no contesto da política de Mato Grosso. Porém, os membros desse partido sabem que estão centrados na figura do senador Antero Paes de Barro, que pode se decidir a ser candidato a governador, que ajudaria muito mais o partido, mas ele está pensado nele na possibilidade de uma reeleição ao senado o que também é justo. Então se surgir uma nova candidatura seria essa, não vejo um nome. Também tem o Dante, que de repente pode estar querendo testar sua força, mas é difícil dentro desse contexto todo. Da mesma forma como eu vejo o Jaime Campos, que se fosse candidato ao governo o Blairo não teria sua reeleição assegurada. Caminha-se para essa polarização, se surgir uma terceira candidatura será do PSDB.

MidiaNews – O senhor acha que a eleição para o senado está aberta e será até mais acirrada que a de governo?

Mauro Cid – Cada vez mais a candidatura do Jaime Campos se aproxima de ser a de consenso do Blairo Maggi , não do PPS, que coloca algumas restrições. A candidatura do PSDB está solta, dependendo da situação do Antero. O Eraí Maggi afirma que é candidato pelo PDT, sem nenhuma expressividade e somatório dentro do quadro geral da política e resta agora saber se o PT ou o PMDB teriam um nome a colocar. Eu diria que a disputa de senado é a que mais vai influenciar o resultado de governo, porque vão ser forças majoritárias praticamente independentes, pois há pessoas que votam no Jaime mas não votam no Blairo e vice-versa.

MidiaNews – No plano nacional, como o senhor analisa as eleições, já que o Lula se distância cada vez mais do Alckmin nas pesquisas?

Mauro Cid – O Lula está no poder e está sabendo se utilizar disso. Seu governo tem uma economia que está definida, e o segmento da economia nacional não quer mudança e não tem porque querer. É o caso dos banqueiros que nunca tiveram numa situação tão privilegiada. Aí tem o eleitorado de massa, se formos aos mercados e lojas de eletrodomésticos e olhar quem está comprando, é a população de mais baixa renda, ou de média. Esse pessoal vai fazer a seguinte análise: “vamos tirar o Lula para colocar o Alckimin, mas o que ele tem melhor do que o Lula, o que ele tem a acrescentar?” O Alckimin sofre o desgaste do Fernando Henrique Cardoso, se for feito uma pesquisa com o povo e perguntar se ele quer o Lula ou o FHC eles vão dizer que querem o Lula. Será que não há um grande acordo político, será que depois o Lula não vai chamar figuras do PSDB para garantir a governabilidade? Essa é uma indagação que eu faço.





Fonte: Do MidiaNews

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