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Politica Brasil
Quinta - 01 de Junho de 2006 às 08:12
Por: Celso Bejarano Jr.

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A cozinheira Zildete Leite Reis disse ontem em audiência da CPI dos Bingos, em Brasília, que agiu como uma espiã dentro da casa do bicheiro João Arcanjo Ribeiro para “incriminá-lo algum dia”.

Ela trabalhava para Arcanjo em festas e reuniões promovidas pelo bicheiro. O irmão dela, Acácio Marques, teria sido assassinado 12 anos atrás por ter roubado cabeças de gado de uma fazenda de Arcanjo.

Zildete confirmou ainda o que dissera antes ao Ministério Público de São Paulo: Arcanjo foi procurado por Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, suposto mandante da morte do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel.

O depoimento de Zildete durou umas duas horas. A intenção dos parlamentares era saber detalhes do diálogo mantido por Arcanjo e o Sombra em 2001.

A conversa teria ocorrido na casa do bicheiro, uma mansão erguida no bairro Boa Esperança em Cuiabá.

Zildete narrou que viu Arcanjo, o Sombra e “outras pessoas” conversando sobre a morte de um político importante de São Paulo.

Pelo diálogo ouvido, segundo a cozinheira, Sombra estaria buscando um pistoleiro daqui. Contudo, os dois teriam resolvido contratar um matador de aluguel lá de São Paulo.

A cozinheira disse ainda que ouvia os diálogos assim que entrava ou saia dos locais onde ia servir bebida ou comida aos convidados do bicheiro. “A porta ficava entreaberta”, disse insinuando que escutava as conversas de modo intencional.

“Eu precisava de uma carta na manga para depois denunciá-lo. Ele (Arcanjo) mandou matar meu irmão”, acusou.

A cozinheira contou aos parlamentares que seu irmão trabalhava para Arcanjo até ser assassinado.

“Com ele (Arcanjo) era assim: te dou um milhão, mas não me roube um tostão”, disse Zildete ao revelar que o seu irmão havia “desviado” cabeças de gado de uma fazenda onde trabalhava para Arcanjo.

A cozinheira informou ainda que os seguranças contratados pelo bicheiro tornavam-se pistoleiros “com o tempo”. O irmão assassinado teria sido um deles.

Logo depois de ter dito isso, Zildete pediu para que fosse incluída no programa de proteção a testemunhas.

Ela contou que vem recebendo ameaças e concordou com os parlamentares que sugeriram quebrar o sigilo telefônico dela.

Tráfico

A cozinheira narrou também que um “representante” de Fernandinho Beira-Mar, traficante preso, tinha negócios com Arcanjo. Essa pessoa, que ela não soube informar o nome, vinha com freqüência a Cuiabá conversar com João Arcanjo.

Já quanto ao Sombra, ela afirmara ter visto junto com Arcanjo, mas não o reconheceu por meio de um telão instalado na sala da CPI.

Ela disse aos parlamentares que não o distingui porque em 2001, cinco anos atrás, Sombra usava cavanhaque.

“Se vocês quiserem falo isso na frente dele. Pode ser que ele não me conheça mais porque eu era bem gorda. Mas repito tudo que disse na frente dele”, desafiou a cozinheira.

Bicheiro já negou as acusações

Em recentes depoimentos o bicheiro João Arcanjo Ribeiro negou envolvimento com a morte do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel. Quanto ao depoimento da cozinheira Zildete Reis, ele desmereceu ao dizer que contratava apenas cozinheiro homem.

Zildete vem testemunhando contra Arcanjo desde o ano passado. Primeiro ela mandou uma carta ao Ministério Público paulista.

Chegou a ser protegida pela Polícia Federal, segundo ela, mas depois veio para Cuiabá devido à doença de um parente. Agora, ela pediu nova proteção. “Perdi minha vida ao contar o que estou contando agora”, disse Zildete aos parlamentares que integram a CPI.

A CPI dos Bingos tenta ainda descobrir uma ligação entre Arcanjo e o empresário Ronan Maria Pinto, que já tocou empresa de ônibus em Cuiabá. Ronan é parceiro de uma offshore no Uruguai e amigo de Sergio Gomes, o Sombra, suspeito de mandar matar o ex-prefeito. No depoimento, Zildete disse que Sombra seria sócio de Arcanjo em uma empresa de ônibus da capital. Arcanjo disse na semana passada ao Ministério Público paulista que nem sequer conhece Ronan ou Sombra.





Fonte: Folha do Estado

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