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Politica Brasil
Terça - 30 de Maio de 2006 às 08:44
Por: Onofre Ribeiro

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Moro na mesma casa há mais de 20 anos. Temos um quintal bem grande, gramado e com algumas plantas. Deu praga de tiririca numa parte do gramado, que precisou ser retirada com aplicação de veneno.

No lugar não nasceu nova grama, apesar de replantada diversas vezes. É um lugar de muitas pragas que vieram não sei de onde. Bom, a partir daí, precisamos mandar limpar o quintal muitas vezes, porque as pragas se espalharam.

Aqui entra a questão central da conversa. Contratamos um jardineiro para fazer o trabalho. É uma luta, porque ele marca e não aparece, depois aparece e conta umas estórias onde sempre é vítima de uma série de coisas....

Quando vem, não tem enxada, nem carrinho, nenhuma ferramenta. Demora de dois a três dias para fazer o serviço e reclama o tempo todo. Diz que o chão está duro, que tem muito mato, que o sol está quente ou que a chuva está fria. Depois carregar o entulho para o container é outra choradeira. Recebe o combinado e vai embora, sempre com a sensação de que recebeu pouco pelo serviço, embora o preço tenha sido dele.

Nesta semana precisamos dos serviços dele e, mais uma vez, a mesma moagem.

Contratamos um rapaz desconhecido, indicado por amigo. Ele marcou às 7 da manhã, e chegou às 7 da manhã. Veio de bicicleta junto com um amigo bem jovem.Trouxe as ferramentas, incluindo o cortador de grama e começaram logo. No final da tarde estava tudo limpo, arrumado e pagos. Foram embora satisfeitos. E nos deixaram satisfeitos sem aquela sensação de insatisfação do outro.

Esta estória é para avaliar a diferença de atitudes em relação a esses trabalhos eventuais e autônomos. Pode ser um bombeiro, um eletricista, um mecânico, um técnico de informática ou de máquina de lavar ou de fogão. Uma casa ou empresa sempre tem serviços eventuais que incomodam muito quando aparecem os defeitos.

O trabalhador anterior, não a mínima noção de gestão e nem de empreendedorismo. O outro tem e faz três trabalhos no prazo que aquele faz um. Ganha três vezes mais e garante que será chamado nas próximas vezes.

A verdade é que o desemprego tem muito a ver com essa incapacidade crônica das pessoas de buscarem alternativas e de gerenciarem bem sua atividade profissional. O primeiro trabalhador é um sério candidato ao populismo e ao assistencialismo público. Talvez nem tanto por índole, mas por desinformação. O outro, tem noção do auto-gerenciamento e ocupa importante lugar no contexto social. Para qualquer um de nós que tem uma série de atividades, a maioria dos serviços domésticos acaba sempre ficando em segundo plano e gerando os naturais transtornos. É um alívio quando aparece um trabalhador que compreende isso e resolve os problemas.

O dia a dia mostra isso sempre, sempre. A vida moderna tem uma série de itens que não existiam há alguns anos e que geram problemas. Seja o pneu do carro furado quando a gente já vestiu o terno para sair, ou está de terno na rua e tem pressa. Ou a descarga do banheiro que deixou de funcionar, a tomada que entrou em circuito, a geladeira que parou, o microondas que dá mau contato, etc.etc.

Por mais óbvio que pareça, a verdade é que existem mais serviços por fazer do que trabalhadores disponíveis numa série de áreas. O que falta é a educação mínima para ensinar-lhes a se gerenciarem e ganharem dinheiro com toda a dignidade.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM





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