Silêncio e omissão
A propósito, venho desenvolvendo conversas com muitas pessoas sobre esse estado de letargia em que se debate o país com sucessivas crises morais: mensalões, denúncias de corrupção, desvio de dinheiro público, exportação de dinheiro público para o exterior, loterias e bingos, o desmoronamento da ética do Partido dos Trabalhadores e da maioria dos demais, a omissão do presidente da República nisso tudo, as CPIs que apuram e desapuram e o plenário da Câmara dos Deputados despunindo, o PCC, a polícia vingativa de São Paulo, os sanguessugas, o estica-encolhe do Judiciário com os bandidos comprovados e com todos os suspeitos, etc.etc. Sem contar a doçura do governo brasileiro com a Bolívia no episódio da Petrobrás e na expulsão dos brasileiros que produzem legalmente naquele país.
Esse estado de coisas é profundamente incômodo e fere a dignidade de todos os cidadãos. Acaba criando uma sensação de desamparo muito desconfortável.
A raiz, neste momento, pode estar em 4 pontos estratégicos do país:
1- O Congresso Nacional, que absorveu toda a crise que começou no Poder Executivo. Por inépcia ou por culpas históricas, o Congresso é o vilão da crise, contra um presidente da República que nada feliz na superfície da lama;
2- As universidades sempre foram formuladoras críticas em horas de crise. Da academia sempre nasceram proposições. Despolitizadas, embora possuindo bons quadros, as universidades perderam a fala;
3- Cala-se a classe média, espremida entre a farra financeira do governo com os bancos e com o grande capital, e o populismo governista nas bases da população. Louca para não cair e para sobreviver, perde renda e poder político;
4- A mídia, não produz fatos. Reproduz os que a sociedade gera. Como o Congresso só gera denúncias, o Executivo é palco de denúncias, o Judiciário julga casuisticamente, então, a mídia só reproduz o eco do silêncio de quem deveria produzir os ruídos capazes de ecoar saídas desse marasmo ruim.
Quando os setores críticos da sociedade deixam de atuar proativamente, o denuncismo acaba tomando o lugar das proposições e dos debates que produzem soluções.
O que se vê hoje é um profundo anestesiamento da sociedade brasileira. O PCC fez e aconteceu, parou a maior cidade da América do Sul, e a policia reagiu da pior forma: matando os adversários. Isto é guerra declarada. Não é solução para o tamanho do problema que aflorou.
Se São Paulo baixou a cabeça, quem diria outros estados? Estamos a um passo das eleições gerais e não se levantaram discussões objetivas sobre o Brasil atual e o Brasil do ano que vem em diante. Parece-me que temos muito mais desordens da ordem desejada, do que podemos assinalar. A maior desordem, talvez, seja esse silêncio comprometido do Congresso Nacional, amortecido das universidades, amedrontado da classe média, e omisso da mídia.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
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