Bailarinos cariocas premiados em NY buscam patrocínio
"A bolsa é importante para os meninos pelo contato com a dança no exterior e para eles se auto-avaliarem. Mas não posso pagar nem parte das despesas porque já estou devendo R$ 10 mil da viagem para Nova York", diz o coordenador do projeto, o bailarino e professor Jorge Teixeira. "Bailarinos brasileiros são tão valorizados quanto os jogadores de futebol, por causa da técnica e da versatilidade. Afinal, quem dança samba aprende qualquer outro estilo, tem malemolência. O problema é que, ao contrário dos atletas, não há olheiros que buscam bailarinos ainda no início da adolescência. As grande companhias até contratam jovens talentosos, mas quando já estão formados."
No caso dos cariocas, ainda faltam alguns anos, mas eles prometem. Dos oito solistas do Lyceu que foram a Nova York, Marcela Paiva obteve o primeiro lugar e recebeu bolsa de um ano para a Academia Princesa Grace, que forma os bailarinos do Balé de Monte Carlo. Alice Bento vai para São Petersburgo (onde se formou Rudolf Nureyev), Helenilson Ferreira e Luíza Bello vão para o Harrid Conservatório na Flórida, Estados Unidos, e Thayara Teixeira, para o Winnipeg Royal Ballet, do Canadá. Dos cinco, apenas as duas primeiras têm recursos para a viagem. Os outros, como vêm de projetos sociais, precisam de patrocinadores. "Helenilson e Thayara ainda podem esperar um ano e viajar só em meados de 2007, pois têm 13 anos", conta Teixeira. "Nossa escola já tem história. Ricardo Santos, que ganhou bolsa para o Balé da Austrália em 2005, hoje é profissional daquela companhia."
Teixeira tem parceria com o Lyceu há oito anos. Dá aulas para pagantes e recebe alunos vindos de projetos sociais como Dançar para não Dançar, Luar da Esperança e Bom Jesus. Estes grupos usam a dança como meio de acesso à cidadania, mas o foco principal não é formar bailarinos. "Quando os meninos e meninas mostram vocação e talento, vêm para cá onde completam a formação", explica o professor, cuja história difere da maioria de seus colegas de profissão. "Sou formado em belas artes e comecei na dança com sapateado, criando o Grupo Talhe. Meus bailarinos sentiram falta de aulas de clássico e eu chamei profissionais para ensinar-lhes, mas faltava didática, embora sobrasse talento em cena. Então, tornei-me professor autodidata."
Seu projeto começou há quase duas décadas na Ilha do Governador e, há oito anos, está no Lyceu. "Além das aulas gratuitas, os alunos vindos dos projetos sociais têm ajuda de custo. Na aula e nos concursos não há diferença de tratamento. Exijo disciplina e aplicação de todos igualmente", garante o professor. Ele conta que a maturidade dos bailarinos brasileiros impressiona. Marcela, por exemplo, venceu o concurso dançando Carmem (extraído da ópera de Bizet) e o Cupido de Dom Quixote. Alice fez Paquita e o grupo todo dançou A Filha do Faraó, pelo qual recebeu uma menção no festival. "No Brasil, os bailarinos começam mais cedo e, quando chegam lá fora, os de 13 anos têm o nível de um aluno de 15 ou 16 anos."
É o caso de Marcela, que tem 15 anos e dança desde os 3, mas só aos 10 decidiu que queria ser bailarina. Ela está no 1.º ano do Ensino Complementar e pronta para embarcar. "É meu sonho, quero ser primeira bailarina de uma grande companhia internacional", diz a menina, que não teme a solidão e a distância da família. "Tudo vale a pena pelo tanto que vou aprender."
Atualmente Teixeira tem 18 alunos carentes e busca patrocínio para ampliar suas turmas. Ele já inscreveu o projeto na Lei Rouanet e conta ter tido, há três anos, promessa do prefeito César Maia de um espaço para os cursos e verba para receber mais alunos. "Ainda estou esperando", brinca. "Quando vier, poderei ter 60 ou 120 alunos, que vão dançar aqui no Brasil ou representar o País lá fora. Talentos temos de sobra."
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