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Politica Brasil
Sexta - 12 de Maio de 2006 às 15:39
Por: Helmute Augusto Lawisch

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O Movimento "O grito do Ipiranga" nasceu da revolta dos produtores de Ipiranga do Norte - município recém-criado e localizado no Médio-Norte mato-grossense, formado de pequenos produtores assentados que decidiram trancar os armazéns que guardam a sua produção: soja, arroz e milho a mais de 20 dias. Em solidariedade a estes produtores e entendendo a necessidade de reagir diante do descaso governamental à atual situação que se encontra o Agronegócio Mato-grossense, vários produtores aderiram ao movimento em nosso Estado e outros estados produtores, como Goiás, Tocantins, Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Hoje o movimento apelou para ações mais radicais, bloqueando a passagem de produtos (caminhões carregados) em diversas BR’s do nosso Estado, com um sentimento muito claro de quem com o apoio dos transportadores - que também reivindicam uma pauta semelhante à nossa -, o movimento caminha para o desabastecimento dos grandes centros.

A opinião pública precisa saber que a crise ora instalada é uma crise anunciada há mais de 15 meses. Pelo quadro atual, algumas perguntas precisam ser respondidas:

1- Por que o Mato Grosso era, a dois anos atrás, o oásis da produção nacional e hoje clama por ajuda governamental?

A resposta é simples: Porque os produtores mato-grossenses endividaram-se e hoje não conseguem honrar seus compromissos. Porém, este endividamento tem causas claras que a sociedade brasileira precisa saber.

Uma dessas causas é o aumento ou expansão da atividade agrícola em nosso Estado. Nos últimos 10 anos, Mato Grosso triplicou a sua produção. Isto não ocorreu num passo de mágica. Foi preciso incorporar novas áreas ao processo produtivo, foi preciso investir em máquinas e equipamentos modernos e, para isso, o produtor fez investimentos baseados em programas de créditos oficiais - Moderfrota e Moderinfra, por exemplo – baseando-se nos preços praticados na época, quando a soja era vendida a R$ 30,00 a saca.

A sociedade brasileira ganhou com o incremento da nossa produção. O Brasil passou de 80 para mais de 120 milhões de toneladas de grãos no mesmo período. Gerando superávit na balança comercial, empregos nas indústrias do Centro-Sul do Brasil e ainda milhões em impostos. Ocorre que agora chegou a hora de pagar a conta, e o preço de remuneração ao produtor está, no caso da soja, a R$ 15,00 a saca - 50 % do que se planejou.

Outro aspecto relevante é o aumento do custo de produção. Nós plantamos soja em Mato Grosso há mais de 20 anos, e sempre o custo ficou entre 200 a 300 dólares por hectare plantado. Hoje, nosso custo extrapola a casa dos 450 dólares. Aumentos nos fertilizantes, óleo diesel, fungicidas e transporte. Nós precisamos globalizar os nossos custos de produção. Não é possível concorrer neste mercado globalizado com custos estratosféricos como os nossos. Basta! Os produtores exigem diminuição da carga tributária já! Tanto a estadual como a federal.

Há que considerar-se, ainda, a defasagem cambial ou descompasso no câmbio. Em duas safras consecutivas o produtor investiu com dólar alto e perdeu na venda com dólar mais baixo. O que é isto? Na safra 2004/05, no momento do plantio, o dólar estava na casa de R$ 3,00 e no momento da venda (que é a remuneração) da mesma safra o dólar baixou para R$ 2,40. Nesta safra ora colhida (2005/06) plantamos com o dólar a R$ 2,40 e estamos vendendo agora com o dólar a R$ 2,08. Isto é o caos para a nossa atividade, assim como também o é para toda a produção que se destina à exportação. Basta olhar para os calçadistas do Sul do Brasil.

Houve também a diminuição de produtividade. Nos últimos três anos, os produtores mato-grossenses tiveram problemas. Em 2004, nossa região (BR 163) sofreu com o excesso de chuvas; em 2005 os produtores do Sul do Estado sofreram com a seca (estiagem); e em 2006 todo o Mato Grosso produziu menos por culpa da Ferrugem Asiática, que dizimou entre 10% a 15% da nossa produção, dependendo da região. Consequentemente, não havendo Seguro Rural, o prejuízo recaiu sobre o produtor mais uma vez.

Isso sem falar na falta de infra-estrutura. Nós devemos às instituições bancárias, e mais ainda aos credores privados. Porém, o Governo Brasileiro de longa data nos deve Infra-estrutura. Faz mais de 20 anos. Passa ano, passam governos, e nós não somos atendidos. Só promessa. A nossa logística de escoamento da produção é burra e inconseqüente. O governo arrecada e não faz o mínimo necessário de infra-estrutura, seja rodoviária, ferroviária ou naval, para acompanhar o crescimento da produção do nosso Estado e do Brasil. Cadê a CIDE? Cadê as melhorias nos portos? Cadê a Ferronorte, BR 163, BR 364, BR 158?

O que nós queremos é fazer um encontro de contas com o Governo Federal. Pagamos o que devemos, porém o governo nos paga com a falta de infra-estrutura adequada para o escoamento da nossa produção. Cansamos de esperar!

Outro ponto fundamental que a sociedade deve saber é que o perfil da nossa dívida ora contraída é diferente da de 11 anos atrás, quando devíamos 90% aos bancos oficiais e hoje a dívida dos produtores mato-grossenses é 65% para credores privados e somente 35% para bancos oficiais. Precisamos, então, resolver este novo cenário com muita inteligência.

Sobre os anúncios oficiais, a sociedade precisa saber que quando estivemos em Brasília no movimento "Tratoraço", em março, nos foi prometido R$ 3 bilhões para sanar nossos problemas com os credores privados, e isto não ocorreu. Este recurso não chegou aos produtores por problemas burocráticos. Hoje, o governo anuncia que vai liberar outros R$ 14 bilhões para a classe produtora brasileira. R$ 5 bilhões deste montante é para EGF’s (Empréstimos do Governo Federal) para nós, produtores, carregarmos nossa produção e vender em 180 dias, cobrando juros no período.

O que nós queremos é a AGF (Aquisição do Governo Federal). Que está na Lei do Programa de Garantia de Preços Mínimos.

Não somos especialistas em movimentos. O sabemos mesmo é produzir. Porém, não temos o reconhecimento do governo que nos chama de caloteiros. Porém, queremos da sociedade ao menos compreensão, senão o respeito, porque nossa produção garante esse Estado e esse país.





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