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Internacional
Sábado - 06 de Maio de 2006 às 19:00

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Um acordo de paz assinado pela maior facção rebelde de Darfur e o governo sudanês não porá fim ao conflito de três anos, mas pode propiciar mais proteção a milhões de refugiados.

A recusa de duas facções rebeldes de participar do acordo assinado na sexta-feira, que representou o fim de dois anos de conversações na capital da Nigéria, mostra que as divisões entre os grupos étnicos de Darfur não foram resolvidas.

Muitos analistas duvidam da sinceridade do governo, que detém a chave da implementação do acordo, pelo fato de que Cartum já minou muitas resoluções no passado.

"O governo estaria fazendo um erro se pensa que assinar com uma das partes vai trazer a paz", disse à Reuters Hassan Abdallah Ahmed, vice-líder do Partido do Congresso Popular, islâmico e de oposição.

Uma facção do Exército de Libertação do Sudão (ELS) dirigida por Minni Arcua Minnawi assinou o acordo de paz com Cartum, sob intensa pressão das potências ocidentais, exasperadas por sua impotência diante dos massacres em Darfur por milícias que têm o apoio do governo, chamados de genocídio por Washington.

Alguns comandantes de uma outra facção do ELS também assinaram o acordo, mas o líder de uma facção rival, Abdel Wahed Mohammed al-Nur, e os de um outro grupo rebelde, o Movimento pela Justiça e Igualdade, se recusaram.

"Assinar um acordo incompleto é a garantia de que não haverá paz em Darfur e isso é conveniente para o governo", disse John Prendergast, conselheiro sênior do International Crisis Group.

"Estou certo que o governo procurará explorar as divergências entre os rebeldes para alimentar os conflitos em Darfur. Os governantes não estão interessados na paz, mas apenas se curvando à pressão e à crítica internacionais."

Os rebeldes pegaram em armas contra as milícias árabes apoiadas pelo governo em 2003, devido ao que consideravam negligência e opressão do governo dominado pelos árabes.

As milícias Janjaweed, que cavalgam camelos, embarcaram numa campanha de incêndios criminosos, saques e estupros, que levou 2 milhões de pessoas a procurarem campos de refugiados e à morte de milhares.

"O conflito de Darfur não será resolvido até que exista diálogo entre todos os grupos étnicos em Darfur", disse um analista em Cartum, que pediu que seu nome não fosse revelado.

"Existe um problema real entre os nômades e os grupos urbanos", afirmou ele, acrescentando que os vizinhos Eritréa e Chade também alimentam a guerra.

PROTEÇÃO PARA OS REFUGIADOS

Os analistas se mostraram mais otimistas sobre a maior proteção aos milhões de refugiados, que ainda estão expostos a ataques. Eles disseram que o acordo pode acelerar a chegada de representantes das Nações Unidas a essa região desértica do tamanho da França.

Washington vem pressionando pelo envio de representantes da paz da ONU com poderes para intervir no conflito. Esse contingente substituiria uma força de 7.000 soldados da União Africana (UA), que se mostrou pequena demais e com poucos poderes para fazer vigorar um cessar-fogo.

Cartum insistia que um acordo de paz com os rebeldes era uma pré-condição para a presença de uma força da ONU.

"Os outros rebeldes (que se recusaram a assinar o acordo) adorariam estragar tudo. É por isso que o acordo de paz é apenas o primeiro passo e uma força robusta é uma necessidade em Darfur", disse Leslie Lefkow, pesquisador do Human Rights Watch.

Os Estados Unidos disseram que vão pedir a Ruanda que aumente a presença da UA com 1.200 soldados, enquanto a ONU não assume o controle de um contingente com mais força, ainda este ano.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que pressionará o Sudão a permitir que planejadores da ONU vão à região para preparar a organização das tropas e exortou os países doadores a contribuírem para a ajuda humanitária.

As Nações Unidas foram forçadas este mês a reduzir pela metade a sua ajuda em alimentos para mais de seis milhões de pessoas no Sudão, metade das quais em Darfur, porque os doadores contribuíram com apenas um terço do apelo feito pela ONU este ano por 746 milhões de dólares.




Fonte: Reuters

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