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Meio Ambiente
Terça - 02 de Maio de 2006 às 19:50

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EAST LANSING, EUA - Levar uma surra do valentão para que seu amigo tenha a oportunidade de se dar bem pode soar como uma vida dura, mas funciona não apenas para alguns lagartos, como também pode fornecer um vislumbre do altruísmo em ação na biologia evolucionária.

Indivíduos de uma espécie comum de lagarto norte-americano passam a vida tentando se reproduzir, e suas estratégias contêm lições sobre a evolução. Um artigo na edição do dia 9 de maio da revista Proceedings of the National Academy of Sciences fornece as primeiras evidências genéticas de uma característica que os animais reconhecem e usam - mesmo que ela pareça, a princípio, contraproducente.

"A cooperação é uma coisa traiçoeira em termos de teoria evolucionária", disse Andrew McAdam, professor de vida selvagem e zoologia na Universidade Estadual de Michigan e um dos autores do artigo. "A questão então é: por que alguns organismos cooperam, quando ser egoísta parece ser a melhor estratégia"?

Descobriu-se agora que está tudo nos genes.

Por duas décadas, Barry Sinervo, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade da Califórnia, principal autor do estudo, vem pesquisando os lagartos no Vale Central da Califórnia. Os machos se dividem em três cores de papo, que sinalizam comportamentos diferentes, que Sinervo descobriu seguirem ciclos parecidos com o do jogo de "pedra-papel-tesoura". Papo laranja

Os lagartos de papo laranja são os valentões, atravessando longas distâncias para fazer uma incursão nos territórios femininos e acasalar. Eles geralmente derrotam os de papo azul, que fazem o tipo caseiro. Os de papo azul permanecem perto de casa para proteger suas fêmeas e têm um sistema de parceria e proteção: um papo azul enfrentará um de papo laranja, permitindo que seu amigo permaneça saudável e acasale. McAdam explica que o altruísta papo azul faz isso mesmo que, como resultado, gere poucos, ou nenhum, descendente.

Os lagartos de papo amarelo são os discretos - eles casualmente se esgueiram nos refúgios femininos e acasalam sem chamar muita atenção. Os papo azul "derrotam" os papo amarelo, pois permanecem perto de casa e em alerta. Mas os de papo amarelo, por sua vez, derrotam os papo laranja, porque os valentões não estão perto de casa tempo o bastante para ficar de olho nas coisas.

A pesquisa se concentrou em por que alguns dos papo azul estão dispostos a deixar de lado suas próprias oportunidades de procriar, em benefício de um amigo. "Por que não abandoná-los e se tornarem solitários - por que não fazer tudo sozinhos?", disse McAdam. "Os papo azul podem estabelecer novos territórios e ser bem-sucedidos. Esse é o quebra-cabeças evolucionário que precisávamos resolver".

O mapeamento genético revelou que os machos de papo azul que agem como protetores e seus protegidos não têm nenhum parentesco - apesar de partilhar muitos genes. De alguma forma, disse McAdam, os lagartos altruístas sabem que estão trabalhando para passar seus genes para a frente, mesmo que os protegidos não sejam da família. A abordagem efetivamente frustra os valentões de papo laranja, embora a um custo pessoal.

O termo "barba verde" é usado, em biologia evolucionária, para definir uma característica que os membros de uma mesma espécie podem reconhecer, e que dá direito a algum tipo de tratamento preferencial. A barba verde, nesse caso, segundo McAdam, é mais do que um papo azul. O mecanismo de identificação entre protegido e protetor poderia ser um cheiro, ou possivelmente linguagem corporal. Os lagartos possuem um aceno com a cabeça que pode estar sinalizando uma semelhança genética.





Fonte: Agência Estado

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