Lula afirma que vai resolver "divergências"
Apesar de se colocar como mediador entre Mantega e Meirelles, Lula disse que os "juros vão continuar caindo", reforçando a posição do ministro no embate.
Anteontem, quando o BC sinalizou redução na intensidade da queda dos juros, Mantega, na Fiesp, declarou haver espaço de sobra para continuar cortando a taxa Selic.
"Não tem de ter duas posições, mas apenas uma, que é a do governo. O Banco Central se enquadra, a Fazenda se enquadra, eu me enquadro e todo mundo trabalha tranqüilo", afirmou o petista.
As declarações foram feitas em sua visita ao segundo Feirão Caixa da Casa Própria, em São Paulo.
No evento, Lula também falou publicamente, pela primeira vez, sobre a crise da Varig, indicando que o governo pode financiar eventual comprador, mas que não irá tentar recuperá-la com dinheiro público.
"Tenho dito que o governo não vai colocar dinheiro público. O que poderemos fazer é financiar a salvação da Varig desde que ela cumpra o seu papel."
Ao recusar a injeção de recursos públicos na Varig, Lula defendeu uma solução "de mercado" para a crise e disse concordar com o juiz Luiz Roberto Ayoub, que cuida do processo de recuperação judicial e é contra a falência da empresa, a qual considera viável.
O petista também amenizou suas críticas ao presidente da Bolívia, Evo Morales, que expulsou do país a siderúrgica brasileira EBX e ameaça estatizar poços de exploração de gás da Petrobras.
Conforme a Folha publicou anteontem, Lula disse aos colegas Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina, que a atitude do boliviano é "inaceitável" e "preocupante".
Ontem, o tom foi diferente: "Diziam que quando tomasse posse iria brigar com todo mundo, com os EUA. Estou terminando o mandato e nunca briguei com ninguém. Por que brigaria com o Morales?". Leia abaixo trechos da entrevista coletiva de Lula.
ATRITO- "Não há disputa entre Guido Mantega e Banco Central. Se há divergência de alguém com alguém, será dirimida pelo presidente da República. Nem o Banco Central está lá para divergir do Guido nem o Guido está lá para divergir do Banco Central. Estão lá para trabalhar e dar resultados para a sociedade brasileira."
GOVERNO- "Às vezes uma divergência política aparece na imprensa como se fosse uma guerra. Graças a Deus somos um país em que podemos ter pontos de vista diferentes. É a sétima queda de juros consecutiva, os juros vão continuar caindo, a situação econômica está sólida, o país está crescendo, o salário está aumentando. É isso que interessa para o povo brasileiro, que está comprando mais e comendo mais."
VARIG- "Tenho dito que o governo não vai colocar dinheiro público. O que poderemos fazer é financiar a salvação da Varig desde que ela cumpra seu papel. A Varig, assim como outras empresas do país, viraram uma espécie de paixão nacional. Mas essas coisas você não trata com o coração, mas com a racionalidade de uma empresa privada que tem problemas e que precisa encontrar soluções segundo as leis de mercado."
TRANQÜILIDADE- "Não quero que o país tenha problema neste mar de tranqüilidade que vivemos. Há uma situação privilegiada no país, que entrou numa rota de crescimento de longo prazo. A inflação estará controlada. Neste ano, 90% dos acordos salariais foram feitos acima da inflação."
MORALES- "Pretendo conversar com o presidente Evo Morales. Ele acabou de ser eleito e tem um governo muito novo. Ainda há muita coisa para acontecer na Bolívia, que vive uma situação de pobreza muito grande e é justo que o presidente defenda os interesses de melhorar a qualidade de vida de seu povo. Pode estar certo de que resolveremos as divergências. Ele foi eleito, um índio que chegou ao poder é extraordinário."
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