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Politica Brasil
Sábado - 29 de Abril de 2006 às 10:32

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio diretamente para evitar que as desavenças entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em torno da trajetória do juros crie outra crise dentro do governo.

Em conversas reservadas, o presidente determinou que os dois não troquem críticas públicas a respeito dos juros, segundo apurou a Folha.

A Mantega o presidente pediu que não bombardeie a política monetária de público e que traga a ele eventuais discordâncias. A Meirelles, que não pusesse lenha na fogueira e evitasse criticar, ainda que suavemente, o ministro da Fazenda.

Meirelles seguiu à risca a determinação e, ontem, em evento em São Paulo, minimizou as declarações dadas na véspera por Mantega, que não foram consideradas um ataque ao BC.

No entanto, apesar dos panos quentes do presidente, o episódio foi considerado "um passo atrás" na sintonia que vinha sendo construída com muito esforço entre o BC e a Fazenda.

Mantega não foi informado previamente sobre os termos exatos da ata do Copom (Comitê de Política Monetária que decide a trajetória dos juros), divulgada na última quinta-feira.

Segundo a Folha apurou, isso era uma prática comum quando Antonio Palocci Filho estava no comando do Ministério da Fazenda. Especialmente se estivesse programada uma participação do ministro em um evento público, como o que ocorreu nesta semana. Mantega esteve em reunião com empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) anteontem.

No encontro, marcado para o mesmo dia da divulgação da ata do Copom, Mantega deu declarações públicas sobre o processo de redução dos juros básicos da economia que se chocaram com os termos usados pelo Copom. Com isso, houve o primeiro grande conflito entre a Fazenda e o BC.

Apesar da reação pública de Meirelles, tentando amenizar as declarações do ministro, a cúpula do BC ficou contrariada, avaliando que as afirmações de Mantega só dificultariam reduções dos juros nas próximas reuniões do Copom e dão conotação política às decisões do comitê.

Meirelles fez chegar a Lula o seu desconforto. Lula enquadrou os dois, segundo disse à Folha um auxiliar direto do presidente.

O presidente também não gostou da ata do Copom. Lula gostaria de uma queda maior dos juros e sempre fez pressões de bastidor por isso. No entanto, com a troca de Palocci por Mantega, em 27 de março, o presidente reforçou o cacife do Banco Central.

Lula avalia que Mantega não tem a mesma credibilidade de Palocci perante o mercado. Daí ter dado mais poder a Meirelles, que está se reportando diretamente ao presidente da República. Nas palavras de um auxiliar, "Guido [Mantega] não é o Palocci". Ou seja, deveria ser mais cauteloso ao tratar da política monetária, tema que sempre rendeu dores de cabeça à equipe econômica.

Lula e o próprio Palocci discordaram diversas vezes do BC, mas nos bastidores. De público, porém, sempre apoiaram a política monetária.

Como o clima entre Mantega e a equipe do BC nunca foi de amizade, dentro da equipe econômica, os discursos públicos do ministro e de Meirelles são acompanhados com lupa.

Nas últimas semanas, a avaliação dentro do governo era que tudo estava caminhando em clima de sintonia e isso aproximaria os dois. No entanto, o episódio dessa semana voltou a criar um clima de constrangimento.





Fonte: Folha Online

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