Em dezembro de 2011, as duas revistas anunciaram que avaliavam a possibilidade de não publicar um estudo sobre essas mutações do H5N1 depois de um pedido do Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês), integrado por especialistas independentes. O órgão considerava que o vírus criado em laboratório poderia ser usado por bioterroristas. Os pesquisadores, por outro lado, argumentavam que, após poucas mutações que poderiam ocorrer na natureza, a gripe aviária seria transmitida muito mais facilmente entre humanos (o patógeno tem dificuldade para passar de pessoa para pessoa) e o resultado poderia ser uma perigosa pandemia. O estudo acabou publicado em 2012.
"As mutações (...) remanescentes poderiam evoluir em um único hospedeiro humano, fazendo de um vírus que se desenvolve na natureza uma ameaça potencialmente séria", disse em junho de 2012 a jornalistas Derek Smith, que liderou uma pesquisa da Universidade de Cambridge na Grã-Bretanha. "Porque os estudos da transmissão do vírus H5N1 são essenciais para a preparação para uma pandemia e o entendimento da adaptação do influenza aos mamíferos, pesquisadores que tiveram aprovação de seus governos e instituições para conduzir essas pesquisas de maneira segura, sob condições de biossegurança adequadas, têm a responsabilidade de terminar este importante trabalho", diz carta publicada nas duas revistas e assinada pelo grupo de cientistas.
A pausa foi anunciada em janeiro de 2012 e duraria, inicialmente, dois meses. Esse tempo, afirma a carta, foi usado para esclarecer aos órgãos de segurança e ao público sobre a segurança e a importância das pesquisas. "Medidas para mitigar os possíveis riscos ao trabalho foram detalhadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recomendações de biossegurança para aqueles que conduziam essa pesquisa, e autoridades relevantes em diversos países revisaram a biossegurança, a bioproteção e as condições sob as quais as pesquisas futuras deveriam ser conduzidas em laboratórios modificados para os vírus H5N1", diz a carta.
Em editorial, a Nature critica a restrição dos debates a "salas fechadas" e diz que órgãos como a OMS deveriam se envolver mais e encabeçar a discussão - a organização emitiu diretrizes para esse tipo de pesquisa em junho, mas a revista disse que as indicações não determinam "nenhum meio de aplicação" dessas diretrizes.
O fim da suspensão, afirma a revista, "não pode ser visto pelos pesquisadores como o fim do debate. Os riscos potenciais desse trabalho demandam precauções excepcionais em qualquer pesquisa futura. Fica claro que aplicações práticas imediatas dos ganhos com a pesquisa sobre a gripe (aviária) permanecente altamente hipotéticas (...) isso faz ainda mais incumbente que os pesquisadores e autoridades exercitem sua grande responsabilidade e prudência", diz a Nature.
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