Repórter News - reporternews.com.br
CineSesc homenageia cineasta Joaquim Pedro
SÃO PAULO - Nelson Pereira dos Santos está feliz da vida com a próxima exibição, no dia 28, da versão restaurada de Vidas Secas no Tribeca Festival, em Nova York. Acaba de sair o DVD com a versão restaurada de Terra em Transe e Paloma Rocha, que coordena os trabalhos de recuperação da obra de seu pai, Glauber Rocha, anuncia para o ano que vem o resgate de mais dois títulos importantes que compõem a filmografia glauberiana - Barravento e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Há outro grande do cinema brasileiro cuja obra está quase inteiramente salva - Joaquim Pedro de Andrade. Começa hoje no CineSesc, no quadro do Congresso da Fiaf (Federação Internacional dos Arquivos de Filmes), que se realiza em São Paulo, uma retrospectiva que apresenta 11 dos 14 filmes realizados por Joaquim Pedro. Todos foram restaurados em alta definição e serão apresentados em cópias tinindo de novas, com alta qualidade de som e imagem.
Joaquim Pedro, que morreu há 18 anos, pertence a uma geração de pensadores do cinema brasileiro. Tendo sido precursor do Cinema Novo com seu curta Couro de Gato, ele se integrou ao movimento e foi uma de suas lideranças, com Glauber, Cacá Diegues, Leon Hirszman, Ruy Guerra e Paulo César Saraceni. Como Glauber e Hirszman, principalmente, Joaquim Pedro sempre fez filmes para pensar o Brasil. Os longas que compõem o chamado Projeto JPA, que leva as iniciais do diretor, incluem adaptações de autores que foram fundamentais na construção/reflexão da brasilidade. Vários dos curtas tratam de artistas - escritores, arquitetos, escultores. A obra de Joaquim Pedro de Andrade tem, na sua diversidade, a cara do Brasil.
Há uma vertente mineira na obra de Joaquim Pedro, representada por clássicos como O Padre e a Moça, que ele adaptou do poema Negro Amor de Rendas Brancas, de Paulo Drummond de Andrade, e Os Inconfidentes, outra adaptação, do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meirelles, e dos Autos da Devassa, que documentaram, para a posteridade, a tentativa de insurreição contra o poder colonial que se tornou conhecida como Inconfidência Mineira.
E há o Joaquim Pedro que bebeu na fonte de Mário de Andrade e do Movimento Modernista de 22 para, com Macunaíma, deflagrar na tela o movimento tropicalista, no fim dos anos 1960. Tupi or not Tupi. O mineiro fino e comedido tinha um lado transgressor muito forte. Outro de seus clássicos é Vereda Tropical, o episódio que realizou para Contos Eróticos e no qual Cláudio Cavalcanti ensina a Cristina Aché os prazeres do sexo com legumes. Além de ser uma obra-prima do visual kitsch, Vereda Tropical é embalado pelo bolero homônimo que foi imortalizado na voz de Carlos Galhardo. É o máximo.
Couro de Gato mostra os meninos de morro que caçam gatos cujo couro será transformado em tamborins. O tom lírico do curta prenuncia outro filme pequeno na duração, mas grande na qualidade - O Poeta do Castelo, sobre Manoel Bandeira, que sonha com o paraíso de Pasárgada. E ambos levam a O Padre e a Moça, com a bela mas triste história de amor entre Paulo José e Helena Ignez. A vertente mineira atinge seu ápice com Os Inconfidentes, discursivo no tom e apaixonante pelo discurso antiufanista - e isso num ano, 1972, em que o regime militar queria transformar o sesquicentenário da Independência numa fonte de propaganda para a ditadura. A vertente tropicalista escracha tudo o que é introvertido nesses filmes. É como se Joaquim Pedro fosse dois, e radicalmente distintos. Numa época em que os críticos acusavam o Cinema Novo de não ter uma pegada popular - o povo estava na tela, mas não na platéia, nos cinemas - Macunaíma bateu recordes e provou que o Cinema Novo, sim, dialogava com o público.
Rever a obra de Joaquim Pedro é sempre motivo de prazer e fonte de reflexão. A mostra vai exibir também três documentários - Luzes, Câmera, Ação, de Silvia Bahiense; Joaquim Pedro.doc, de Mário Carneiro, o grande fotógrafo que foi parceiro do cineasta, e Antônio de Andrade; e Projeto Joaquim Pedro, de Maria de Andrade, sobre o processo de restauração digital dos filmes que serão exibidos no evento. Os três vão ajudar a situar Joaquim Pedro de Andrade em seu tempo, mas ainda falta citar um filme do diretor que também está na programação. Em ano de Copa, será curioso (re)ver Garrincha, Alegria do Povo, que o diretor, essencialmente político, fez para discutir a alienação do futebol, mas que nem por isso deixa de prestar tributo ao maior dos dribladores, Mané Garrincha.
Joaquim Pedro, que morreu há 18 anos, pertence a uma geração de pensadores do cinema brasileiro. Tendo sido precursor do Cinema Novo com seu curta Couro de Gato, ele se integrou ao movimento e foi uma de suas lideranças, com Glauber, Cacá Diegues, Leon Hirszman, Ruy Guerra e Paulo César Saraceni. Como Glauber e Hirszman, principalmente, Joaquim Pedro sempre fez filmes para pensar o Brasil. Os longas que compõem o chamado Projeto JPA, que leva as iniciais do diretor, incluem adaptações de autores que foram fundamentais na construção/reflexão da brasilidade. Vários dos curtas tratam de artistas - escritores, arquitetos, escultores. A obra de Joaquim Pedro de Andrade tem, na sua diversidade, a cara do Brasil.
Há uma vertente mineira na obra de Joaquim Pedro, representada por clássicos como O Padre e a Moça, que ele adaptou do poema Negro Amor de Rendas Brancas, de Paulo Drummond de Andrade, e Os Inconfidentes, outra adaptação, do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meirelles, e dos Autos da Devassa, que documentaram, para a posteridade, a tentativa de insurreição contra o poder colonial que se tornou conhecida como Inconfidência Mineira.
E há o Joaquim Pedro que bebeu na fonte de Mário de Andrade e do Movimento Modernista de 22 para, com Macunaíma, deflagrar na tela o movimento tropicalista, no fim dos anos 1960. Tupi or not Tupi. O mineiro fino e comedido tinha um lado transgressor muito forte. Outro de seus clássicos é Vereda Tropical, o episódio que realizou para Contos Eróticos e no qual Cláudio Cavalcanti ensina a Cristina Aché os prazeres do sexo com legumes. Além de ser uma obra-prima do visual kitsch, Vereda Tropical é embalado pelo bolero homônimo que foi imortalizado na voz de Carlos Galhardo. É o máximo.
Couro de Gato mostra os meninos de morro que caçam gatos cujo couro será transformado em tamborins. O tom lírico do curta prenuncia outro filme pequeno na duração, mas grande na qualidade - O Poeta do Castelo, sobre Manoel Bandeira, que sonha com o paraíso de Pasárgada. E ambos levam a O Padre e a Moça, com a bela mas triste história de amor entre Paulo José e Helena Ignez. A vertente mineira atinge seu ápice com Os Inconfidentes, discursivo no tom e apaixonante pelo discurso antiufanista - e isso num ano, 1972, em que o regime militar queria transformar o sesquicentenário da Independência numa fonte de propaganda para a ditadura. A vertente tropicalista escracha tudo o que é introvertido nesses filmes. É como se Joaquim Pedro fosse dois, e radicalmente distintos. Numa época em que os críticos acusavam o Cinema Novo de não ter uma pegada popular - o povo estava na tela, mas não na platéia, nos cinemas - Macunaíma bateu recordes e provou que o Cinema Novo, sim, dialogava com o público.
Rever a obra de Joaquim Pedro é sempre motivo de prazer e fonte de reflexão. A mostra vai exibir também três documentários - Luzes, Câmera, Ação, de Silvia Bahiense; Joaquim Pedro.doc, de Mário Carneiro, o grande fotógrafo que foi parceiro do cineasta, e Antônio de Andrade; e Projeto Joaquim Pedro, de Maria de Andrade, sobre o processo de restauração digital dos filmes que serão exibidos no evento. Os três vão ajudar a situar Joaquim Pedro de Andrade em seu tempo, mas ainda falta citar um filme do diretor que também está na programação. Em ano de Copa, será curioso (re)ver Garrincha, Alegria do Povo, que o diretor, essencialmente político, fez para discutir a alienação do futebol, mas que nem por isso deixa de prestar tributo ao maior dos dribladores, Mané Garrincha.
Fonte:
Folha do Estado
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/304972/visualizar/
Comentários