Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Segunda - 17 de Abril de 2006 às 10:13
Por: Cloves Vettorato

    Imprimir


As causas da crise do agronegócio quase todos sabem apontar: câmbio defasado, juros, dívidas, combustíveis caros, ferrugem asiática, preços, condições climáticas, etc.

As conseqüências que “a crise” pode acarretar nem todos possuem uma visão abrangente que lhes permitam antever pois, seus reflexos ainda não se fazem sentir na grande economia brasileira.

Quanto às soluções que podem vir para resolver o problema, ninguém ainda tem uma proposta sequer digna de ser discutida com mais profundidade. O que não tem solução, “solucionado está”.

Gostaria de acreditar que o agronegócio não é importante para o Brasil, como disse certa vez um secretario de Fazenda de Mato Grosso, que o agronegócio de Mato Grosso não era mais importante para o Estado.”Este ex-secretário ainda está vivo. Por isso, dando uma de ‘Nostradamus Pantaneiro’, tecerei alguns comentários acerca do futuro que se nos apresenta.

Se o produtor não tem renda, não planta. Ou não deveria plantar. Ou melhor: antes de plantar deveria perguntar-se se tem alguém que lhe paga o preço que precisa para ter renda. Mas aí tem a mão invisível que regula o mercado para dificultar. Difícil combinar com todos, inclusive com os Argentinos.

Já se fala numa redução de 21% da área plantada no Brasil. Esse 1% que dá exatidão ao número deve ser coisa de outro vidente. A considerar verdadeira a afirmação, e pessoalmente, penso que o índice pode ser maior.

O Brasil plantou na safra, que ora colhe, 47 milhões de hectares, com uma produção estimada de 121 milhões de toneladas. Se reduzir 20% (vou deixar de lado o 1%), teremos 9,4 milhões de hectares e 24,2 milhões de toneladas de grãos a menos. Estaremos voltando à mesma área plantada da safra 90/91: quinze anos atrás, portanto, com um impacto de R$ 8 bilhões na nossa balança comercial. Em 2007 o Brasil poderá voltar a ter déficit na Balança, porque os superávits alcançados até agora se devem aos saldos positivos do agronegócio.

Nesse ponto a sociedade começará perceber a importância do agronegócio e até aquele “maledeto” ex-secretário vai entender, pois “a crise” se fará sentir por ele também. O tsunami do agronegócio, finalmente chegará na Avenida Paulista onde vai causar grandes estragos inclusive na Bovespa. Desemprego, redução drástica das exportações, queda na arrecadação dos Estados e da União, inflação, etc.

E o consumidor que hoje paga R$ 4,50 por cinco quilos de arroz, R$ 2,50 um quilo de costela bovina, R$ 1,00 o kg de frango, terá que desembolsar o dobro, isso com muita boa vontade. Quem sabe até mesmo o Greenpeace poderá rever seus pontos de vista sobre a cultura da soja em Mato Grosso uma vez que trabalha com o horizonte da qualidade de vida também.

Não adianta muito ficarmos com os olhos voltados somente para “a crise”. Passemos, pois, a apontar possíveis soluções que propiciem o ressurgimento do “Tigre Amazônico”, com mais musculatura, mais forte e vigoroso. E, como disse o governador Blairo Maggi, sem precisar pedir bexiga para ninguém.

Mato Grosso, em 2005, importou 1,7 bilhões de litros de óleo diesel com evasão de divisas de pelo menos 2,8 bilhões de reais. Podemos perfeitamente substituir o diesel por biocombustível à base de óleo de soja e outras matérias-primas oriundas do pequeno produtor. Este dinheiro ficará circulando em nossa economia. Podemos ser grandes produtores de açúcar e álcool. Temos terra e tecnologia para isso.

Com a abertura de novos mercados para nossa carne bovina, a nossa pecuária poderá se tornar mais profissional e produtiva, e sem a necessidade de abertura de novas áreas para pastagem, utilizando parte das áreas hoje ocupadas pela soja que podem ser transformados em pasto com alto índice de sustentação e produtividade numa atividade perfeitamente integrada a agricultura.

Podemos ainda, transformar o farelo que sobra no esmagamento da soja para produzir o biocombustível em carne de frango, suínos e de outros pequenos animais.

Podemos transformar o nosso algodão em tecido e este em confecções, agregando valor. Podemos iniciar um audacioso projeto de reflorestamento, para abastecer a industria de celulose e indústria moveleira. Podemos deixar de importar 10 carretas por dia de frutas, verduras e legumes, fazendo com que milhões de reais que hoje deixam o estado, fiquem no bolso do mato-grossense. Podemos ainda, aumentar nossa produção de peixes de criadouro, uma atividade lucrativa e promissora.

Serão bilhões de reais que entrarão ou que deixarão de sair para se transformarem em milhares de emprego num círculo virtuoso jamais visto numa economia diversificada e verticalizada onde todos se beneficiarão.

Em fim, temos alternativas e saídas. E temos o mais importante: um povo trabalhador, determinado, criativo e audacioso que não se entrega frente às dificuldades. Somos capazes, a construção desse estado é prova disso, enfrentar adversidades é marca registrada dos mato-grossenses, sejam eles nascidos aqui ou que aqui decidiram viver.

Vamos em frente: a travessia será dolorosa. Muitos ficarão pelo caminho, mas sobrarão milhares para empunhar a bandeira desse grande estado destinado ao sucesso.

Enfim, temos um grande futuro. Por quê? Porque podemos construí-lo. Só depende de nós.

Clóvis Vetoratto - Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural de MT.




Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/305879/visualizar/