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Cultura
Sábado - 15 de Abril de 2006 às 14:12

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Biografia é tema tabu entre historiadores. Alguns acham que esse é um modo de "aproximar a história" do chamado "leitor comum", não-acadêmico. Outros, que não passa de um modo fácil de exercer o ofício, gerando produtos para um mercado editorial cada vez mais sedento de fofocas sobre gente importante. Já os mais rigorosos consideram-na o mais complexo dos gêneros históricos, quiçá até impossível de ser concretizado a contento, por ter de relacionar toda uma época à trajetória individual de um sujeito que já morreu há tempos e que não pode ser escutado.

Para distribuir argumentos entre críticos e adeptos deste modo de fazer história, a coleção Perfis Brasileiros (Companhia das Letras), série de pequenas biografias de personagens da história política e cultural do país, acaba de chegar às livrarias com seus quatro primeiros títulos, todos escritos por historiadores: "Nassau", por Evaldo Cabral de Mello, "D. Pedro 1º", por Isabel Lustosa, "Getúlio Vargas", por Boris Fausto, e "Castro Alves", por Alberto da Costa e Silva.

Depois desta primeira leva, os editores da série, o jornalista Elio Gaspari e a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, prevêem a publicação de um perfil de d. Pedro 2º, por José Murilo de Carvalho, e do marechal Rondon, pelo norte-americano Todd Diacon. Mais à frente, o artista plástico Helio Oiticica reencarnará pelas mãos de Nicolau Sevcenko e a atriz e ícone Leila Diniz, pelas de Joaquim Ferreira dos Santos, entre outros.

O modelo usado para nortear os textos foi a célebre biografia "Napoleão", do historiador britânico Paul Johnson (Objetiva). Mas, por este pacote inicial, dá para prever que as estruturas dos perfis vão variar de acordo com cada autor.

D. Pedro 1º

O d. Pedro 1º de Isabel Lustosa, por exemplo, surge descrito de modo minucioso do ponto de vista pessoal, graças a uma rica reunião de relatos de diversos estrangeiros que viajaram ao Brasil na época e se impressionaram com os hábitos e personalidades peculiares da família real portuguesa.

No que diz respeito à trajetória pública, entretanto, Lustosa coteja informações de modo a formar um retrato contraditório, mas um tanto positivo, do personagem. "D. Pedro teve uma saga heróica, definiu o futuro do Brasil, deixou um filho reinando aqui e uma filha em Portugal, além de dar constituições às suas duas pátrias. Mas foi um líder autoritário e tirânico, deixou que a corrupção crescesse ao seu redor e era extremamente mesquinho e avarento", conta a pesquisadora.

Curiosidades sobre seu comportamento, como a mania de despertar às cinco da manhã dando tiros de espingarda para o alto para acordar toda a família ou sobre suas inúmeras peripécias amorosas estão contempladas. Não são, porém, exageradas e permitem que a autora jogue luz naquilo que considera mais importante no personagem, a sua atuação política decisiva tanto no momento de transformações pelas quais passava a Europa e a dinastia de Bragança, como no processo de Independência do Brasil.

Nassau

Já Evaldo Cabral de Mello adotou uma postura mais conservadora. De cara, avisa que seu livro é uma biografia apenas da vida pública de Nassau, "para frustração dos leitores curiosos de vida privada". O historiador justifica-se: "Não há coisas interessantes sobre o comportamento pessoal de Nassau, ele não se revelava em correspondências, foi solteiro, não há muito a ser dito".

O livro de Evaldo centra, assim, a atenção no período em que Nassau atuou em Pernambuco (1637-1644) e acaba por resumir a experiência dos holandeses no Brasil, desconstruindo a idéia de que o fracasso da ocupação tenha se dado pela falta de habilidade destes. "Muitos hoje buscam uma explicação sofisticada para a história. Diz-se que os holandeses não foram bons colonizadores em terras tropicais. Isso vem de uma tradição que remonta a Gilberto Freyre e é algo facilmente contestado. Os holandeses não se estabeleceram no Brasil porque, quando chegaram, a sociedade luso-brasileira já estava instalada e havia limites militares muito fortes para uma expansão holandesa", diz.

Getúlio Vargas

Boris Fausto, por sua vez, retrata Getúlio Vargas como quem fala de um velho conhecido. Não é para menos, desde os tempos de escola, quando se acostumou a ver o retrato do líder pendurado na sala de aula, até hoje, a carreira intelectual do historiador (autor de "A Revolução de 30") tem sido sempre atada à memória de Getúlio.

"Às vezes eu gosto dele, noutras, eu o detesto", conta. "E, se, hoje, conhecendo-o melhor, eu o pegasse novamente como fiz no passado, talvez fosse menos benevolente com ele", admite. Seu livro mantém o foco na questão da centralização do poder durante os períodos em que Getúlio governou e conclui por examinar a força do mito pós-suicídio.

Castro Alves

Alberto da Costa e Silva optou por desenhar Castro Alves a partir de um eixo duplo, sua faceta poética e sua faceta abolicionista. Em menor grau, seguem-se as de boêmio e mulherengo.

Uma longa e acurada descrição de sua principal obra, o poema "O Navio Negreiro" e as circunstâncias em que foi declamado pela primeira vez, em 1868, são o ponto alto do livro. "É curioso que Castro Alves nunca tenha conversado muito com escravos. A idéia que tinha da África era a do orientalismo francês do século 19, e não correspondia à África real daquela época. Seu trabalho sempre foi mais de observação e de intuição. Mas o fato de desconhecer a África não enfraquece o poema nem a denúncia social contida nele. Pelo contrário, o texto ganha força como um retrato do Brasil."

Perfis Brasileiros

"D. Pedro 1º - Um Herói sem Nenhum Caráter" (preço a definir, 340 págs.); "Nassau - Governador do Brasil Holandês" (R$ 37, 296 págs.); "Getúlio Vargas - O Poder e o Sorriso" (preço a definir, 216 págs.); "Castro Alves - Um Poeta Sempre Jovem" (R$ 33, 200 págs.)




Fonte: 24Horas News

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