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Politica Brasil
Quarta - 05 de Abril de 2006 às 15:47
Por: Adriana Vandoni

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Estabelecida a existência de uma crise na agropecuária brasileira, vamos à busca das causas reais para assim tentar atuar de forma eficiente. Antes de qualquer coisa é bom frisar que Mato Grosso preenche - ou preenchia até esta crise devastadora chegar - todos os requisitos para passar a uma nova fase em que a industrialização, através da manufatura dos produtos gerados aqui, pudesse contribuir para o nosso crescimento.

Porém a atividade agrícola é de alto risco, pois além dos fatores controláveis, administráveis e programáveis, existem fatores incontroláveis, sob comando de Deus, como os climáticos, além das novas pragas que aparecem, por descontrole sanitário ou, talvez, por guerras biológicas de outros concorrentes.

A demanda e a variação dos preços internacionais poderíamos enquadrar na primeira categoria. Acredito que parte da crise se deve à insensatez causada pela "bolha" de valorização das nossas commodities, da mesma forma como ocorreu com o café, no início do século passado, ou mais recentemente com a valorização imobiliária no Japão, que detonou o sistema bancário daquele país, que utilizava-os como garantia de empréstimos, ou mesmo da crise das empresas virtuais ligadas à internet.

Nossos agricultores, grandes empreendedores e ansiosos pelo crescimento, pecaram da mesma forma que os investidores estrangeiros erraram nos casos que citei. Isto deve servir como exemplo e ensino para que no futuro, à frente de novas "bolhas" os empresários do agronegócio estejam preparados para superar e não sucumbir, como está ocorrendo com muitos.

Falta uma visão administrativa para o setor, e não adianta nada ter uma visão específica sobre o assunto, e não enxergar o seu negócio macro-economicamente.

Lembro de um caso de um pecuarista que se gabava por conhecer o seu gado pelo estrume do seu rebanho. Isso mesmo, pelo estrume que observava do seu rebanho. Embora isso tenha um valor extraordinário, sem alguém que tenha uma visão mais ampla daquele negócio, de nada adiantará essa especialidade deste pecuarista. Se dentro da porteira, o produtor já provou sua competência e sua pré-disposição em reciclar e buscar novas tecnologias, independente de governos, sua falha pode ser na administração da sua empresa rural, no seu individualismo e introspecção. Essa característica não seria problema se os fatores de além porteira fossem bem resolvidos. Mas não são.

Tentei fazer uma mini-enquete com alguns produtores para escutar deles o que mais os aflige. Em primeiro lugar veio o Câmbio flutuante.

O fato de o câmbio ser regulado pelo mercado pode e deveria entrar na previsão de custo, isso se o produtor fizer um planejamento de custo. Entretanto isso é um fator de risco calculado e previsível quando não está sujeito às ações destrutivas que os juros altos da taxa selic causam nessa flutuação cambial. A entrada exagerada de dólares em busca dos nossos juros altos tornou o valor do câmbio um valor irracional para a nossa competitividade. Muitos falam que ainda mantemos o superávit nas nossas exportações, mas pesquisas demonstram que isso ocorre apenas devido aos produtos não manufaturados, fadados à venda externa, já que não há consumo suficiente aqui.

Somados a essa valorização cambial, a apreciação do preço do petróleo e as novas pragas, como a ferrugem da soja, levou à estratosfera os custos da produção, tornando em alguns setores o custo de produção superior ao custo de venda do produto no mercado.

Secas e chuvas em excesso são fatores cíclicos, e os produtores já se acostumaram com isso. Um amigo me fala sempre que o agricultor, após alguns anos na área, passa a atuar como se fosse um jogador de poker. Ele dá o lance e espera Deus dar a resposta. Torna-se um vício e acredito que esse seja mais um dos fatores que mantêm o produtor no campo.

O controle fitossanitário e o impedimento de que armadilhas de possíveis guerras biológicas ocorram, são tarefas a serem implementadas pelo governo em conjunto com os produtores. O agronegócio envolve muito dinheiro e a alimentação é um setor estratégico politicamente. Como ficaria, por exemplo, se um país perdesse sua capacidade produtiva para o nosso agronegócio e dependesse do nosso país para alimentar seu povo? Não é xenofobia não, mas devemos ter uma visão mais pragmática das ações e incursões de estrangeiros nesse setor, mesmo aqueles que, "ideologicamente", são custeados por empresas e grupos estrangeiros.

Finalmente, cabe ao governo, se não tem recursos para subsidiar nossos agricultores como as nações mais ricas fazem com os seus, olhar também para o setor quando pratica políticas econômicas que podem destruir toda uma riqueza construída ao longo de anos de batalhas e infortúnios pelos nossos empresários do agronegócio.




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