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Nacional
Terça - 04 de Abril de 2006 às 19:44

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Um dia antes da publicação pela imprensa dos dados bancários do caseiro Francenildo dos Santos Costa, ocorrida no dia 17 de março, o então ministro da Fazenda Antônio Palocci já sabia que eles estavam em poder de um jornalista de um grande veículo que estaria com a "matéria fechada", pronta para a publicação.

"Palocci estava contente, entusiasmado, por ter a informação de que o caseiro tinha levado esse dinheiro", afirmou em depoimento espontâneo à Polícia Federal prestado no último domingo o secretário de Direito Econômico, Daniel Krepel Goldberg, que é subordinado ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Segundo o depoimento ao qual a Reuters teve acesso nesta terça-feira, o ministro sabia, inclusive, que Francenildo "teria dado entrada em uma casinha" com o dinheiro recebido.

As informações, segundo uma fonte da PF ligada à investigação, consolida a provável participação do então ministro Palocci na cadeia de comando que culminou com a violação da conta do caseiro.

Palocci queria que Goldberg apontasse meios de colocar a PF na investigação para levantar um suposto recebimento de dinheiro pelo caseiro para comprometê-lo em depoimento à CPI dos Bingos. "O foco da conversa voltou-se, então, aos mecanismos para saber 'sobre a grana levada pelo caseiro e a casinha'", disse o secretário ao delegado Rodrigo Carneiro Gomes, que preside o inquérito.

As conversas com Palocci, segundo o depoimento, ocorreram em três oportunidades distintas entre as 23h do dia 16 de março, uma quinta-feira, e as 17h do dia seguinte. Pelo menos em duas delas estiveram presentes na casa de Palocci o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que demitiu-se posteriormente, e o então assessor do Ministério da Fazenda Marcelo Netto.

O primeiro contato ocorreu, conforme as declarações, na noite da quinta-feira, quando Goldberg foi à casa de Palocci após receber um telefonema da secretária do então ministro. A segunda reunião, já com a presença de Alencar, aconteceu entre 11h e 11h30 da sexta-feira.

Nessa oportunidade, o chefe de gabinete relatou ao ministro que as informações sobre "boatos de movimentações financeiras" seriam insuficientes para a abertura de investigação contra o caseiro na PF.

Apesar disso, Alencar ofereceu-se para consultar o órgão caso Palocci entendesse necessário. O ministro pediu-lhe então, segundo o depoimento, para aguardar um telefonema seu, o que acabou acontecendo na tarde daquele mesmo dia.

Após o contato telefônico, Alencar dirigiu-se à sede da PF onde conversou com o diretor-executivo do órgão, delegado Zulmar Pimentel, que substituía o diretor-geral, Paulo Lacerda, que se encontrava em viagem à Rondônia juntamente com o ministro Thomaz Bastos.

Zulmar informou-lhe que nada poderia ser feito porque Francenildo, que fora incluído no Programa de Proteção a Testemunhas Especiais da PF a pedido da CPI dos Bingos, havia dispensado a proteção policial.

Depois disso, Alencar e Golberg retornaram à casa de Palocci por volta das 19h, onde repassaram as informações ao então ministro que as recebeu com "naturalidade", segundo seus depoimentos.

Alencar disse ainda que depois do encontro com Palocci dirigiu-se ao aeroporto internacional de Brasília onde encontrou-se com o ministro Thomaz Bastos e fez o relato sobre a solicitação de Palocci e da impossibilidade de atendê-la.

Pouco depois das 20h daquele dia, os dados sobre as movimentações do caseiro foram publicadas no site de um blog da revista Época, dando conta de movimentações financeiras da ordem de 38 mil reais.

A reportagem poderia ser uma indicação de que Francenildo teria prestado depoimento à CPI em troca de dinheiro. Mas o próprio texto, apresentava a versão do caseiro, de que os depósitos teriam sido feitos por um empresário do Piauí, que ele diz ser seu pai. O empresário negava na reportagem a paternidade, mas confirmava os depósitos.

Na noite daquele mesmo dia, Francenildo repetiu sua versão em uma entrevista coletiva em Brasília. O montante pago pelo empresário, disse, teria sido acertado entre os dois como forma de evitar um processo de reconhecimento de paternidade na Justiça.

Até agora, segundo a fonte da PF, não existe nenhuma informação que ponha em dúvida a versão de Francenildo.

Palocci deverá prestar depoimento ao delegado Rodrigo na manhã da quarta-feira, às 10h.





Fonte: Reuters

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