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Reputação na comunidade científica
Quando decidiu vir para Mato Grosso, há 30 anos, o biólogo mineiro José Augusto Ferraz de Lima, recém-formado pela Universidade de Brasília (UnB), viu muitos de seus amigos e colegas torcerem o nariz. “Me diziam: para Mato Grosso e Amazônia a gente manda quem está de castigo", sorri.
À ocasião, já interessado em ictiologia, Ferraz tinha o palpite de que poderia encontrar na região espécies que pudessem servir ao propósito da criação em cativeiro. Um ato de rebeldia às linhas de pesquisa que só consideravam espécies exóticas, como a carpa e a tilápia.
"Sabia que era uma área rica em biodiversidade. Além disso, já havia aqui um grupo de pesquisadores muito bom e o Centro de Pesquisas Ictiológicas do Pantanal Mato-Grossense (CEPIPAN)”, conta ele. “Em fevereiro de 1976, cheguei e fui a Cáceres para fazer um levantamento de recursos pesqueiros".
Boa parte de seu trabalho foi feita longe dos laboratórios, por meio de longas conversas com os pescadores da região. “Eu fui vendo que eles gostavam de mim e eu gostava deles. Daí que não fiquei mais perdido no meio dos engenheiros de pesca. Fui especulando, como se diz por aqui, sobre os peixes e seus hábitos e características. Anotava tudo".
Satisfeito com os primeiros resultados, Ferraz apresentou e conseguiu aprovar um projeto de pesquisa chamado “Seleção de Espécies para a piscicultura", com a intenção de estudar o comportamento dos peixes da região pantaneira e seu potencial de aproveitamento em criações de cativeiro.
Um certo dia, na beira do rio Cuiabá, o biólogo se deparou com uma mulher que limpava peixes, num processo cuidadoso em que até os espinhos eram descartados. “Era o tal do Pacu. Perguntei: o que esse peixe come? Come fruta. É peixe de piracema? É. E a carne? Muito boa. Dá para tirar o espinho? Dá. Eu pensei: essa espécie pode ser boa para a piscicultura”.
Daí em diante, estudar o Pacu passou a ser uma obsessão para o biólogo. “A Piraputanga não compensaria, pois na época havia tantas que o pessoal vendia de cambada. Comprar o peixe era mais barato do que mandar limpar. Já o pintado seria inviável pela quantidade de comida. Seria como criar um leão”.
Em 1977, com seu trabalho já ganhando certa notoriedade, Ferraz conseguiu uma bolsa do governo francês e seguiu viagem para a Europa. “Fui aprender a trabalhar com pesca elétrica, para poder capturar alevinos de pacu na baía de Siá Mariana”, justifica.
Também aproveitou a viagem para comparar as informações que havia coletado sobre como os períodos de enchente, vazante e seca afetavam os peixes do Pantanal. Esta característica guardava certa semelhança com os pulsos de inundação verificados no Chade (país africano que, até 1960, era uma província de ultramar francesa).
“Muito se falava à época do ciclo de cheias e secas do Pantanal. Mas eu dizia que era interessante trabalhar com um ciclo de enchente, vazante e seca. Este período intermediário era muito significativo no comportamento dos peixes em relação à pesca”.
A compreensão daquele ciclo, e de sua estreita conexão com o processo reprodutivo dos peixes, levou o biólogo a produzir um modelo que só deixaria de ter validade em novembro de 1999, quando foram fechadas as comportas da usina hidrelétrica de Manso. “A partir daquele dia, o padrão normal de reprodução dos peixes deixou de fazer sentido”, lamenta.
Os estudos sobre o Pacu - que contribuiriam para a consolidação da espécie como uma das mais importantes para a piscicultura no país - continuaram na coordenação de pesquisas do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (Cepta), de Pirassununga (SP) – então ligado à Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e depois repassado ao Ibama.
Mais tarde, novamente em Mato Grosso, Ferraz assumiria a coordenação do Núcleo de Pesquisas Ambientais e Recursos Hídricos do Ibama, de onde sairia, em 1999, para assumir o cargo de chefe do Parque Nacional do Pantanal.
Hoje, em sua casa na sede da unidade, ele tem pendurada à parede de seu escritório a reprodução em tamanho gigante de uma escama do Pacu. Um símbolo do animal que ajudou a moldar sua reputação na comunidade científica – Ferraz é considerado um dos maiores especialistas em peixes do pantanal no mundo.
Afastado das pesquisas há seis anos por conta da nova função, ele diz que sua obsessão hoje é o projeto de estruturação do uso público da unidade.
“Já avançamos muito. Primeiro, foi a aceitação do parque pelo público que pescava dentro dos seus limites. Isso já está um pouco ultrapassado. Hoje, venho notando que as pessoas já têm mais interesse pela unidade: se pega fogo aqui, o mundo inteiro fica sabendo", afirma.
À ocasião, já interessado em ictiologia, Ferraz tinha o palpite de que poderia encontrar na região espécies que pudessem servir ao propósito da criação em cativeiro. Um ato de rebeldia às linhas de pesquisa que só consideravam espécies exóticas, como a carpa e a tilápia.
"Sabia que era uma área rica em biodiversidade. Além disso, já havia aqui um grupo de pesquisadores muito bom e o Centro de Pesquisas Ictiológicas do Pantanal Mato-Grossense (CEPIPAN)”, conta ele. “Em fevereiro de 1976, cheguei e fui a Cáceres para fazer um levantamento de recursos pesqueiros".
Boa parte de seu trabalho foi feita longe dos laboratórios, por meio de longas conversas com os pescadores da região. “Eu fui vendo que eles gostavam de mim e eu gostava deles. Daí que não fiquei mais perdido no meio dos engenheiros de pesca. Fui especulando, como se diz por aqui, sobre os peixes e seus hábitos e características. Anotava tudo".
Satisfeito com os primeiros resultados, Ferraz apresentou e conseguiu aprovar um projeto de pesquisa chamado “Seleção de Espécies para a piscicultura", com a intenção de estudar o comportamento dos peixes da região pantaneira e seu potencial de aproveitamento em criações de cativeiro.
Um certo dia, na beira do rio Cuiabá, o biólogo se deparou com uma mulher que limpava peixes, num processo cuidadoso em que até os espinhos eram descartados. “Era o tal do Pacu. Perguntei: o que esse peixe come? Come fruta. É peixe de piracema? É. E a carne? Muito boa. Dá para tirar o espinho? Dá. Eu pensei: essa espécie pode ser boa para a piscicultura”.
Daí em diante, estudar o Pacu passou a ser uma obsessão para o biólogo. “A Piraputanga não compensaria, pois na época havia tantas que o pessoal vendia de cambada. Comprar o peixe era mais barato do que mandar limpar. Já o pintado seria inviável pela quantidade de comida. Seria como criar um leão”.
Em 1977, com seu trabalho já ganhando certa notoriedade, Ferraz conseguiu uma bolsa do governo francês e seguiu viagem para a Europa. “Fui aprender a trabalhar com pesca elétrica, para poder capturar alevinos de pacu na baía de Siá Mariana”, justifica.
Também aproveitou a viagem para comparar as informações que havia coletado sobre como os períodos de enchente, vazante e seca afetavam os peixes do Pantanal. Esta característica guardava certa semelhança com os pulsos de inundação verificados no Chade (país africano que, até 1960, era uma província de ultramar francesa).
“Muito se falava à época do ciclo de cheias e secas do Pantanal. Mas eu dizia que era interessante trabalhar com um ciclo de enchente, vazante e seca. Este período intermediário era muito significativo no comportamento dos peixes em relação à pesca”.
A compreensão daquele ciclo, e de sua estreita conexão com o processo reprodutivo dos peixes, levou o biólogo a produzir um modelo que só deixaria de ter validade em novembro de 1999, quando foram fechadas as comportas da usina hidrelétrica de Manso. “A partir daquele dia, o padrão normal de reprodução dos peixes deixou de fazer sentido”, lamenta.
Os estudos sobre o Pacu - que contribuiriam para a consolidação da espécie como uma das mais importantes para a piscicultura no país - continuaram na coordenação de pesquisas do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (Cepta), de Pirassununga (SP) – então ligado à Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e depois repassado ao Ibama.
Mais tarde, novamente em Mato Grosso, Ferraz assumiria a coordenação do Núcleo de Pesquisas Ambientais e Recursos Hídricos do Ibama, de onde sairia, em 1999, para assumir o cargo de chefe do Parque Nacional do Pantanal.
Hoje, em sua casa na sede da unidade, ele tem pendurada à parede de seu escritório a reprodução em tamanho gigante de uma escama do Pacu. Um símbolo do animal que ajudou a moldar sua reputação na comunidade científica – Ferraz é considerado um dos maiores especialistas em peixes do pantanal no mundo.
Afastado das pesquisas há seis anos por conta da nova função, ele diz que sua obsessão hoje é o projeto de estruturação do uso público da unidade.
“Já avançamos muito. Primeiro, foi a aceitação do parque pelo público que pescava dentro dos seus limites. Isso já está um pouco ultrapassado. Hoje, venho notando que as pessoas já têm mais interesse pela unidade: se pega fogo aqui, o mundo inteiro fica sabendo", afirma.
Fonte:
Diário de Cuiabá
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/308535/visualizar/
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