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De Caras-Pintadas a inocentes-úteis por Adriana Vandoni
Sempre vimos nossos jovens em movimentos de contestação, inquietos e se imaginando capazes de mudar o mundo. A idade inspira esses sonhos e é bom que eles aconteçam, afinal, o que seria de nosso povo sem a vibração e a inquietude deles? O tempo se encarrega de tornar as pessoas mais acomodadas e menos dispostas a enfrentarem o sistema.
Embora muitos tenham morrido por acreditarem em uma utopia, embalados pelo falso e ilusório Fidel Castro e pelo mito Che Guevara, nos anos da ditadura, o que seria de nós sem essa disposição de lutar, de mostrar sua indignação com os rostos pintados na era Collor? Isso só é possível devido às suas irreverências e à sensação de que são capazes de tudo.
São comportamentos sadios e desejáveis. Durante a ditadura muitos jovens foram bravos defensores dos nossos direitos de liberdade.
Mas, se o mundo mudou, isso também mudou. Infelizmente.
Se antes tínhamos jovens vanguardistas pelo direito à opinião e à cidadania, hoje temos um bando de tolos e ingênuos. São jovens despolitizados e alheios ao cotidiano da nação. Mais preocupados com o último celular ou o tênis da moda. São irrelevantes como atores da política, talvez pela desesperança causada pela frustração com o governo do PT.
Os poucos que atuam, o fazem sob o efeito manada, seguindo um ao outro, sem nem se preocuparem em saber ou entender aonde estão indo.
Até entendo o comportamento dos dirigentes dessas recentes manifestações em Cuiabá pela redução do valor do transporte público, afinal a função deles é essa, participar do jogo político. Mas não entendo como os jovens se deixam levar por bandeiras desprovidas de qualquer base racional. A aspiração da redução dos preços dos produtos é louvável e legítima. Como seria bom se pudéssemos reduzir o valor do transporte público, assim como o do pão, do arroz ou feijão. Infelizmente isso não é tão simples de ser realizado. O preço de alguns produtos, como o transporte público ou os alimentos, envolve custos que devem ser arcados por quem os consome. Só assim é possível que o fornecedor não deixe de ter interesse em produzi-los. É a lei do mercado, e é impossível evitá-los com discursos ou em um passe de mágica. Falar em estatização é retrocesso.
Em um passado recente os estudantes se mobilizaram reivindicando transporte gratuito, um direito legítimo que lhes cabia. No entanto, vendados pela pouca compreensão da situação do país, do município, e mesmo dos meios de conquistar as suas reivindicações, acabaram servindo apenas como degrau para o vereador Totó Parente que encampou a bandeira sem qualquer argumentação que possibilitasse uma base econômica para viabilizar tal conquista. Era apenas uma bandeira fácil de bravatear, útil para elegê-lo como líder de uma grande fatia do eleitorado, os jovens, mas que para ser efetivada teria que ter uma fonte de recursos disponível. Isso é óbvio.
Era preciso ver que o dinheiro teria que sair de algum lugar. Dos empresários não viria, é óbvio, já que eles querem ter seu lucro e, mesmo que se lute contra qualquer tipo de lucro – pensamento absurdo de líderes ideológicos em um regime capitalista, a estipulação do valor de uma passagem é definida por planilhas de Brasília, para evitar o abuso dos empresários inescrupuloso. Ou o pagamento desses transportes gratuitos sai dos outros usuários, ou pela redução de impostos dos governos federal, estadual ou municipal. O lado mais fraco nessa história é principalmente o usuário, mas também os governos municipais que recebem a menor fatia da coleta dos impostos, enquanto o custo principal do transporte é definido pelas políticas implementadas por Brasília.
Qualquer discurso que não leve esses fatores em consideração, nada mais são que conversa pra boi dormir, típico de líderes demagogos, populistas e manipuladores.
Líderes desse tipo já provaram que quando chegam lá, recebem Lands Rovers como presentinhos, e dançam a "dança da pizza" quando um companheiro corrupto é absolvido na Câmara.
Aos estudantes que participaram dessas últimas manifestações aqui em Cuiabá, apenas um conselho: informem-se sobre todos os aspectos da luta. Lutem embasados para não tornarem uma reivindicação justa em ações que passam a ser ridicularizadas de tão incoerentes.
Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ e articulista de A Gazeta.
E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: www.argumento.bigblogger.com.br
Embora muitos tenham morrido por acreditarem em uma utopia, embalados pelo falso e ilusório Fidel Castro e pelo mito Che Guevara, nos anos da ditadura, o que seria de nós sem essa disposição de lutar, de mostrar sua indignação com os rostos pintados na era Collor? Isso só é possível devido às suas irreverências e à sensação de que são capazes de tudo.
São comportamentos sadios e desejáveis. Durante a ditadura muitos jovens foram bravos defensores dos nossos direitos de liberdade.
Mas, se o mundo mudou, isso também mudou. Infelizmente.
Se antes tínhamos jovens vanguardistas pelo direito à opinião e à cidadania, hoje temos um bando de tolos e ingênuos. São jovens despolitizados e alheios ao cotidiano da nação. Mais preocupados com o último celular ou o tênis da moda. São irrelevantes como atores da política, talvez pela desesperança causada pela frustração com o governo do PT.
Os poucos que atuam, o fazem sob o efeito manada, seguindo um ao outro, sem nem se preocuparem em saber ou entender aonde estão indo.
Até entendo o comportamento dos dirigentes dessas recentes manifestações em Cuiabá pela redução do valor do transporte público, afinal a função deles é essa, participar do jogo político. Mas não entendo como os jovens se deixam levar por bandeiras desprovidas de qualquer base racional. A aspiração da redução dos preços dos produtos é louvável e legítima. Como seria bom se pudéssemos reduzir o valor do transporte público, assim como o do pão, do arroz ou feijão. Infelizmente isso não é tão simples de ser realizado. O preço de alguns produtos, como o transporte público ou os alimentos, envolve custos que devem ser arcados por quem os consome. Só assim é possível que o fornecedor não deixe de ter interesse em produzi-los. É a lei do mercado, e é impossível evitá-los com discursos ou em um passe de mágica. Falar em estatização é retrocesso.
Em um passado recente os estudantes se mobilizaram reivindicando transporte gratuito, um direito legítimo que lhes cabia. No entanto, vendados pela pouca compreensão da situação do país, do município, e mesmo dos meios de conquistar as suas reivindicações, acabaram servindo apenas como degrau para o vereador Totó Parente que encampou a bandeira sem qualquer argumentação que possibilitasse uma base econômica para viabilizar tal conquista. Era apenas uma bandeira fácil de bravatear, útil para elegê-lo como líder de uma grande fatia do eleitorado, os jovens, mas que para ser efetivada teria que ter uma fonte de recursos disponível. Isso é óbvio.
Era preciso ver que o dinheiro teria que sair de algum lugar. Dos empresários não viria, é óbvio, já que eles querem ter seu lucro e, mesmo que se lute contra qualquer tipo de lucro – pensamento absurdo de líderes ideológicos em um regime capitalista, a estipulação do valor de uma passagem é definida por planilhas de Brasília, para evitar o abuso dos empresários inescrupuloso. Ou o pagamento desses transportes gratuitos sai dos outros usuários, ou pela redução de impostos dos governos federal, estadual ou municipal. O lado mais fraco nessa história é principalmente o usuário, mas também os governos municipais que recebem a menor fatia da coleta dos impostos, enquanto o custo principal do transporte é definido pelas políticas implementadas por Brasília.
Qualquer discurso que não leve esses fatores em consideração, nada mais são que conversa pra boi dormir, típico de líderes demagogos, populistas e manipuladores.
Líderes desse tipo já provaram que quando chegam lá, recebem Lands Rovers como presentinhos, e dançam a "dança da pizza" quando um companheiro corrupto é absolvido na Câmara.
Aos estudantes que participaram dessas últimas manifestações aqui em Cuiabá, apenas um conselho: informem-se sobre todos os aspectos da luta. Lutem embasados para não tornarem uma reivindicação justa em ações que passam a ser ridicularizadas de tão incoerentes.
Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ e articulista de A Gazeta.
E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: www.argumento.bigblogger.com.br
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