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Politica Brasil
Domingo - 19 de Março de 2006 às 14:26
Por: Adriana Vandoni

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O interessante desta crise brasileira não é a descoberta de que no país existem corruptos. Desde que o Brasil foi descoberto a sua história está ligada a favoritismo, comissão e caixa 2. Desta vez a crise é moral mesmo, da dignidade da pessoa, um bem que dinheiro não poderia comprar.

Me chama a atenção o psicológico dos envolvidos e a facilidade com que eles absorvem alguns fatos e o incorporam como verdades. Outro ponto interessante é como parte da sociedade aceita esses desvios. Até aqueles que tentam prezar pela honestidade, por conveniência, acabam convivendo e aceitando com a moralidade duvidosa.

Esta semana me perguntaram, durante uma entrevista, se uma reforma política e eleitoral resolveria o problema de quebra de acordo ou o não cumprimento de compromissos. É claro que uma reforma política e eleitoral, se acontecer, será um balizador de ações, mas o problema do não cumprimento dos compromissos extrapola os limites da Lei. Ela tem a ver com os princípios morais das pessoas, com os valores que cada um traz de berço e, para isso, não existe Lei. Poderia existir justiça séria que punisse atos dessa natureza, mas não existe. E a impunidade é a maior aliada desse mau-caratismo.

A absolvição dos mensaleiros é de fato a prova do nosso fracasso como cidadãos. Não temos capacidade para escolher nossos representantes e nunca fomos representados pelos que vencem as eleições. Aliás, Platão já dizia que nem sempre os vencedores são os melhores.

Por um momento pensei que a anseio de moralidade da opinião pública poderia orientar o desfecho dos trabalhos da comissão de ética da Câmara Federal. Ledo engano. O corporativismo fala mais alto, e nisso não existe oposição nem situação. São todos cúmplices da imoralidade. Fato que não ocorreria se na oposição estivesse o PT de tempos atrás, aquele PT que zelava pela moral. Hoje, apenas um espectro do seu passado.

Um jornalista escreveu que a comemoração saltitante do Professor Luizinho, ao ser absolvido pela Câmara, era o retrato do nosso fracasso.

É verdade. Da mesma forma que as declarações de Pedro Henry o é. Ao dizer que “Para falar de mim nesse Estado, vai ter que lavar a boca”, quase repetindo o "seu" presidente, quando disse que ninguém neste país tem mais moral que ele, mal percebe que a olhos desanuviados é possível ver pizzas escorrendo pelos cantos de sua própria boca.

Neste estado de Mato Grosso, apesar dos comprometidos e dos investigados, dos ex-companheiros dos tantos “Comendadores” que por aqui já passaram, ainda existe uma sociedade que não se ilude e não emociona com declarações que antes de serem em defesa de sua própria honra, são declarações de auto-piedade, com intuito de comover os mais desavisados e ameaçar toda a sociedade.

O triste é que existem os desavisados em maior número, o que me deixa pesarosa com a possibilidade do absolvido conseguir um novo indulto nas próximas eleições. Esse é o lado ruim da democracia em um país de ignorantes.

Mas existe na sociedade de Mato Grosso, muita gente que não se deixa levar por sentimentalismo piegas e fajuto. Existem pessoas que têm a boca limpa e a consciência livre para poder enxergar nitidamente os dejetos de pizza mastigada expelidas pelos poros dos mensaleiros e consegue perceber que não existe mérito algum em ser absolvido por uma Câmara comprometida como esta.

Limpe a boca, nobre deputado, antes de ameaçar a sociedade mato-grossense.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ e articulista de A Gazeta – Cuiabá / MT.

E-mail: avandoni@uol.com.br / Blog: www.argumento.bigblogger.com.br




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