Manuais da vida

Existe manual para tudo, para todos os tipos de necessidades. Para usar o celular, para ligar a impressora, para montar o ventilador, enfim, são aqueles manuais que não estão a venda, eles acompanham os produtos que compramos e pouca gente lê. Eu não leio, confesso. Mas existem outros tipos de manuais que são vendidos como água. São os manuais de auto-ajuda. Céus, como vendem!

Este fim de semana estive na Bienal do Livro em São Paulo e fiquei impressionada com a quantidade de livros de auto-ajuda. Nada contra, claro. Só acho interessante. Como é de costume, sempre que vou a São Paulo chamo S. Daniel, um motorista de táxi que já se tornou conhecido da família de tanto que nos atende. Um excelente profissional e de absoluta confiança, porém, S. Daniel, apesar dos últimos acontecimentos, continua um petista. Pois bem, S. Daniel foi me levar na Bienal e aproveitou para fazer umas comprinhas por lá. Ele queria comprar um daqueles livros: “Como ficar rico em 10 lições”. Perguntei a ele se era o primeiro livro desse tipo que ele ia ler.

- Não, já li uns sete ou mais livros de auto-ajuda. “Como vencer na vida em 5 lições”; “Como subir na vida, passo-a-passo”; “Jamais desista dos seus sonhos”; e por ai vai.

- Mas S. Daniel, o senhor segue a risca os ensinamentos?

- Sigo, ainda não obtive sucesso, mas aprendi que jamais devo desistir dos meus objetivos.

Sem ter como argumentar, respondi: - Entendo!

S. Daniel me despertou a curiosidade para esses manuais, afinal, a grande vedete deste ano são os manuais de auto-ajuda. Rodei a Bienal inteira em busca do Manual de Estratégia Política que o Zé Dirceu leu. Não encontrei, escutava repetidas vezes: “esgotado”. Mas que diabo! Quem teria esgotado a edição inteira do Manual do Zé Dirceu? Daí caiu a ficha. Há tempos venho acompanhando as movimentações dos partidos políticos aqui no estado, foi ai que me deu um estalo. Descobri! Foi o PPS de Mato Grosso que comprou todos os exemplares do Manual de Estratégia Política do Zé Dirceu.

Como eles têm errado! Os atropelos começaram nas eleições municipais com aquela embromação para escolher quem seria o candidato. Por uma birra pessoal, Roberto França (então prefeito de Cuiabá e presidente do PPS/MT) fez com que o PPS preterisse o Deputado Carlos Brito, que seria um excelente candidato, mas, o que castigou mais o partido não foi o erro da escolha, mas a demora em tomar decisão. O disse e desdisse mata a respeitabilidade de qualquer um, ainda mais de um partido, pois faz com que a população perceba a falta de coesão e passe a desacreditar. Líderes devem ter firmeza e ser rápidos em assumir posições. Quando existe dúvida, melhor ficar quietos para não trombarem uns nos outros. Exatamente isso que está acontecendo agora. Um fala, outro desfala. Um sobressai, outro passa rasteira. Isso porque são correligionários. Imaginem se fossem adversários?

O Governador Blairo (PPS/MT) também tem cometido erros políticos estratégicos, daí a minha suspeita do paradeiro do manual do Zé Dirceu. Não entro no mérito administrativo, onde ele tem muitos acertos, mas tem seus erros, como todo administrador público, mas no campo político o bichinho tem se atrapalhado. Em nível estadual começou não sabendo administrar os aliados, tentou acender uma vela ao santo outra ao diabo, mas essa nunca foi a melhor ação. Só provoca desgaste e é o que está acontecendo.

Em nível federal ele foi mais contundente ainda. Não gostaria de romper com Lula, e até pensava em ter Alexandre César (ex-presidente do PT/MT) como vice nos bons tempos do PT. Agora declarou que prefere Alckmin (PSDB), embora tenha simpatia em apoiar Rigotto (PMDB), com quem tem laços familiares. Enquanto isso o presidente nacional do seu partido diz que também saíra candidato. Que coisa hein?

O governador tem a estranha mania de delegar aos outros as decisões e as posições que ele deveria tomar. Foi assim na escolha do candidato a prefeito em 2004 e desde o ano passado tem feito o mesmo na escolha dos aliados. Parece que o PPS está se tornando, literalmente, um PARTIDO.

Voltando à Bienal, fiz uma descoberta fantástica. Sei que o presidente Lula gosta de se vangloriar de nunca ter lido um livro, e até declarou que ler é pior que fazer esteira, por isso ele ainda não deu as caras por lá. Seria muito engraçado vê-lo folheando um livro. Aliás, um tempo atrás, o jornalista Paulo Markun o entregou três livros e disse que só o primeiro estava concluído, os dois outros tinham apenas a capa. Nisso Lula devolveu o que estava pronto e folheou os repletos de folhas em branco. Disse, no alto da sua sabedoria “Isso é que é livro bom”, “a gente nem precisa ler”.

Pois eu descobri na Bienal um livro que faria muito bem ao presidente. Acho que seria sua Bíblia, se é que não foi a fonte inspiradora. Isso eu não sei, mas que eu me lembrei dele, lembrei.

É um Manual de auto-ajuda, escrito pelo PhD Dr. Reinaldo e pelos Doutores Helio De La Pena, Beto Silva, Marcelo Madureira, Bussunda e outros, todos integrantes do Casseta e Planeta. Uma coletânea seeensaaaacionaaaal de dicas para se dar bem na vida, com uma linguagem simples e de fácil assimilação, o seu entendimento está ao alcance de qualquer um. O nome do livro? Bem, para não ferir os mais sensíveis, vou usar a linguagem dos gibis da turma da Mônica: “Como se dar bem na vida, mesmo sendo um #@&%#”.