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Internacional
Segunda - 13 de Março de 2006 às 18:40

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O governo de Belgrado enfrentou nesta segunda-feira a forte pressão dos nacionalistas, defensores de um funeral em solo sérvio para o ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que morreu sábado em Haia, onde há quatro anos era julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

O enterro de Milosevic se transformou num delicado dilema para Belgrado, já que uma sepultura em solo sérvio equivaleria a um reconhecimento para o homem cuja política ensangüentou a ex-Iugoslávia nos anos 90 e poderia reavivar o nacionalismo ainda forte numa Sérvia que tenta se aproximar da União Européia (UE). O advogado da família Milosevic, Zdenko Tomanovic, anunciou nesta segunda-feira, em Haia, que já informou "o governo da Sérvia-Montenegro de que os funerais acontecerão em Belgrado, como deseja a família".

Esta hipótese significaria o regresso à Sérvia de Mira Markovic, a esposa do ex-presidente, que também foi uma conselheira política próxima de seu marido e sobre a qual pesa um mandado de prisão por abuso de poder.

Markovic exilou-se em 2003 na Rússia, onde supostamente vive seu filho, Marko.

"Ainda não decidi onde será enterrado meu marido. Se dependesse apenas de mim, seria em Pozarevac", a aldeia natal da família, 70 quilômetros a sudeste de Belgrado, declarou a viúva de Milosevic à edição desta segunda-feira do jornal Vercernje Nosvosti.

No entanto, desde o dia da morte do ex-presidente iugoslavo, também se cogitou a possibilidade de um funeral na Rússia, considerando que o Partido Socialista (SPS) de Milosevic já descartou o enterro de seu líder na Sérvia se toda a família não estiver presente.

O presidente sérvio, o reformista e pró-europeu Boris Tadic, disse no domingo que não permitirá o retorno de Markovic ao país.

Tadic considerou, além disso, que "alguns funerais nacionais para Slobodan Milosevic seriam absolutamente inconvenientes devido a seu papel na recente história da Sérvia".

Numa tentativa de resolver a situação, o advogado da família Milosevic solicitou a anulação da ordem de captura contra Markovic, segundo informou uma porta-voz do tribunal de Belgrado, Ivana Ramic, que explicou que essa decisão será tomada por uma corte composta por três juízes.

O Partido Democrático da Sérvia (DSS), do primeiro-ministro Vojislav Kostunica, anunciou sua intenção de respeitar qualquer decisão da justiça que permita o retorno da viúva de Milosevic à Sérvia para o enterro do marido.

Desde a morte de Milosevic -- no centro de detenção do TPI, que o julgava por crimes contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio -- tanto o SPS quanto os ultranacionalistas do Partido Radical (SRS) multiplicaram os homenagens a seu "herói".

Nesta segunda-feira, o partido de Milosevic - cujo apoio ao governo no Parlamento é importante para a coalizão governamental - ameaçou derrubar o executivo caso o funeral de seu líder não ocorra na Sérvia, na presença de toda a família de Milosevic. A embaixada da Holanda em Moscou concedeu a Marko Milosevic, filho do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, um visto de três dias para que possa viajar a Haia e organizar o traslado do corpo do pai, informaram nesta segunda-feira fontes próximas ao Ministério Holandês das Relações Exteriores. "Concedemos um visto de três dias, a partir de hoje - segunda-feira, a Marko Milosevic", destacou para a AFP Dirk-Jan Vermeij, porta-voz do Ministério holandês das Relações Exteriores.

Este último acrescentou que quatro médicos russos obtiveram um visto na semana passada para a Holanda.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, declarou nesta segunda-feira ter direito a não confiar na necropsia realizada em Haia no ex-presidente iugoslavo e anunciou o envio de especialistas do seu país à cidade holandesa para, pelo menos, analisar os resultados.





Fonte: AFP

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