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Internacional
Segunda - 06 de Março de 2006 às 18:30

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O Alto Comissário da ONU para os Refugiados (Acnur), o português António Guterres, pediu hoje à comunidade internacional que financie o pagamento dos salários das forças armadas de alguns países africanos da região dos Grandes Lagos para melhorar a segurança de mulheres e crianças.

"Na República Democrática do Congo, as forças armadas são parte do problema de segurança" do país, disse hoje o representante do Acnur em uma entrevista coletiva em Genebra, na qual também denunciou que os militares do país "são um fator de violação dos direitos humanos".

Guterres encerrou uma visita ao Congo, Burundi, Ruanda e Tanzânia, países que se encontram em uma grave crise humanitária, pois a situação de insegurança provocada pelo deslocamento de milhares de pessoas devido a conflitos se soma à falta de alimentos provocada pela grave seca que afeta esta região africana.

Representantes do Acnur, do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e do Fundo da ONU para a Infância (Unicef) destacam na semana passada que os progressos políticos na área são impossíveis se não houver novos compromissos de ajuda humanitária.

Além de Guterres, a responsável de operações do Acnur, Judy Cheng-Hopkins, da Indonésia, fez uma visita ao Chade, outro país da área que se encontra em situação frágil, já que existem em seu território acampamentos de refugiados vindos da região vizinha de Darfur, no Sudão, e da República Centro-Africana.

"Trata-se dos dois maiores e mais complicados problemas que a comunidade internacional tem de enfrentar na África", ressaltou o comissário do Acnur em referência ao Chade e à região dos Grandes Lago Guterres indicou, entretanto, que, ao final de sua viagem à região, sua "primeira impressão foi a de esperança".

Ao detalhar a situação da República Democrática do Congo (RDC), indicou que no país "falta de tudo. De um Governo às infra-estruturas, mas seu povo apóia o processo de paz e se prepara para realizar eleições presidenciais e parlamentares dentro de alguns meses".

Na RDC, as forças armadas não recebem seus salários e participam de saques e pilhagens para conseguir dinheiro, o que contribui para o aumento da violência, especialmente contra mulheres e crianças.

"Há um nível intolerável de violência sexual contra as mulheres" no leste do Congo, disse Guterres, ao acrescentar que só nesta região o UNICEF contabilizou 25 mil estupros no último ano, embora algumas ONG destaquem que o número de atos violentos pode superar os 40 mil.

"A maior parte dos estupros são cometidos pelos soldados", acrescentou o comissário, e destacou que muitas das vítimas, além de enfrentar uma gravidez não desejada, são infectadas pela aids.

O conflito no Congo é considerado o mais sangrento registrado desde a Segunda Guerra Mundial, com quatro milhões de mortos e 1.200 pessoas mortas, em média, a cada dia.

Além disso, mais de 3,4 milhões de vítimas da violência se tornaram refugiados e outros 17 milhões não têm acesso a refeições regulares.

No caso do Burundi, os policiais recebem seus salários, de US$ 13 por mês, disse o responsável do Acnur, que ressaltou que o problema de segurança se agrava porque as forças armadas necessitam, além de remuneração, de disciplina.

"É muito importante que, nessa fase de transição que vivem esses países, sua Polícia e seus exércitos sejam financiados para garantir a segurança da população", disse Guterres, que ressaltou que "a comunidade internacional tem que entender o problema, depois discuti-lo e organizar a ajuda".

Além disso, insistiu que seu objetivo "não é acusar as autoridades, mas dizer que há um problema a resolver e que, sem enfrentar a tragédia, não haverá garantias de segurança para a população".

Para Guterres, a crise da região dos Grandes Lagos deve ser tratada "de forma regional" através da ajuda a milhares de refugiados que querem voltar para suas cidades, as quais abandonaram devido à insegurança alimentar ou por causa dos ataques das milícias.

Por sua vez, Cheng-Hopkins ressaltou "a generosidade do Governo do Chade ao receber milhares de refugiados", apesar de ter dito que este acolhimento pode ser interrompido a qualquer momento por falta de recursos.




Fonte: EFE

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