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Politica Brasil
Segunda - 06 de Março de 2006 às 09:59
Por: Haroldo Assunção

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Imagine um vírus capaz de matar uma pessoa em menos de uma semana e que neste exato momento viaja pelos quatro cantos do mundo, de carona com as aves migratórias. Não, infelizmente não é ficção científica – a ameaça existe mesmo e responde pelo nome H5N1, o vírus causador da influenza aviária, a gripe das aves. De aproximadamente 200 casos já identificados da doença em humanos, 90 foram fatais. Por enquanto, o vírus não chegou ao continente americano – as ocorrências foram registradas principalmente na Ásia e África. Há poucos dias, chegou à Europa.

Atento ao risco iminente, o governo federal lançou recentemente o Plano Operacional de Prevenção à Influenza Aviária, que prevê ações para proteção dos plantéis avícolas brasileiros e será colocado em consulta pública por trinta dias. Por isso, o deputado Humberto Bosaipo apresentará ao Plenário da Assembléia Legislativa, na próxima terça-feira (07), requerimento para a realização de audiência pública, cuja realização está prevista para o dia 16 em Campo Verde, a fim de discutir o plano do governo federal.

Serão convidados, além do governador Blairo Maggi e do secretário de Desenvolvimento Rural, Clóvis Vetoratto, representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instituto de Defesa Agropecuária, Federação Mato-grossense da Agricultura, Conselhos Regionais de Medicina Veterinária e Zootecnia, sindicatos e associações de produtores.

Além do perigo para a saúde pública, a influenza aviária pode ser devastadora para a economia nacional e, particularmente, de Mato Grosso. Em 2005, as exportações brasileiras cresceram 35% com relação ao ano anterior, totalizando US$ 3,508 bilhões – US$ 3,324 bi em carne de frango in natura e US$ 184 milhões em frango industrializado. Mais de 150 países compram os produtos avícolas do Brasil. Este ano, com a abertura de novos mercados, há a estimativa de um crescimento entre 5% e 10%.

Mato Grosso, da mesma forma, apresenta um expressivo crescimento no setor de avicultura – hoje são mais de 15 milhões de cabeças, nos municípios de Primavera do Leste, Campo Verde, Chapada dos Guimarães, Tangará da Serra e região do Médio Norte.

Ano passado, a Perdigão instalou uma unidade em Nova Mutum e prevê investimentos superiores a R$ 200 milhões em ampliação e modernização, para abater 280 mil aves por dia até 2007. Com três turnos de trabalho, a indústria empregará cerca de dois mil funcionários – atualmente, são 500 funcionários para o abate de 50 mil aves/dia. A concorrente Sadia também tem planos de ampliar os empreendimentos em Mato Grosso – a empresa vai investir diretamente R$ 800 milhões em um projeto total de R$ 1,5 bilhão, que prevê dois abatedouros em Lucas do Rio Verde e dois em Campo Verde. A Perdigão terá 650 novos aviários no Estado e a Sadia, outros 2300.

“Com tal perspectiva de expansão, seria desastroso para Mato Grosso uma epidemia da gripe aviária, além do perigo para a saúde pública”, avalia o deputado Humberto Bosaipo. “Por isso, é necessário que estejamos preparados para essa eventualidade, razão pela qual a Assembléia Legislativa irá discutir o tema com a sociedade organizada e os segmentos ligados à avicultura e à sanidade animal”, justifica o parlamentar.

Representantes de órgãos envolvidos aprovaram a iniciativa de Bosaipo. Para o delegado do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Paulo Bilego, “o momento é oportuno, principalmente para esclarecer a sociedade e os avicultores sobre os riscos reais que a doença representa”. Na opinião dele, uma endemia da gripe aviária no Brasil “seria uma catástrofe”.

Igual juízo foi emitido pelo presidente do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), Décio Coutinho. “É louvável a preocupação do deputado Humberto Bosaipo, principalmente porque a avicultura cresce a passos largos em Mato Grosso e não podemos correr o risco de um desastre com essa doença”, afirmou. Coutinho informou ainda que o Indea, em conjunto com órgãos e entidades ligados ao segmento, está finalizando um projeto de lei – que será em breve enviado à apreciação da Assembléia Legislativa - para disciplinar a atividade no Estado. O Indea já realizou o cadastramento georreferenciado dos estabelecimentos avícolas do Estado – parte do Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária.

As autoridades mato-grossenses também solicitaram ao Ministério da Agricultura a inclusão do Estado na primeira fase de implementação do programa.

Homero Pereira, presidente da Federação Mato-grossense de Agricultura e Pecuária, também elogiou a iniciativa de Bosaipo. “Sem chegar ao Brasil, a gripe aviária já nos trouxe prejuízos, pois a Europa está comprando menos frango; não podemos nos omitir e a discussão pública da questão será muito importante”, avaliou.

Já o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), Valnei Corrêa, afirma não ter dúvidas sobre a futura chegada do vírus H5N1 ao Brasil. “É uma questão de tempo”, decretou. “Por isso, é importante que a Assembléia Legislativa traga à discussão o tema, afim de alertar os criadores, a população, assim como para planejar medidas eficazes de controle e combate da doença”, disse Côrrea. A médica veterinária Maristela Brito, da Comissão de Sanidade Animal do CRMV acrescentou que a entidade já adotou algumas medidas, principalmente no para informar a população e os produtores.

GRIPE AVIÁRIA - A gripe aviária é resultado da infecção das aves pelo vírus da influenza, cujas cepas são classificadas de baixa ou de alta patogenicidade, de acordo com a capacidade de provocarem doença leve ou grave nesses animais.

Todas as aves são consideradas suscetíveis à infecção, embora algumas espécies sejam mais resistentes que outras. A doença provoca vários sintomas nas aves, os quais variam de uma forma leve até uma doença altamente contagiosa e extremamente fatal que pode resultar em grandes epidemias. Esta é conhecida como “gripe aviária de alta patogenicidade” e se caracteriza por início súbito, sintomas graves e morte rápida, com taxa de mortalidade próxima a 100%. Quinze subtipos do vírus Influenza infectam as aves. Todos os surtos da forma de maior patogenicidade foram causados pelos subtipos H5 e H7.

A transmissão entre diferentes espécies de aves dá-se por contatos diretos ou indiretos de aves domésticas com aves aquáticas migratórias (principalmente patos selvagens), as quais são reservatórios naturais do vírus e também mais resistentes às infecções, têm sido a principal causa das epidemias. A exposição direta a aves infectadas ou a suas fezes (ou à terra contaminada com fezes) pode resultar na infecção humana.

As aves e as pessoas se infectam por inalação ou ingestão do vírus presente nas fezes e secreções (corrimento nasal, espirro, tosse) das aves infectadas. Ovos contaminados são outra fonte de infecção de galinhas, principalmente nos incubatórios de pintinhos, visto que o vírus pode ficar presente de 3 a 4 dias na casca dos ovos postos por aves contaminadas. Não foi evidenciado transmissão pela ingestão de ovos. A transmissão também se dá pelo contato com ração, água, equipamentos, veículos e roupas contaminadas.

Atenção: O vírus é sensível ao calor (56ºC por 3 horas ou 60ºC por 30 minutos) e desinfetantes comuns, como formalina e compostos iodados. Também pode sobreviver em temperaturas baixas, em esterco contaminado por pelo menos três meses. Na água, o vírus pode sobreviver por até 4 dias à temperatura de 22ºC e mais de 30 dias a 0ºC. Para as formas de alta patogenicidade (H5 e H7), estudos demonstraram que um único grama de esterco contaminado pode conter vírus suficiente para infectar milhões de aves.

A doença pode se espalhar facilmente de uma granja para outra. Um grande número de vírus é eliminado nas fezes das aves, contaminando a terra e o esterco. Os vírus respiratórios, quando inalados, podem propagar-se de ave para ave, causando infecção. Os equipamentos contaminados, veículos, forragem (pasto, alimento), viveiros ou roupas – principalmente sapatos – podem carrear o vírus de uma fazenda para outra. O vírus também pode ser carreado nos pés e corpos de animais, como roedores, que atuam como “vetores mecânicos” para propagar a doença.

As fezes de aves selvagens infectadas podem introduzir o vírus nas aves comerciais e domésticas (de quintais). O risco de que a infecção seja transmitida de aves selvagens para aves domésticas é maior quando as aves domésticas estão livres, compartilham o reservatório de água com as aves selvagens ou usam um reservatório de água que pode tornar-se contaminado por excretas de aves selvagens infectadas. Outra fonte de disseminação são as aves vivas, quando comercializadas em aglomerados sob condições insalubres.

A doença pode propagar-se de um país para outro país por meio do comércio internacional de aves domésticas vivas. Aves migratórias podem carrear o vírus por longas distâncias, como ocorrido anteriormente na difusão internacional da influenza aviária de alta patogenicidade. Aves aquáticas migratórias – principalmente patos selvagens – são o reservatório natural dos vírus da influenza aviária e são mais resistentes à infecção. Eles podem carrear o vírus por grandes distâncias e eliminá-los nas fezes, ainda que desenvolvam apenas doença leve e auto-limitada. No entanto, os patos domésticos são suscetíveis a infecções letais, bem como os perus, os gansos e diversas outras espécies criadas em granjas comerciais ou quintais.

Assim como a gripe humana, causada pelos vírus de influenza humano, os vírus de influenza aviária causam nas aves problemas respiratórios (tosse, espirros, corrimento nasal), fraqueza e complicações como pneumonia. A doença causada pelos subtipos H5 e H7 (classificados como vírus de influenza aviária de alta patogenicidade) podem causar quadros graves da doença, com manifestações neurológicas (dificuldade de locomoção) e outras (edema da crista e barbela, nas juntas, nas pernas, bem como hemorragia nos músculos), resultando na alta mortalidade das aves.

Em alguns casos, as aves morrem repentinamente, antes de apresentarem sinais da doença. Nesses casos, a letalidade pode ocorrer em 50 a 80% das aves. Nas galinhas de postura observa-se diminuição na produção de ovos, bem como alterações na casca dos mesmos, deixando-as mais finas.

O tempo de aparecimento dos sintomas após a infecção pelo vírus da influenza depende do subtipo do vírus. Em geral os sintomas aparecem 3 dias após a infecção pelo vírus da influenza, podendo ocorrer a morte da ave. Em alguns casos esse tempo é menor que 24 horas e em outros pode chegar a 14 dias. Após a infecção, as galinhas eliminam o vírus nas fezes por cerca de 10 dias e as aves silvestres por cerca de 30 dias. Depois desse período, as aves que não morreram pela infecção podem desenvolver imunidade contra a doença. As aves não permanecem portadoras do vírus por toda a vida.

Os surtos de doença causados pelos vírus de alta patogenicidade representam risco para a saúde humana, em particular para os trabalhadores de granjas e de abatedouros dessas aves, pelo nível maior de exposição. Outros subtipos do vírus de influenza aviária, já foram diagnosticados em humanos, mas não causaram doença grave nem mortalidade em pessoas infectadas. Por isso é importante o diagnóstico de influenza, com identificação viral e caracterização antigênica, tanto nas infecções em aves quanto no homem, a fim de estudar os vírus circulantes, conhecer melhor os riscos para as pessoas e para as aves e pesquisar a viabilidade de desenvolvimento de vacinas em humanos.

Até recentemente, sabia-se que o vírus de influenza humana circulava apenas entre humanos e suínos - de suíno para humano e de humano para os suíno. Os vírus influenza aviário, normalmente, infectam suínos e estes infectam humanos. No entanto, em 1997 descobriu-se que um vírus influenza aviário causou infecção de pessoas, transmitindo-se diretamente da ave para o homem, sem passar pelo suíno.

Em dezembro de 2003, quando iniciou a mais recente epidemia de influenza aviária na Ásia, este fato se repetiu. Uma das hipóteses levantadas para essa mudança no comportamento do vírus é o contato freqüente e próximo entre diferentes espécies de aves e humanos.

O que preocupa as autoridades sanitárias é a infecção pelo vírus da influenza aviária em humanos e que ocorreu pela primeira vez em Hong Kong, em 1997. Atualmente, outros dois vírus de gripe aviária afetaram humanos recentemente. O H7N7, com início nos Países Baixos, em fevereiro de 2003, causou a morte de um veterinário dois meses depois, e sintomas levem em outras 83 pessoas. Casos mais simples do vírus H9N2 em duas crianças ocorreram em Hong Kong em 1999 e em meados de dezembro de 2003 (um caso).

O alerta mais recente é de janeiro de 2004, com a confirmação laboratorial da presença do vírus H5N1 da influenza aviária em casos humanos de doença respiratória grave no norte do Vietnã. O H5N1 causa preocupação especial, pois sofre mutação rapidamente e tem propensão para infectar outras espécies de animais (inclusive o homem), mas as infecções humanas com a cepa H5N1 não são freqüentes.

As medidas de controle mais importantes são: a rápida destruição de todas as aves infectadas ou expostas, o descarte adequado das carcaças, quarentena e desinfecção rigorosa das granjas. Além de restrições ao transporte de aves domésticas vivas, tanto no próprio país como entre países.

No Brasil, a vigilância da influenza está implantada desde o ano 2000. Baseia-se na estratégia de vigilância sentinela, composta por unidades de saúde/pronto atendimento e laboratórios. Esta rede informa semanalmente a proporção de casos de síndrome gripal atendidos nas unidades sentinela e os tipos de vírus respiratórios que estão circulando em sua área de abrangência. Para dar suporte a esse sistema, desenvolveu-se um sistema de informação, o SIVEP - Gripe, com transmissão de dados on line , garantindo assim a disponibilização dos dados em tempo real. Para o diagnóstico laboratorial são realizados testes específicos em amostras de secreção nasofaríngea, coletada por aspirado nasofaríngeo e/ou swab combinado.

Atualmente, o Sistema de Vigilância da Influenza está implantado em 24 unidades sentinela, a maioria delas localizada nas capitais de 12 estados das cinco regiões brasileiras, com previsão de implantação no ano 2004 em outros cinco estados. No entanto, independente da participação nesta rede sentinela, toda suspeita da ocorrência de surto de influenza deve ser notificada, em consonância com as normas atuais sobre a notificação de doenças transmissíveis no país.

PESQUISAS - As pesquisas mais recentes mostram que o vírus de baixa patogenicidade pode, após circular por períodos curtos nas aves, sofrer mutações para formas de alta patogenicidade. Desde meados de dezembro de 2003 alguns países asiáticos notificaram surtos de influenza aviária de alta patogenicidade em galinhas e patos, a saber: Cambodja, China, Coréia do Sul, Indonésia, Japão, Laos, Paquistão, Taiwan, Tailândia, Vietnã.

Infecções em outras espécies (aves selvagens e suínos) também foram notificadas. A rápida propagação da influenza aviária de alta patogenicidade, com ocorrência de surtos em vários países ao mesmo tempo, é historicamente inédita e de grande preocupação para a saúde humana e animal. Especialmente alarmante, em termos de riscos para a saúde humana, é a detecção da cepa de alta patogenicidade conhecida como o H5N1, como a causa da maioria desses surtos.

Há evidências de que esta cepa tem uma capacidade singular de “pular” a barreira das espécies e causar doença grave, com alta mortalidade em humanos. Destaca-se a possibilidade de que a situação presente possa originar outra pandemia de influenza em humanos. Cientistas reconhecem que os vírus da influenza aviária e humana podem trocar material genético quando uma pessoa é infectada simultaneamente com vírus de ambas espécies. Este processo de troca genética no organismo pode produzir um subtipo completamente diferente de vírus influenza para o qual poucos humanos teriam imunidade natural.

As vacinas existentes, desenvolvidas para proteger os humanos durante epidemias sazonais, não seriam eficazes contra um vírus influenza completamente novo. Se o vírus novo contiver genes da influenza humana, pode ocorrer a transmissão direta de pessoa a pessoa (e não apenas de aves para o homem). Quando isto acontecer, estarão reunidas as condições para o início de uma nova pandemia de influenza. Isso foi observado durante a grande pandemia de influenza de 1918 -1919 (Gripe Espanhola), quando um subtipo novo do vírus influenza se espalhou mundialmente, com morte estimada de 40 a 50 milhões de pessoas. Atualmente, o tempo médio entre a identificação de uma nova cepa e a produção de uma vacina específica é de 4 a 6 meses.





Fonte: Da Assessoria AMM

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