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Uso de "sangue falso" gera polêmica entre médicos
O uso de sangue artificial em pacientes nos EUA está provocando polêmica entre médicos. Especialistas em ética médica dizem que um estudo científico está usando o novo produto em centenas de pacientes de traumas sem o devido consentimento, apesar da substância ainda estar em experimentação.
É uma polêmica já iniciada em 2004, quando os Laboratórios Northfield receberam aprovação para o estudo envolvendo o substituto de sangue batizado Polyheme. O debate foi reacendido por matéria do Wall Street Journal, que sugeriu que a companhia tentou esconder detalhes cruciais sobre um estudo anterior envolvendo substitutos do sangue em 200.
O jornal afirmou que dez pacientes operados no experimento do Polyheme sofreram ataques do coração enquanto os pacientes que receberam sangue real não enfrentaram o problema. A companhia Evanston, Ill teria realizado o estudo sem publicar os resultados completos.
Entretanto, o representante da Northfield, o médico Steven Gould, diz que não houve tentativa de encobrir o resultado. Ele afirmou, na última terça-feira, que o Polyheme não causou ataques do coração ou aumento o índice de mortalidade dos pacientes. O médico explicou que o estudo foi interrompido, não por questões de segurança, mas porque a companhia queria focar-se na pesquisa de traumas.
A especialista em ética da Universidade da Carolina do Norte Nancy M.P. King defende que o estudo nunca deveria ter começado. Ela e seus colegas escreveram, em artigo, que o sangue verdadeiro não deve ser substituído pela imitação em pessoas sem o seu consentimento. "Há uma falha ética séria neste complicado estudo", diz o texto publicado no site do American Journal of Bioethics (Jornal Americano de Bioética).
Já os defensores do sangue "falso" lembram que encontrar um substituto viável poderia revolucionar a medicina de emergência e potencialmente salvar milhões de vidas. O objetivo é criar um produto que funcione como sangue humano e que posso ser carregado em ambulâncias. Além disso, esse sangue poderia ser administrado rapidamente independentemente do tipo sangüíneo do paciente.
A companhia Baxter International Inc. suspendeu uma pesquisa sobre o assunto em 1998 quando mais de 20 pacientes que receberam o sangue substituto morreram. Os Laboratórios Northfield agora querem liderar na área e garantem que o Polyheme funciona.
O produto é feito de hemoglobina extraída de células de sangue humano. Ao contrário do fluído salino, substância padrão usada no atendimento paramédico de traumas, o Polyheme possui alguma das características nutricionais do sangue verdadeiro, segundo Northfield.
Um estudo anterior da empresa, feito de 1998 a 2000, avaliou pacientes com defeitos nas artérias do coração que consentiram em usar o Polyheme. As ações do laboratório caíram 28 pontos depois que o Wall Street Journal divulgou as 10 mortes entre pacientes do Polyheme. A companhia retomou pontos logo depois, mas fechou ainda 13 pontos percentuais abaixo do número antes da matéria.
O estudo No estudo que está em andamento, iniciado em 2004, as vítimas de traumas recebem Polyheme ou fluído salínico no caminho para o hospital. Ao chegarem no local, os que receberam Polyheme continuam com o sangue falso por até 12 horas enquanto os que receberam o fluído passam a receber transfusões de sangue.
Mais de 600 pacientes em 31 centros de atendimento de emergência, em 18 estados americanos, participam do estudo. Os primeiros resultados só sairão neste ano.
Os especialistas em ética médica afirmam que o problema no estudo ocorre quando os pacientes chegam ao hospital. A aplicação de Polyheme, no lugar do sangue, deve ser feita somente nos pacientes que podem consentir com o experimento ou que possuem familiares que possam fazer isso, defende Ken Kipnis, da Universidade do Havaí, e Robert Nelson, anestesista da Filadélfia, co-autores do estudo publicado no American Journal of Bioethics.
Kipnis afirma que, se a fase do hospital for eliminada, o estudo não tem razão de ser. Ele explica que alguns pacientes hospitalizados inevitavelmente morrerão devido aos ferimentos sofridos, mas eles terão morrido ao "ter sido negado o tratamento adequado" (transfusão de sangue), diz o especialista em ética.
Minorias
A especialista em ética Karla FC Holloway, da Universidade de Duke, diz que o estudo, realizado majoritariamente em hospitais urbanos, expõe desproporcionalmente minorias a uma ciência questionável. O experimento funciona sob o mecanismo de dispensa federal de "consentimento informado", aplicável a estudos feitos em emergências. Braceletes plásticos nos doentes feridos ou inconscientes determinam quem participa ou não do teste. Nancy M.P. King diz que os procedimentos padrões, entretanto, não esclarecem que os pacientes receberão o tratamento, no lugar da transfusão sangüínea por várias horas, inclusive no hospital. Muitos dos procedimentos também não citam o estudo anterior envolvendo o Polyheme.
King afirma que, em janeiro, a Northfield evitou publicar um jornal semanal, em San Diego, a fim de divulgar informações sobre o estudo argumentando que a publicação revelaria segredos comerciais.
Uma porta-voz da empresa afirma que um levantamento, feito em 12 locais, mostrou que 2 mil pessoas requisitaram os braceletes de "não-participação". A maioria o fez por questões religiosas. Além disso, 11 de 600 pacientes que concordaram com o tratamento deixaram o experimento durante a fase hospitalar, após o atendimento emergencial.
É uma polêmica já iniciada em 2004, quando os Laboratórios Northfield receberam aprovação para o estudo envolvendo o substituto de sangue batizado Polyheme. O debate foi reacendido por matéria do Wall Street Journal, que sugeriu que a companhia tentou esconder detalhes cruciais sobre um estudo anterior envolvendo substitutos do sangue em 200.
O jornal afirmou que dez pacientes operados no experimento do Polyheme sofreram ataques do coração enquanto os pacientes que receberam sangue real não enfrentaram o problema. A companhia Evanston, Ill teria realizado o estudo sem publicar os resultados completos.
Entretanto, o representante da Northfield, o médico Steven Gould, diz que não houve tentativa de encobrir o resultado. Ele afirmou, na última terça-feira, que o Polyheme não causou ataques do coração ou aumento o índice de mortalidade dos pacientes. O médico explicou que o estudo foi interrompido, não por questões de segurança, mas porque a companhia queria focar-se na pesquisa de traumas.
A especialista em ética da Universidade da Carolina do Norte Nancy M.P. King defende que o estudo nunca deveria ter começado. Ela e seus colegas escreveram, em artigo, que o sangue verdadeiro não deve ser substituído pela imitação em pessoas sem o seu consentimento. "Há uma falha ética séria neste complicado estudo", diz o texto publicado no site do American Journal of Bioethics (Jornal Americano de Bioética).
Já os defensores do sangue "falso" lembram que encontrar um substituto viável poderia revolucionar a medicina de emergência e potencialmente salvar milhões de vidas. O objetivo é criar um produto que funcione como sangue humano e que posso ser carregado em ambulâncias. Além disso, esse sangue poderia ser administrado rapidamente independentemente do tipo sangüíneo do paciente.
A companhia Baxter International Inc. suspendeu uma pesquisa sobre o assunto em 1998 quando mais de 20 pacientes que receberam o sangue substituto morreram. Os Laboratórios Northfield agora querem liderar na área e garantem que o Polyheme funciona.
O produto é feito de hemoglobina extraída de células de sangue humano. Ao contrário do fluído salino, substância padrão usada no atendimento paramédico de traumas, o Polyheme possui alguma das características nutricionais do sangue verdadeiro, segundo Northfield.
Um estudo anterior da empresa, feito de 1998 a 2000, avaliou pacientes com defeitos nas artérias do coração que consentiram em usar o Polyheme. As ações do laboratório caíram 28 pontos depois que o Wall Street Journal divulgou as 10 mortes entre pacientes do Polyheme. A companhia retomou pontos logo depois, mas fechou ainda 13 pontos percentuais abaixo do número antes da matéria.
O estudo No estudo que está em andamento, iniciado em 2004, as vítimas de traumas recebem Polyheme ou fluído salínico no caminho para o hospital. Ao chegarem no local, os que receberam Polyheme continuam com o sangue falso por até 12 horas enquanto os que receberam o fluído passam a receber transfusões de sangue.
Mais de 600 pacientes em 31 centros de atendimento de emergência, em 18 estados americanos, participam do estudo. Os primeiros resultados só sairão neste ano.
Os especialistas em ética médica afirmam que o problema no estudo ocorre quando os pacientes chegam ao hospital. A aplicação de Polyheme, no lugar do sangue, deve ser feita somente nos pacientes que podem consentir com o experimento ou que possuem familiares que possam fazer isso, defende Ken Kipnis, da Universidade do Havaí, e Robert Nelson, anestesista da Filadélfia, co-autores do estudo publicado no American Journal of Bioethics.
Kipnis afirma que, se a fase do hospital for eliminada, o estudo não tem razão de ser. Ele explica que alguns pacientes hospitalizados inevitavelmente morrerão devido aos ferimentos sofridos, mas eles terão morrido ao "ter sido negado o tratamento adequado" (transfusão de sangue), diz o especialista em ética.
Minorias
A especialista em ética Karla FC Holloway, da Universidade de Duke, diz que o estudo, realizado majoritariamente em hospitais urbanos, expõe desproporcionalmente minorias a uma ciência questionável. O experimento funciona sob o mecanismo de dispensa federal de "consentimento informado", aplicável a estudos feitos em emergências. Braceletes plásticos nos doentes feridos ou inconscientes determinam quem participa ou não do teste. Nancy M.P. King diz que os procedimentos padrões, entretanto, não esclarecem que os pacientes receberão o tratamento, no lugar da transfusão sangüínea por várias horas, inclusive no hospital. Muitos dos procedimentos também não citam o estudo anterior envolvendo o Polyheme.
King afirma que, em janeiro, a Northfield evitou publicar um jornal semanal, em San Diego, a fim de divulgar informações sobre o estudo argumentando que a publicação revelaria segredos comerciais.
Uma porta-voz da empresa afirma que um levantamento, feito em 12 locais, mostrou que 2 mil pessoas requisitaram os braceletes de "não-participação". A maioria o fez por questões religiosas. Além disso, 11 de 600 pacientes que concordaram com o tratamento deixaram o experimento durante a fase hospitalar, após o atendimento emergencial.
Fonte:
EFE
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/314902/visualizar/
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