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Politica Brasil
Domingo - 26 de Fevereiro de 2006 às 10:13
Por: Adriana Vandoni

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O maior temor dos que comandavam o país durante o período militar era uma possível invasão dos comunistas pela Floresta Amazônica. Com especial preocupação o General Golbery do Couto e Silva elaborou um novo desenho geográfico para o país com a divisão de estados, ocupação da Amazônia e criação de vários municípios. “Integrar para não entregar”, esse era o lema. Baseado nessa leitura do General Golbery, que nada tinha a ver com desenvolvimento e sim com a Lei de Segurança Nacional, Mato Grosso foi dividido em 1977 e anos mais tarde serviu de base para uma proposta elaborada pelo senador Mozarildo Cavalcanti (RR), sugerindo que houvesse uma nova divisão do estado de Mato Grosso.

O tema é mais que polêmico e voltou no tabuleiro das discussões quando jornalistas descobriram que o então Ministro Gushiken mantinha reuniões a portas fechadas com uma equipe de técnicos, que estudavam um novo desenho geográfico para o Brasil, ainda baseado no projeto do general Golbery.

É um contra-senso danado que beira a falta de visão global, achar que dividindo se induz o crescimento com desenvolvimento. Isso vai contra o movimento do mundo que já percebeu que a estratégia é unir, fundir, associar, qualquer coisa, desde que esteja aumentando sua força política e econômica.

Taí, chegamos a um ponto bem legal para este domingo de carnaval. A quem interessa o esquartejamento de um estado uma vez que, com um simples e mediano raciocínio, pode-se perceber que quanto mais fracionado, menor o poder local.

Vamos imaginar um exemplo? Quem um deputado atende primeiro?, o prefeito de Rondonópolis onde existem 110 mil eleitores ou o prefeito de Serra Nova Dourada que possui apenas mil eleitores (dados atualizados do TSE). Aqui, neném, que o atendimento é igual! Hahaha, me engana que eu goooosto! Ou seja, existem certos fatores que abrem as portas para um prefeito que vai buscar ajuda de um deputado. Poder econômico e poder em votos.

Na realidade acontece assim: a necessidade desses mini municípios é tamanha, que muitos prefeitos se submetem a horas de cadeira a espera da boa vontade do deputado, que os fazem esperar exatamente para aumentar a sua importância na hora de cobrar apoio. É imundo, mas é assim que funciona. Toma lá, dá cá. O prefeito viaja horas por nossas estradas que parecem um tapete (sic), chega, fica o dia todo esperando e na hora que consegue ser atendido, aceita qualquer imposição do deputado, contanto que consiga levar para seu município uma caixa d’água, ou uma ambulância, ou qualquer prioridade básica.

Se no período militar a intenção do General Golbery era evitar uma suposta (ou imaginada) invasão comunista e que, mesmo sem ser o objetivo, possibilitou e alavancou o desenvolvimento e crescimento de MT, hoje a intenção dos que pregam divisão ou desmembramento, nada mais é que enfraquecer os municípios, tanto do que será criado, como do que perderá uma área. Tudo para facilitar o seu poder, ou seja, eleitoralmente é interessante criar micro municípios que viverão eternamente beijando as mãos deste ou daquele deputado.

Perdoe-me os mais sensíveis, mas se isso fosse apenas em decorrência de ignorância, até poderia ser relevado, mas é esperteza em demasia, logo, é imoral e imundo.

Qual seria a intenção de retalhar Mato Grosso criando ínfimos, mínimos, micro municípios? Alguém se lembra da idéia de dividir Mato Grosso em dois ou três, aliás, idéia amplamente defendida pelo atual presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Silval Barbosa, que chegou a criar um site na internet apenas para fazer apologia à divisão do Estado.

Imagine, hoje é um pretenso candidato ao Senado, ou a vice, ou a reeleição, sei lá, afinal na política nem tudo que parece ser é, além do PMDB ser o PMDB. Eu perguntaria, qual dos Mato Grossos o senhor representa?

A memória pode ser curta, o carnaval pode ser empolgante, a bebida inebriante, mas os fatos registrados jamais serão apagados e se forem esquecidos na cabeça de alguns, sempre haverá de existir alguém para refrescar a memória.

Vamos pular e cantar porque a festa é profana, mas é boa pra danar!

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT. E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: argumento.bigblogger.com.br




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