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Politica Brasil
Quarta - 22 de Fevereiro de 2006 às 09:14
Por: Adriana Vandoni

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Tenho um parente, não vou citar o nome, é claro, que morre de medo de fantasmas. Quer vê-lo nervoso e dizendo "para co isso", é começar uma daquelas conversas em final de noite sobre histórias de almas penadas e barulhos em casas mal assombradas.

Algumas casas são conhecidas como sendo assim. Outro dia vi uma reportagem na TV falando sobre uma casa dessas lá em São Paulo. Quando eu era criança ouvia muito falar sobre uma, no Bairro Bandeirantes, que me deixava aterrorizada. Diziam que quem passasse pela frente seria puxado pra dentro por uma força oculta. Claro que me pelava de medo e confesso, até pouco tempo atrás, evitava esse trajeto.

Existem outros relatos de casas com barulhos estranhos aqui em Cuiabá, como é o caso da antiga sede da Assembléia Legislativa, hoje Câmara Municipal. Diziam que durante a noite era possível escutar correntes se arrastando, gemidos e murmúrios. Alguns desses relatos que podem ser confirmados pelos mais antigos ou quem sabe por historiadores. Mas, se durante a noite tinham esses fenômenos sobrenaturais, durante o dia outros fenômenos estranhos e inexplicáveis aconteciam, mas não eram atribuídos aos fantasmas do passado, e sim a uma força oculta do presente.

As casas mal assombradas já viraram “causos” do passado, mas a tal “força oculta” ainda me intriga e me atrai para entender.

A Assembléia Legislativa mudou de casa, deixou para os vereadores de Cuiabá o ranger e os gemidos dos antepassados, mas, mesmo em uma casa nova e sem os fantasmas do passado, a tal “força oculta” ainda é responsável por fenômenos estranhos, atitudes inexplicáveis e poderes quase sobrenaturais, que transformam deputados em senhores feudais ou vassalos. Aos olhos do povo fica difícil a compreensão disso, o que passa é a impressão de que essa tal força objetiva um corporativismo para eleger sempre os mesmos membros. O que observamos é um corpo único que imobiliza a instituição Assembléia Legislativa em proveito apenas eleitoral, não atuando a favor da população. Essa foi a conclusão que cheguei após ouvir relato de lideranças dos extremos do estado. Foram unânimes em dizer, cada um a seu modo, que o poder é tal que limita ou impede a formação de novas lideranças pelo estado.

Aos poucos, e não tão devagar, a Assembléia vai se transformando em um feudo e, salvo algumas exceções, seus membros em simples vassalos dessa força sobrenatural.

A eleição para deputado é realizada no mesmo pleito das eleições para presidência da República e Governo do Estado. Isso pode influenciar o eleitor a dar pouco valor a sua escolha, o que justifica o fato de que, passado apenas alguns meses da eleição, muitos já tenham esquecido em quem votaram.

Esse poder quase sobrenatural e quase inexplicável, como pude notar, não beneficia um só canto deste estado, apenas alimenta e se alimenta cada vez mais, de mais poder.

Quem é o responsável? São as forças ocultas. Essa mesma força poderosa, oculta e estranha já foi responsável por momentos históricos no Brasil. Levou Jânio Quadros a renunciar e impede a realização da nossa tão esperada Hidrovia, como disse Aldo Rebelo.

E assim permanecerá se não houver na população um sentido de mudança, de renovação e de efetiva cobrança. Ações de parlamentares não podem e não devem ser classificadas como bondade ou maldade, pois não são favores. Devem ser encaradas como cumprimento de obrigação, ai sim, podem ser classificadas como eficientes ou não.

É preciso que haja uma ruptura com esse estranho pacto, com essa surpreendente força oculta, antes que viremos nós, população, meros vassalos dos nossos próprios escolhidos, amedrontados pelo ranger de suas correias.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT. E-mail: avandoni@uol.com.br Blog: argumento.bigblogger.com.br





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