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Politica Brasil
Segunda - 20 de Fevereiro de 2006 às 10:54
Por: Edílson Almeida

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Já disse várias vezes que não gosto de escrever minhas opiniões. Tenho sempre a impressão que vou acabou sendo injusto com alguém ou com alguma coisa. Por isso, sempre me abstenho desse cenário público. Sou tímido com os elogios – que são raros – mas também não me anima a idéia de saber que alguém destilou um palavrão sobre aquilo que eu penso. Já fiz até promessa, mas não adianta: vira e mexe e algo acaba me incomodando. Como aquele espetáculo triste - não, ou melhor, aquele espetáculo medonho - que o senador Antero Paes de Barros e o juiz Julier Sebastião da Silva proporcionaram à nação, durante sessão da CPI dos Bingos. Quanta estupidez!

Confesso que por obra do jornalismo amanheci conectado na TV Senado. Para a minha decepção, aquele pessoal parece que ainda não entendeu muito bem a importância de se dedicar mais para colocar as imagens na internet. Fiquei a ver navios. Sem TV a cabo, o que não se tolera mais nos dias de hoje, me tornei refém dos escassos comentários que recebia via telefone de amigos e informantes, ora pela própria agência do Senado. Porém, tive o cuidado de assistir, posteriormente, a uma fita de vídeo. Meu Deus, quanta perda de tempo.

O espetáculo armado no Senado pelo magistrado federal como pelo senador da República é digno dos piores momentos. Já era esperado! A briga foi cantada e decantada por muitas semanas pela mídia local. Óbvio, fez eco lá pelo Senado. Como diz o Nando, meu filho, ali estava mistura de nitrox com nitroglicerina – um eu sei o que é, outro não. Na cena armada ainda tinha alguém com um cigarro aceso e um isqueiro Zippo prontinho para “detonar” o ambiente. Por mais que os espíritos estivessem tolerantes, com expectativas positivas de lado e lado, não se poderia esperar outra coisa: a barrica explodiu. E feio!

Não vou me ater a tal história de quem foi pior ou quem foi melhor. Muito menos sobre quem ganhou e quem perdeu. Isso é papel da claque. E eu não vou, defintiivamente, agradar as duas ao mesmo tempo. Nem saberia dizer se o resultado foi um empate, na melhor saída à francesa. Também acho desnecessário falar sobre as revelações de Julier Sebastião da Silva e os contra-ataques do senador Antero de Barros. O juiz não trouxe grandes novidades naquilo que já é de domínio público e o senador não fez diferente do seu estilo conhecido, centrado em pejorativos pouco recomendáveis, como o palanqueiro “Pinóquio” e por ai afora.

Só posso dizer que foi triste. O debate nada acrescentou às investigações e pouco se produziu para o avanço e aperfeiçoamento das instituições democráticas. Nesse ponto, aliás, Julier Sebastião, como representante de uma espécie de Judiciário firme, duro, incorruptível, que às vezes suplanta até mesmo os bons princípios das garantias constitucionais, deixou a desejar ao entrar na baila de um discussão quase idiota de acusações trocadas. Pecou feio. Assim como Antero de Barros nada trouxe para uma sociedade ávida de um Legislativo produtivo e antenado aos anseios de uma sociedade formada em sua maioria por gente miserável, que reclama por boas leis, eficientes e fiscalizadoras: foi um fiasco.

Triste, para não dizer lamentável, ver dois homens de coragem se digladiar numa arena democrática com visões que não passaram da ponta do nariz de cada um. Julier e Antero – ou Antero e Julier, como queiram - não se despiram de um das piores doenças que um homem público pode carregar na vida: a arrogância. Ambos olharam para o próprio umbigo da vaidade. Foram, sim arrogantes e vaidosos, quase primários ante os olhos de uma sociedade que estava ansiosa, acima de tudo, por informações importantes para formar sua opinião. Ambos não fizeram outra coisa ao deixar quase que patenteado que o assunto extrapolou o campo político e jurídico e entraram firmemente numa contenda pessoal e enigmática, a ponto de se questionar o que cada um deseja ou onde querem chegar. O tempo vai responder. Por enquanto, Julier e Antero ficam devendo, na pior das hipóteses, o cultivo ao respeito mútuo. Por isso mesmo, ganham zero pela falta de urbanidade.

Edílson Almeida é jornalista em Cuiabá.





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