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Contrabandistas de diamantes movimentam US$ 1bi fora do país
Depois da prisão de seis integrantes da maior quadrilha de contrabando de diamantes do país, ocorrida na sexta-feira, a força-tarefa que comanda a Operação Carbono vai concentrar seus esforços na tentativa de reaver ao menos parte da fortuna amealhada de forma ilegal pela organização. A Polícia Federal, o Ministério Público, a Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já identificaram dezenas de bens que podem ser alvo de pedidos de seqüestro na Justiça. O Brasil também solicitará ajuda internacional para congelar contas que os integrantes da quadrilha mantêm em bancos da Suíça, dos Estados Unidos e da China.
A relação dos bens dos integrantes da organização já identificados soma dezenas de milhões de reais. São fazendas, apartamentos de luxo, mansões, salas comerciais, carros importados e pedras preciosas. Na sexta-feira, ao deflagrar a Operação Carbono, a PF apreendeu pelo menos cinco automóveis — entre eles duas Mercedes — e uma grande quantidade de diamantes.
Os bens da organização no Brasil valem uma fortuna, mas nada se compara ao que seus integrantes mantêm em bancos no exterior. De acordo com a PF, só uma das líderes da organização, Vivianne Albertino dos Santos, movimentava US$ 1 bilhão fora do país. O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça, irá solicitar informações a seus parceiros no exterior para acabar de mapear as contas bancárias dos membros da quadrilha. Depois, o Ministério Público pedirá à Justiça que determine o seqüestro do dinheiro depositado nessas contas.
Vivianne foi presa juntamente com uma de suas filhas, Patrícia Santos Pompeu de Saboya, seu genro, Daniel Carneiro, seu primo, Leandro Márcio dos Santos, e seu contador, Mateus Ribeiro da Silva. O diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral em Minas, Luís Eduardo Machado de Castro, também está preso. Até ontem, continuavam foragidos o cabeça da organização, Hassan Ahmad, os doleiros Gaby Amine Toufic Madi e Luiz Carlos França Campelo e o fornecedor de diamantes ilegais Paulo Traven.
A força-tarefa que compõe a Operação Carbono já trabalha em sintonia fina com a Interpol (polícia internacional), com a agência de combate ao narcotráfico dos Estados Unidos (DEA) e com o Ministério Público da Bélgica, país para onde é escoada a maior parte dos diamantes ilegais contrabandeados no Brasil e na África. Em breve, a parceria deve ser estendida a outros órgãos internacionais e países.
ALTO PADRÃO DE VIDA
Os bens pertencentes aos integrantes da quadrilha desbaratada pela Operação Carbono dão a medida exata do padrão de vida classe A que eles levavam. Só os cinco automóveis apreendidos pela Polícia Federal na sexta-feira estão avaliados em pelo menos R$ 600 mil. Entre eles, um jipe Mercedes ML e uma Mercedes C180K do ano, cujos modelos mais baratos custam R$ 320 mil e R$ 180 mil, respectivamente.
Uma das líderes da organização, a empresária Vivianne Albertino Santos, já presa, mora num apartamento de luxo em Belo Horizonte, no Bairro Sion (Região Centro-Sul). Já sua filha Patrícia Santos Pompeu de Saboya e seu genro Daniel Carneiro, também presos, vivem num apartamento no Belvedere (Região Centro-Sul), em frente ao BH Shopping.
Um dos doleiros que operavam para a quadrilha e que se encontra foragido, Luiz Carlos França Campelo, conhecido como Califa, tem uma casa com piscina no Bairro Cidade Jardim. Outro doleiro que operava para o grupo, Gaby Amine Toufic Madi, também foragido, mora no 13º andar de um prédio de alto padrão na Rua Groenlândia, no Sion (Região Centro-Sul). Gaby ainda é dono de uma rede de restaurantes de comida árabe na capital mineira.
Outro alvo da Operação Carbono é uma fazenda de 200 hectares pertencente a Vivianne. O imóvel fica em Itatiauiçu, a 84km de Belo Horizonte. A PF suspeita que a empresária usava a fazenda para lavar dinheiro por meio de criação de gado e de cavalos de raça e com a venda de sêmen animal. O imóvel tem uma bela sede, capela e escritório. Segundo um vaqueiro que trabalha na fazenda, Vivianne costumava passar os fins de semana no local, junto com a filha e o genro presos.
A sala da casa é bastante ampla, com piso em granito. Aconchegantes sofás cercam um piano e a lareira. Todas as janelas são fechadas com grades de ferro e com alarmes. Há câmaras de circuito interno espalhadas por todo lado. No subsolo, fica uma sofisticada academia de ginástica, com vista para o lago, onde são criadas tilápias. Na parte da frente da casa, depois de um gramado muito bem cuidado, fica uma pista de hipismo. Nos fundos, uma grande piscina, ao lado de um canil com dois cães da raça rottweiller. Tudo é bem cuidado.
Na fazenda, há uma equipe que cuida dos cavalos e outra do gado. São 14 cavalos das raças paint horse e mangalarga marchador e 26 cabeças de gado, sendo 18 vacas leiteiras, dois bois e seis bezerros, da raça Girolando. Vivianne não parecia muito preocupada com a produção de leite. Há três meses, ela não compra ração para o gado e a produção diária de leite caiu de 1,3 mil litros para 300l.
As baias, nos fundos da casa, em um local escondido entre uma mata natural e o pomar, são protegidas por um rottweiller, que mesmo dentro de uma jaula de ferro, durante o dia, vive acorrentado. Um veterinário toma conta dos cavalos. Um funcionário informou à PF que o cavalo mais barato custou R$ 5 mil. Ao cumprir o mandato de busca e apreensão na fazenda na sexta-feira, a PF encontrou uma nota fiscal de compra de um animal por R$ 14 mil.
Além de Vivianne, outro integrante da organização que investe em fazendas é Paulo Traven, atravessador de diamantes extraídos ilegalmente no interior de Minas, do Mato Grosso e da reserva dos índios cintas-largas, em Rondônia. Dono das empresas Traven & Rodrigues e SL Mineradora, ele possui fazendas no Mato Grosso.
Hassan Ahmad, o libanês nascido em Serra Leoa que encabeça a quadrilha, foi o mais precavido em relação à fortuna que construiu no mercado ilegal de diamantes. Ele não investia em propriedades nem mantinha altas somas de dinheiro em bancos no Brasil. Apesar de ser um homem milionário, Hassan morava num hotel de Belo Horizonte, o Libery Palace, na Savassi (Região Centro-Sul). A PF suspeita que ele tenha guardado a maior parte de seus recursos em bancos no exterior.
NEGÓCIO MOVIMENTA US$ 6,7 TRILHÕES POR ANO - A indústria ilegal de diamantes movimenta por ano algo em torno de US$ 6,7 trilhões, segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU). É uma fortuna considerável. Atinge mais que o dobro do montante de US$ 3 trilhões gerado em conjunto pelas dez principais máfias do mundo, enraizadas em 23 países, incluindo a dos traficantes de cocaína, que lucram perto de US$ 200 bilhões.Cerca de 4% do total extraído com a exploração clandestina das gemas (US$ 268 bilhões), segundo a Interpol, servem para sustentar conflitos armados. O melhor exemplo é Angola, país africano que produz 80% dos melhores diamantes do mundo. Já são mais de 30 milhões as armas leves em circulação na África, de acordo com o relatório anual de Small Arms Survey, uma organização independente que estuda a difusão das armas leves no mundo e o seu impacto nas sociedades dos países mais pobres.
Cada vez mais, esses canais têm se conectado com traficantes de diamantes latino-americanos. No Brasil, mineradores africanos legalizam suas gemas obtendo certificado de origem e qualidade, como se as pedras tivessem sido garimpadas aqui. Os diamantes, na verdade, vêm de países africanos como Angola, Congo e Serra Leoa, onde as pedras financiam a guerra, que mutila crianças. Os chamados “diamantes de sangue” chegam ao Brasil para serem trocados por outros, que voltam para a África com documentação brasileira. O objetivo final é conseguir o Certificado Kimberley, selo mundial que atesta a origem e qualidade das pedras, possibilitando a comercialização das gemas. Isso porque o mercado internacional encara com desconfiança países africanos, onde o controle das minas de diamante é sinônimo de atrocidade e negócios.
O Brasil também é palco de conflitos internos, que não se assemelham aos da África, mas deixam suas marcas. É o caso da lavra clandestina nas terras indígenas da Reserva Roosevelt, em Rondônia, que levou à morte de 29 índios cinta-larga e garimpeiros, em 2004.
Atualmente, a produção brasileira anual de diamantes corresponde oficialmente a apenas 0,2% da mundial. Os 300 mil quilates extraídos representam quase nada em relação aos 158 milhões de quilates produzidos no mundo. Os países que hoje se destacam como produtores são Rússia (38 milhões de quilates), Botswana (31 milhões de quilates), República Democrática do Congo (30 milhões de quilates), Austrália (21 milhões de quilates), África do Sul (14 milhões de quilates) e Canadá (12 milhões de quilates).
O Brasil deixou para trás a pujança dos séculos XVIII e XIX, quando era detentor do título de maior produtor mundial de diamante.
Restam as lembranças de famosos diamantes brasileiros da década de 1950, como o Presidente Vargas (726 quilates), Darcy Vargas (460 quilates) e Presidente Dutra (42 quilates).
A relação dos bens dos integrantes da organização já identificados soma dezenas de milhões de reais. São fazendas, apartamentos de luxo, mansões, salas comerciais, carros importados e pedras preciosas. Na sexta-feira, ao deflagrar a Operação Carbono, a PF apreendeu pelo menos cinco automóveis — entre eles duas Mercedes — e uma grande quantidade de diamantes.
Os bens da organização no Brasil valem uma fortuna, mas nada se compara ao que seus integrantes mantêm em bancos no exterior. De acordo com a PF, só uma das líderes da organização, Vivianne Albertino dos Santos, movimentava US$ 1 bilhão fora do país. O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça, irá solicitar informações a seus parceiros no exterior para acabar de mapear as contas bancárias dos membros da quadrilha. Depois, o Ministério Público pedirá à Justiça que determine o seqüestro do dinheiro depositado nessas contas.
Vivianne foi presa juntamente com uma de suas filhas, Patrícia Santos Pompeu de Saboya, seu genro, Daniel Carneiro, seu primo, Leandro Márcio dos Santos, e seu contador, Mateus Ribeiro da Silva. O diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral em Minas, Luís Eduardo Machado de Castro, também está preso. Até ontem, continuavam foragidos o cabeça da organização, Hassan Ahmad, os doleiros Gaby Amine Toufic Madi e Luiz Carlos França Campelo e o fornecedor de diamantes ilegais Paulo Traven.
A força-tarefa que compõe a Operação Carbono já trabalha em sintonia fina com a Interpol (polícia internacional), com a agência de combate ao narcotráfico dos Estados Unidos (DEA) e com o Ministério Público da Bélgica, país para onde é escoada a maior parte dos diamantes ilegais contrabandeados no Brasil e na África. Em breve, a parceria deve ser estendida a outros órgãos internacionais e países.
ALTO PADRÃO DE VIDA
Os bens pertencentes aos integrantes da quadrilha desbaratada pela Operação Carbono dão a medida exata do padrão de vida classe A que eles levavam. Só os cinco automóveis apreendidos pela Polícia Federal na sexta-feira estão avaliados em pelo menos R$ 600 mil. Entre eles, um jipe Mercedes ML e uma Mercedes C180K do ano, cujos modelos mais baratos custam R$ 320 mil e R$ 180 mil, respectivamente.
Uma das líderes da organização, a empresária Vivianne Albertino Santos, já presa, mora num apartamento de luxo em Belo Horizonte, no Bairro Sion (Região Centro-Sul). Já sua filha Patrícia Santos Pompeu de Saboya e seu genro Daniel Carneiro, também presos, vivem num apartamento no Belvedere (Região Centro-Sul), em frente ao BH Shopping.
Um dos doleiros que operavam para a quadrilha e que se encontra foragido, Luiz Carlos França Campelo, conhecido como Califa, tem uma casa com piscina no Bairro Cidade Jardim. Outro doleiro que operava para o grupo, Gaby Amine Toufic Madi, também foragido, mora no 13º andar de um prédio de alto padrão na Rua Groenlândia, no Sion (Região Centro-Sul). Gaby ainda é dono de uma rede de restaurantes de comida árabe na capital mineira.
Outro alvo da Operação Carbono é uma fazenda de 200 hectares pertencente a Vivianne. O imóvel fica em Itatiauiçu, a 84km de Belo Horizonte. A PF suspeita que a empresária usava a fazenda para lavar dinheiro por meio de criação de gado e de cavalos de raça e com a venda de sêmen animal. O imóvel tem uma bela sede, capela e escritório. Segundo um vaqueiro que trabalha na fazenda, Vivianne costumava passar os fins de semana no local, junto com a filha e o genro presos.
A sala da casa é bastante ampla, com piso em granito. Aconchegantes sofás cercam um piano e a lareira. Todas as janelas são fechadas com grades de ferro e com alarmes. Há câmaras de circuito interno espalhadas por todo lado. No subsolo, fica uma sofisticada academia de ginástica, com vista para o lago, onde são criadas tilápias. Na parte da frente da casa, depois de um gramado muito bem cuidado, fica uma pista de hipismo. Nos fundos, uma grande piscina, ao lado de um canil com dois cães da raça rottweiller. Tudo é bem cuidado.
Na fazenda, há uma equipe que cuida dos cavalos e outra do gado. São 14 cavalos das raças paint horse e mangalarga marchador e 26 cabeças de gado, sendo 18 vacas leiteiras, dois bois e seis bezerros, da raça Girolando. Vivianne não parecia muito preocupada com a produção de leite. Há três meses, ela não compra ração para o gado e a produção diária de leite caiu de 1,3 mil litros para 300l.
As baias, nos fundos da casa, em um local escondido entre uma mata natural e o pomar, são protegidas por um rottweiller, que mesmo dentro de uma jaula de ferro, durante o dia, vive acorrentado. Um veterinário toma conta dos cavalos. Um funcionário informou à PF que o cavalo mais barato custou R$ 5 mil. Ao cumprir o mandato de busca e apreensão na fazenda na sexta-feira, a PF encontrou uma nota fiscal de compra de um animal por R$ 14 mil.
Além de Vivianne, outro integrante da organização que investe em fazendas é Paulo Traven, atravessador de diamantes extraídos ilegalmente no interior de Minas, do Mato Grosso e da reserva dos índios cintas-largas, em Rondônia. Dono das empresas Traven & Rodrigues e SL Mineradora, ele possui fazendas no Mato Grosso.
Hassan Ahmad, o libanês nascido em Serra Leoa que encabeça a quadrilha, foi o mais precavido em relação à fortuna que construiu no mercado ilegal de diamantes. Ele não investia em propriedades nem mantinha altas somas de dinheiro em bancos no Brasil. Apesar de ser um homem milionário, Hassan morava num hotel de Belo Horizonte, o Libery Palace, na Savassi (Região Centro-Sul). A PF suspeita que ele tenha guardado a maior parte de seus recursos em bancos no exterior.
NEGÓCIO MOVIMENTA US$ 6,7 TRILHÕES POR ANO - A indústria ilegal de diamantes movimenta por ano algo em torno de US$ 6,7 trilhões, segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU). É uma fortuna considerável. Atinge mais que o dobro do montante de US$ 3 trilhões gerado em conjunto pelas dez principais máfias do mundo, enraizadas em 23 países, incluindo a dos traficantes de cocaína, que lucram perto de US$ 200 bilhões.Cerca de 4% do total extraído com a exploração clandestina das gemas (US$ 268 bilhões), segundo a Interpol, servem para sustentar conflitos armados. O melhor exemplo é Angola, país africano que produz 80% dos melhores diamantes do mundo. Já são mais de 30 milhões as armas leves em circulação na África, de acordo com o relatório anual de Small Arms Survey, uma organização independente que estuda a difusão das armas leves no mundo e o seu impacto nas sociedades dos países mais pobres.
Cada vez mais, esses canais têm se conectado com traficantes de diamantes latino-americanos. No Brasil, mineradores africanos legalizam suas gemas obtendo certificado de origem e qualidade, como se as pedras tivessem sido garimpadas aqui. Os diamantes, na verdade, vêm de países africanos como Angola, Congo e Serra Leoa, onde as pedras financiam a guerra, que mutila crianças. Os chamados “diamantes de sangue” chegam ao Brasil para serem trocados por outros, que voltam para a África com documentação brasileira. O objetivo final é conseguir o Certificado Kimberley, selo mundial que atesta a origem e qualidade das pedras, possibilitando a comercialização das gemas. Isso porque o mercado internacional encara com desconfiança países africanos, onde o controle das minas de diamante é sinônimo de atrocidade e negócios.
O Brasil também é palco de conflitos internos, que não se assemelham aos da África, mas deixam suas marcas. É o caso da lavra clandestina nas terras indígenas da Reserva Roosevelt, em Rondônia, que levou à morte de 29 índios cinta-larga e garimpeiros, em 2004.
Atualmente, a produção brasileira anual de diamantes corresponde oficialmente a apenas 0,2% da mundial. Os 300 mil quilates extraídos representam quase nada em relação aos 158 milhões de quilates produzidos no mundo. Os países que hoje se destacam como produtores são Rússia (38 milhões de quilates), Botswana (31 milhões de quilates), República Democrática do Congo (30 milhões de quilates), Austrália (21 milhões de quilates), África do Sul (14 milhões de quilates) e Canadá (12 milhões de quilates).
O Brasil deixou para trás a pujança dos séculos XVIII e XIX, quando era detentor do título de maior produtor mundial de diamante.
Restam as lembranças de famosos diamantes brasileiros da década de 1950, como o Presidente Vargas (726 quilates), Darcy Vargas (460 quilates) e Presidente Dutra (42 quilates).
Fonte:
Correio Braziliense
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/318930/visualizar/
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